Se no início foi pioneiro - na música, mas, sobretudo, na localização -, hoje é a fórmula mágica que muitos bares-clubes tentam replicar. "Não sei explicar o sucesso, talvez pela qualidade da música, todos gostam", reflecte Alberto Fonseca, proprietário, "talvez pela equipa que trabalha comigo". Sabe que muitos lhe dizem "A Tendinha é o melhor do Porto" e ele gosta que o digam; mas não gosta de o dizer, de falar. Pode ser coincidência, mas há um antes e um depois da Tendinha dos Clérigos. Antes: uma zona do Porto com comércio, prédios vazios e vazia de gente após as sete da tarde; depois: ruas cheias em constante vaivém nocturno.
No tempo em que a zona dos Clérigos ainda não andava na boca do mundo que sai à noite no Porto, já a Tendinha dos Clérigos passava de boca em boca entre uma certa população noctívaga da cidade: a que gostava de ouvir rock alternativo; a que gostava de ir à Tendinha dos Poveiros. Porque antes da Tendinha dos Clérigos, já havia (há, agora com outro proprietário) a Tendinha dos Poveiros, na Praça dos Poveiros, na altura em que a noite da baixa estava em alta no eixo da Rua de Passos Manuel. Por isso, a abertura da "outra" Tendinha numa zona que passava ao lado da movida da cidade foi quase como um salto de fé que acabou a fidelizar a noite portuense - "toda a gente vem atrás do sucesso", tenta explicar Alberto Fonseca, que no ano passado abriu o La Bohème, duas ruas acima, recentemente adquiriu o Blá Blá (Matosinhos) e é também proprietário do restaurante Tendinha do Padrão.
Corria o ano de 2005 quando abriu a Tendinha dos Clérigos e a Tendinha dos Poveiros era um fenómeno inexplicável que havia começado anos antes: sem qualquer pretensão de design, um espaço exíguo que transbordava literalmente para a rua, para a esplanada. Foi esta exiguidade - "A Tendinha [dos Poveiros] foi sempre pequena" - que impulsionou Alberto Fonseca a procurar outro espaço. "Isto era um deserto, mas foi o único espaço que encontrei que me agradou", recorda Alberto. "Aqui a música pode ''bombar'' toda a noite. Lá [nos Poveiros] tinha sempre a polícia à perna".
Mas foi "lá" que se deu a estranha alquimia que tornou a marca "Tendinha" o sinónimo de "underground" favorito da cidade. Alberto Fonseca dá os créditos a André Spencer - "começou a levar vinis e a passá-los. Vieram muitos estudantes, artistas e as sextas e sábados cresceram" - e a Emília Sousa. Definiram o que se pode chamar de "som Tendinha", que definiu o público - parte do público seguiu o som para os Clérigos: rock alternativo "all the way". No início foi um fenómeno, depois acalmou e agora regressaram as noites brancas.
Numa das mais discretas ruas - a Conde Vizela - uma porta vermelha em parede branca marca o X (bem, agora há também a placa identificativa...). Entra-se e percebe-se que não há truques na manga: o que se vê é o que se tem, o que não se vê não existe. Antes de mais, não existem janelas e a simplicidade decorativa é a regra, nas duas zonas mais ou menos delimitadas, cada qual com o seu bar. Preto e vermelho são as cores-imagem da casa, com o laranja a intrometer-se "para quebrar a monotonia": a paredes são vermelha e preta (pintado a fingir lambril), ou laranja e preto, ou às riscas (vermelho, laranja e branco) e preto. Nas paredes, vinis, guitarras, fotos de músicos - PJ Harvey e Yeah Yeah Yeahs, entre elas - t-shirts - Rolling Stones, Jim Morrison, Janis Joplin. Este foi o "rock de sempre" com o qual Alberto cresceu, o outro é a resposta às novas gerações que querem "coisas mais dançantes".
- Nome
- Tendinha dos Clérigos
- Local
- Porto, Porto, Rua Conde de Vizela, 80
- Telefone
- 933347079
- Horarios
- Terça a Sábado das 01:00 às 06:00
- Website
- http://www.tendinhadosclerigos.com