Fugas - restaurantes e bares

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A Pherrugem da alternativa

Por Andreia Marques Pereira ,

Se tivéssemos que descrever o Pherrugem numa palavra apenas seria, com certeza, "alternativo". Na decoração (sóbria), preços (baixos) e música, sobretudo. Afinal, foi por causa dela que apareceu este bar do Porto, onde a tríade "rock, indie, alternativa" é santo-e-senha.

No início, foi a música. Agora, é a música, mas não só (também os preços baixos e o serviço irrepreensível). Começou por ser "o bar das cortinas" (pesadas, de veludo preto, por onde se entra), agora (prestes a cumprir o segundo aniversário, em Dezembro) já é conhecido por Pherrugem, que tem as cortinas e ainda soalho e traves de madeira; paredes de granito e portas pesadas, de madeira e de ferro, que não dão para lado nenhum; candeeiros de metal amarelado escurecido pelo tempo que não acendem; candeeiros que parecem garrafas gigantes, vidro opaco e luz amarela, e que são antigas fiadeiras.

Mas antes de tudo isso, está a música, dizíamos. A noite, sexta-feira, está a começar, o DJ ainda não chegou, a música é rock/alternativo. O movimento está calmo, o que aqui (espaço pequeno, já lá iremos) significa que há mesa e espaço para conversas - umas horas depois e essa seria uma missão impossível. Renato Martins, um dos proprietários (o outro é Pedro Santos), vai explicando o grande motivo de abertura do Pherrugem: os gostos musicais dos dois sócios. "Para nós não havia nada", diz. Por nada entenda-se "rock, indie e alternativa", com todas as contaminações mútuas possíveis.

Nos primeiros meses, foi esta a santíssima trindade do Pherrugem. Depois, ocorreu que tal ortodoxia talvez pudesse cansar. Chegou a era dos DJ - que dura até hoje ao ritmo de um por noite, sete noites por semana - e com eles a abertura do regime, mas sempre em versão "alternativa": pop e electrónica, punk e derivados, new wave, e até metal, gótica e música portuguesa. As últimas tendências aterram no Pherrugem regularmente e os "oldies" também fazem aparições (Led Zeppelin, Jimi Hendrix, AC/DC...). O que não há aqui é "o comercial muito óbvio" - e há coisas que não são muito usuais, como o house e o hip hop.

A música pode não ser habitual, mas um membro óbvio da tribo hip hop, calças largas, boné de lado, entra algum tempo depois - na cabina já está Slimmy, o mestre de cerimónias da noite ("um filho da casa", diz, que passa música aqui uma vez por mês - sempre com lotação esgotadíssima), e o som é um regresso aos anos 90 (PJ Harvey, Primal Scream, Smashing Pumpkins, Violent Femmes...), que vai evoluir e recuar ao longo da noite.

Confirma as palavras de Renato: o Pherrugem é um local de encontro sem filiação tribal e onde todos são bem-vindos (e bem recebidos). Tanto se encontram góticos "softcore" como betos ou metaleiros; novos e velhos; portugueses e estrangeiros; o pessoal que ia à Ribeira (a filiação com o irredutível O Meu Mercedes é Maior Que o Teu é notória) e o que vai à "nova Ribeira", a Rua Galeria de Paris e adjacentes (circuito onde o Pherrugem vive e cresce). Como resume Slimmy, tanto agrada a gregos como a troianos, que encontram ali um "ambiente acolhedor" e, como é pequeno, todos se vêem e muitos se vão conhecendo.

O Pherrugem é pequeno em espaço, mas grande em atitude, ou não fosse o espírito do rock" n" roll quem mais ordena (aliás, a exiguidade do espaço, menos de 100 metros quadrados, acabou por se revelar providencial: valeu ao Pherrugem o livre-trânsito para fumadores - desde Janeiro o número de fiéis aumentou substancialmente). Por exemplo, na filosofia "do it yourself" que orientou a transformação da antiga loja no bar.

Começou com as "pilhagens" de fábricas abandonadas, a exploração de sótãos e caves familiares, as dádivas de amigos e tudo o mais o que aparecesse. Há a pesada porta de madeira com ar antigo que foi adereço de uma sessão de um fotógrafo vizinho; há as vigas de construção onde se alinham as bebidas; há os lavatórios de pedra gasta que foram os comedouros dos porcos da casa da bisavó. E há o semáforo e as teias de aranha grossas que parecem (e são) adereços esquecidos de uma festa de Halloween, mas que se encaixam naturalmente na decoração do bar. Que é uma manta de retalhos, nas palavras do mentor, e insuspeitamente coerente para quem ali entra e se depara com o granito e a penumbra, resultado de luzes difusas e velas nas mesas. Um grande sofá vermelho corre uma parede e é a mancha mais colorida e o recanto à janela, com os seus sofás e mesas baixas, o "spot" mais apetecível se a intenção for conversar - se for dançar, todos os outros. A música, mais uma vez: "a ideia era que a decoração reflectisse o que o bar iria ser" - zona protegida para música alternativa. 


Jukebox

A jukebox do Pherrugem é claramente alternativa, mas ecléctica q.b. para saciar todos os que gostam de música. Exemplo disso é a presença regular na agenda da casa dos Golden Groove, com a sua mistura de funk, blues, rock e rockabilly, e de várias noites rock"n"roll (com certeza com paragem pelos anos 50 e 60, para onde parece ir a nova onda revivalista). Esta noite, ficamo-nos pelos "eighties", servidos pelo DJ Pimp.


Café vietnamita? Cerveja holandesa?
Quando se fala no menu do Pherrugem tem de se dizer que é alternativo - pela variedade. Começa nos cafés ("simples", capuccino, vietnamita, irish...), nos chocolates quentes (menta, caramelo...) e continua nas cervejas (belgas, alemãs, holandesa, irlandesa, brasileira, espanhola...), nos vinhos (a copo e garrafa), sem esquecer cocktails e "shots". Quando a fome aperta, há tostas, hambúrgueres, cachorros, pregos, cogumelos assados (recheados com queijo e bacon), mini-pizzas - a lista continua.

Nome
Pherrugem
Local
Porto, Porto, Rua das Oliveiras, 83
Telefone
919505696
Horarios
Todos os dias das 21:30 às 04:00
Website
http://www.myspace.com/pherrugembar
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