Fugas - restaurantes e bares

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Bar ou centro cultural?

Por Andreia Marques Pereira ,

O Breyner 85 é um bar hesitante, porque não esquece a sua vocação primeira. Quase um centro cultural, onde cabe, bem no centro, a música, mas também as artes plásticas e performativas. 
De cabeça no ar. É assim que apetece andar quando descobrimos o que está à vista de todos - de todos os que olham para cima. Ali não se vêem as estrelas, mas é fácil percebermos que o Breyner 85 pode ser muita coisa, mas é antes de mais um espaço arquitectónico notável. Poderíamos dizer que nada do que parece é, mas seria uma generalização abusiva. Há madeira que afinal é estuque, estuque que é realmente estuque, papel de parede que afinal é pintura. E se há coisa que realmente o Breyner 85 é, é belíssimo - tem uns tectos belíssimos (alguns diz-se serem da autoria de Aurélia de Sousa) encavalitados em paredes longas, uns admiráveis apainelados de madeira.

 

E é um projecto ambicioso, quase uma utopia artística, em que a música ocupa o centro do palco, mas não quer estar sozinha. O facto de ser também um bar é uma parte menor dessa visão, garantem os mentores, David Fialho e Rui Pina - este espaço que não quer ser noctívago por regra, mas as noites não serão uma excepção: música, copos e tertúlias são os ingredientes do Breyner 85 em modo nocturno.

 

Quem chega ao edifício da Rua do Breyner, número 85, pensa que está a entrar num qualquer livro oitocentista - ali não habitou uma família inglesa, mas poderia ter habitado. Claro que a casa data de 1906, mas se considerarmos que muitos defendem que o século XX só começou verdadeiramente com a I Guerra Mundial, ainda houve uma réstia de esplendor burguês oitocentista vivido naquele imponente edifício de quatro andares e logradouro - um daqueles oásis portuenses escondidos por detrás de severas fachadas -, que até há poucos anos foi sede do ISCET (Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo).

 

Agora será sede de uma academia cultural informal, cuja ideia é caminhar para uma espécie de clube à inglesa, com admissão apenas a sócios. Por enquanto, pelo menos, a porta está aberta a todos - com vantagens, porém, para os sócios. A filosofia é simples: casar o antigo com o moderno - que na área musical corresponde a casar o acústico com o digital e vê-se no tipo de equipamento.

 

Se pensarmos no Breyner 85 como um bar, apenas - o que é claramente redutor -, temos o antigo em baixo, no que chamam a cafetaria, mas que tem atmosfera de salão de chá de outro tempo, e o moderno em cima, no café concerto. Mas, como tudo no Breyner 85, estas não são distinções estanques. Na "cafetaria", o mobiliário "vintage" surge misturado com peças da AKI (e não falta um grande plasma), numa sala com painéis de madeira e paredes verdes, grandes tapetes, balcão de madeira rasgado numa parede; no café concerto (duas salas), as paredes são lilases e o mobiliário mesas baixas e "puffs", o balcão é da mesma cor e há um minimalismo apenas manchado pelos pormenores arquitectónicos e os reposteiros pesados, que fazem as vezes de portas - o palco é uma pequeníssima sala, o equipamento e condições técnicas são impressionantes.

 

No que chamam o "salão nobre", janelas altas viradas para a rua, paredes pintadas e tecto intrincadamente trabalhado, encontramos uma galeria de arte - as telas de Daniel Malanza (as exposições vão suceder-se ao ritmo mensal) cobrem este espaço que respira quase vazio (e cobrem ainda as paredes do átrio do piso superior, grande escadaria encimada por uma clarabóia). E como o Breyner 85 é algo camaleónico, o salão nobre irá também fazer as vezes de estúdio de dança, mas neste início da noite mais parece um pequeno salão de baile, lustre pesado e "cross corner" "bordeaux", entre paredes vermelhas e remates cor de creme.

 

Entramos e saímos das salas, subimos e descemos as escadas num movimento perpétuo de admiração, mas o Breyner 85 é muito mais do que forma. É o conteúdo que faz mexer os mentores do projecto. No início a ideia era fazer um "cluster" de salas de ensaio para músicos. Entretanto, os anos passaram, viram-se muitos espaço e o projecto amadureceu. A palavra a David Fialho: "A vida artística é um ciclo - aprendizagem, ensaios, palco, gravação, edição. Pelo meio há coisas complementares". Porque não juntá-las todas num só espaço? E porque não alargar a outras disciplinas artísticas?

 

O Breyner 85 nasce assim quase um centro de artes, com a música como causa (ou este projecto não tivesse nascido do sonho de músicos que gostariam de ter um bom local para ensaiar) e efeito. Há salas de aulas (e cerca de 12 professores no corpo docente), salas de ensaios, estúdio de gravação - em "stand-by" fica o projecto de um auditório, de um estúdio de dança, ateliers (de pintura e expressão dramática, por exemplo), tudo nas traseiras, por problemas com licenciamentos. Haverá ainda espaço para uma espécie de "showroom" de instrumentos musicais (da Castanheira SOMusica), com condições de aluguer e aquisição a preços especiais, e uma livraria/discoteca temática. E a "cafetaria" é o bar de apoio a tudo isto, durante o dia - abre às 10h00.

 

Na música do Breyner 85 versão espaço público de lazer, vai caber de tudo, de fado a jazz, passando por rock, pop, étnica, funk. Privilegiar-se-ão os concertos, mas os DJ também marcarão presença - certo, certo é que pelo menos haverá música ambiente. Palcos há dois, no café concerto e no exterior - que no Verão terá também esplanada.

 

Por enquanto, o Breyner 85 ainda não está a funcionar em pleno, está na fase dos ensaios. Espera-se a abertura a cem por cento para breve e o cumprimento da promessa de muitos encontros artísticos.

 

Sócio ou não sócio
A diferença está nos preços. Uns para sócios e outros para não sócios (até ao dia em que só for permitida a entrada aos primeiros - mas esse vem longe). Descontos no aluguer de salas de ensaio e estúdio de gravação - se for músico; se não for, há sempre os descontos na cafetaria e na bilheteira. Para ser sócio do Breyner 85, é necessário pagar uma "jóia" de €50 (durante o mês de Janeiro, a inscrição do casal fica por este valor) e uma mensalidade de €10.

 


"Open stage night"

Se à sexta e sábado não vão faltar concertos no Breyner 85, ao domingo não falta originalidade. Em vez de "jam session" haverá "open stage night", onde cada um pode ser estrela da sua própria música. Há uma banda residente com um repertório de 1500 temas e há o artista em potência que pode reservar (com antecedência) um máximo de três temas para cantar, tocar guitarra, bateria... Sempre acompanhado pela banda, o palco será de quem o quiser.
Nome
Breyner 85
Local
Porto, Porto, Rua do Breyner, 85
Telefone
222013172
Horarios
Todos os dias das 10:00 às 02:00
Website
http://www.breyner85.com
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