Fugas - restaurantes e bares

Fábio Teixeira

Uma cozinha inteligente, original e saborosa

Por David Lopes Ramos ,

São uns bem-dispostos, os da 2780 Taberna, um restaurante de Oeiras de pouco mais de 20 lugares, que só serve jantares. Também não tem ementa, só um menu de degustação que muda de 15 em 15 dias. O nosso crítico jantou lá um dia destes, comeu bem, divertiu-se, saiu muito bem disposto e com vontade de voltar.
Não se deixem confundir pelo tom brincalhão da gente deste restaurante oeirense 2780 Taberna. O benfiquismo, que a mim me é simpático, o bolo Eusébio, o bacalhau à águia Vitória ou o menu do menino Jesus, entre outros, fazem parte do arsenal humorístico dos da 2780 Taberna, um dos restaurantes mais sérios, mais imaginativos e de cozinha mais inteligente que conheci nos últimos tempos. Também dos que correm mais riscos na oferta culinária devido à ousadia que a caracteriza. Servem uma média de 25 refeições por dia (só jantares). Não vale a pena ir lá sem marcar mesa. Só há um menu de degustação (24,50 euros, sem vinhos, ou 35 euros com eles a copo), ou seja, a escolha é do chefe. Nos primeiros tempos, o menu mudava todas as semanas. Nesta fase vigora durante 15 dias. Por vezes, a oferta surge associada a vinhos de um produtor, mas cada um pode fazer a sua escolha de uma lista que não é extensa, o que se compreende, dada a dimensão exígua das instalações do restaurante, mas cuja selecção é criteriosa e os preços sensatíssimos.

Num magnífico livro que publicaram, na Bertrand, em Outubro de 2009, que tem por título o nome do restaurante encimado pela expressão "cozinha experimental", explicam que "o conceito de Cozinha Experimental da 2780 Taberna inova, fundindo produtos e ingredientes (quase na sua totalidade portugueses) de diferentes regiões para criar novas receitas e novos sabores". "Ao mesmo tempo, através de investigação histórica, pesquisamos receitas antigas para recuperar sabores perdidos. A influência internacional, principalmente catalã e italiana, nota-se na forma de apresentar e confeccionar os pratos e também no serviço descontraído e familiar que oferece aos seus clientes."

Dada a teoria, passemos à prática. Na semana em que jantei da 2780 Taberna, foi assim. Comecemos pelos pães, cozidos na casa e foram focacia, da fininha e estaladiça, de azeite com flor de sal e alecrim; pão irlandês de Guinness, tão escuro como a cerveja e muito saboroso, e um outro, massa a lembrar a do brioche, com chouriço, um trio que satisfaz muito, tanto mais que há manteiga de alho e azeite da variedade Azal para ensopar. Intróito prometedor. Abriu-se a primeira 3 Bagos Branco 2009 (14 euros), dos Lavradores da Feitoria, um vinho modesto, porém equilibrado, de aromas frutados e boca fresca, apetitoso.

E partiu-se para o primeiro prato: "Sopa de rabo de boi, pastel do mesmo e compota de malaguetas", esta servida à parte, pois há paladares mais sensíveis, por isso nunca se sabe. A sopa, um creme fino nada contundente, suave, no qual mergulhava, mas só uma parte, o pastel recheado com as febras desfiadinhas do rabo do boi, massa a lembrar a dos pastéis de massa tenra, aposta ganha. Seguiu-se a "terrina de várias partes do bacalhau com grão de bico", uma fatia bem ligada e gelatinosa, fiel amiga, de samos e línguas, bem cozidinhas, a rodear um bocado de ova do gadídeo, composição servida na companhia de gravanço macio, coisa boa. Insistimos no 3 Bagos Branco, que não se negou e também aceitou, festivo, o excelente "atum com feijão frade". Não se precipitem, que os da 2780 Taberna não são dos que baixam o nível. Nem pensem que se trata de uma salada de feijão-frade com atum de lata. Nada disso. Atum fresco, só marcado na chapa, por isso chorumoso, e o feijão-frade, sendo-o, é uma das formas mais originais e saborosas de o servir: acarajé. Trata-se de um frito muito popular da cozinha afro-brasileira, que, quem já foi à Bahia, já o há-de ter visto a ser cozinhado ao ar livre pelas baianas anafadas e risonhas: massa de feijão-frade, cebola e sal e fritura em azeite de dendê e que é servido com um molho de malagueta. O do restaurante de Oeiras não me parece ser frito em dendê, não é servido com picante, que poderia arruinar o sabor do atum, mas é estaladiço e muito bom.

Antes da sobremesa, e já com o bem bom tinto do Dão Quinta da Fata 2007 (17 euros) no copo, foi-nos apresentado um belíssimo "lombinho de porco à alentejana", com a carne suculenta, rosada, a ser servida com um molho em que se distinguia o sabor das amêijoas que o tinham apaladado. A inspiração é a carne de porco com amêijoas, mas o que nos foi servido é mais requintado e apaladado. Uma pré-sobremesa de iogurte grego e uma compota de um fruto que não identifiquei antecipou uma composição doce de grande originalidade: "Snickers desmanchado, com gelado, doce de leite, brownie e telha de chocolate preto"; domina o chocolate em várias declinações: de leite, com amendoins, branco e preto. Muito bom e muito bem.

O chefe de cozinha, o talentoso Nuno Barros, vem muitas vezes às mesas, desempenhando as funções de empregado. Não lhe caem os parentes na lama e torna mais leve a tarefa da única pessoa - um tipo bem-disposto - encarregada de tal serviço. Ouvi outro dia, da boca de um dos mais famosos chefes de cozinha portugueses, a afirmação de que, em Lisboa e arredores, há cada vez melhores restaurantes. Estou de acordo. E este 2780 Taberna, de Oeiras, faz parte do rol.

Nome
2780 Taberna
Local
Oeiras, Oeiras e São Julião da Barra, Avenida Carlos Silva, 9C
Telefone
210998700
Horarios
Terça a Sábado das 20:00 às 00:00
Website
http://www.2780taberna.com
Preço
26.50€
Cozinha
Autor
Espaço para fumadores
Não
--%>