No início, foi a música. Agora, é a música, mas não só (também os preços baixos e o serviço irrepreensível). Começou por ser "o bar das cortinas" (pesadas, de veludo preto, por onde se entra), agora (prestes a cumprir o segundo aniversário, em Dezembro) já é conhecido por Pherrugem, que tem as cortinas e ainda soalho e traves de madeira; paredes de granito e portas pesadas, de madeira e de ferro, que não dão para lado nenhum; candeeiros de metal amarelado escurecido pelo tempo que não acendem; candeeiros que parecem garrafas gigantes, vidro opaco e luz amarela, e que são antigas fiadeiras.
Mas antes de tudo isso, está a música, dizíamos. A noite, sexta-feira, está a começar, o DJ ainda não chegou, a música é rock/alternativo. O movimento está calmo, o que aqui (espaço pequeno, já lá iremos) significa que há mesa e espaço para conversas - umas horas depois e essa seria uma missão impossível. Renato Martins, um dos proprietários (o outro é Pedro Santos), vai explicando o grande motivo de abertura do Pherrugem: os gostos musicais dos dois sócios. "Para nós não havia nada", diz. Por nada entenda-se "rock, indie e alternativa", com todas as contaminações mútuas possíveis.
Nos primeiros meses, foi esta a santíssima trindade do Pherrugem. Depois, ocorreu que tal ortodoxia talvez pudesse cansar. Chegou a era dos DJ - que dura até hoje ao ritmo de um por noite, sete noites por semana - e com eles a abertura do regime, mas sempre em versão "alternativa": pop e electrónica, punk e derivados, new wave, e até metal, gótica e música portuguesa. As últimas tendências aterram no Pherrugem regularmente e os "oldies" também fazem aparições (Led Zeppelin, Jimi Hendrix, AC/DC...). O que não há aqui é "o comercial muito óbvio" - e há coisas que não são muito usuais, como o house e o hip hop.
A música pode não ser habitual, mas um membro óbvio da tribo hip hop, calças largas, boné de lado, entra algum tempo depois - na cabina já está Slimmy, o mestre de cerimónias da noite ("um filho da casa", diz, que passa música aqui uma vez por mês - sempre com lotação esgotadíssima), e o som é um regresso aos anos 90 (PJ Harvey, Primal Scream, Smashing Pumpkins, Violent Femmes...), que vai evoluir e recuar ao longo da noite.
Confirma as palavras de Renato: o Pherrugem é um local de encontro sem filiação tribal e onde todos são bem-vindos (e bem recebidos). Tanto se encontram góticos "softcore" como betos ou metaleiros; novos e velhos; portugueses e estrangeiros; o pessoal que ia à Ribeira (a filiação com o irredutível O Meu Mercedes é Maior Que o Teu é notória) e o que vai à "nova Ribeira", a Rua Galeria de Paris e adjacentes (circuito onde o Pherrugem vive e cresce). Como resume Slimmy, tanto agrada a gregos como a troianos, que encontram ali um "ambiente acolhedor" e, como é pequeno, todos se vêem e muitos se vão conhecendo.
O Pherrugem é pequeno em espaço, mas grande em atitude, ou não fosse o espírito do rock" n" roll quem mais ordena (aliás, a exiguidade do espaço, menos de 100 metros quadrados, acabou por se revelar providencial: valeu ao Pherrugem o livre-trânsito para fumadores - desde Janeiro o número de fiéis aumentou substancialmente). Por exemplo, na filosofia "do it yourself" que orientou a transformação da antiga loja no bar.
- Nome
- Pherrugem
- Local
- Porto, Porto, Rua das Oliveiras, 83
- Telefone
- 919505696
- Horarios
- Todos os dias das 21:30 às 04:00
- Website
- http://www.myspace.com/pherrugembar