Fugas - restaurantes e bares

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Um mojito, com os pés na areia

Por Maria João Lopes ,

É um segredo bem guardado no meio das falésias da Galé, no Algarve. Entre rochedos e vegetação, com o mar como horizonte e os pés na areia, surge o Xiringuito: um "sítio espiritual" ao som das ondas e ao sabor de mojitos feitos com o "coração".

Chegar lá não é fácil. Mas vale a pena. Por ser ténue a linha que o divide da praia, por parecer um quadro branco diante do oceano azul, o Xiringuito, na Galé, Albufeira, não é só um bar, mas uma "experiência diferente" para quem gosta da natureza: "É um sítio espiritual, único, com uma magia diferente, onde se fazem as coisas com muito carinho. O nosso mojito é o melhor, porque é feito com amor e carinho", diz Joy Jung, que criou aquele "cantinho" há cinco anos.

Às vezes, aparecem curiosos bem vestidos, de saltos altos. Dirigem-se ao balcão, aborrecidos: têm areia nos sapatos, alguém partiu um salto durante o caminho que é demasiado sinuoso e um pouco escuro. Mas, depois, quando o vêem bem, ao Xiringuito, esquecem a má disposição e abandonam-se nas almofadas, embalados pelo vaivém das ondas e entregues às armadilhas perigosas de caipirinhas e mojitos bem frescos.

O melhor mesmo é ir de sandálias ou chinelos, até porque o lugar, embora elegante, é informal. Ali, tudo é frescura, leveza e praia. Faz parte da experiência sentir a areia nos pés, molhar as mãos quando se agarra os copos gelados. Ir até à praia mergulhar, ao final da tarde. Deitar-se para trás nas almofadas e contemplar as estrelas, se for de noite.

Tem razão quem barafusta contra o trajecto, mas, na realidade, segundo os responsáveis pelo espaço, naquelas falésias não se pode desenhar um caminho mais directo, não é sequer permitido. De qualquer forma, se for feito com atenção e cuidado, o percurso é toda uma etapa que tem que ser vencida, uma espécie de esforço que vai ser recompensado. Talvez essa sensação de se ter chegado a um lugar escondido, inacessível, adense o mistério. "Depois daquele caminho, tem que ser algo que as pessoas digam ''uau'', porque estão a ver coisas que não são deste mundo", diz Joy Jung, de 33 anos.

Apesar de ser o gerente do espaço, não é invulgar vê-la a servir às mesas nas noites quentes do Verão algarvio. Alemã a viver há sete anos em Portugal, Joy Jung passa os dias - faça chuva ou sol, seja Verão ou Inverno - em frente àquele quadro de mar. Vive no exclusivo hotel Vila Joya, situado mesmo atrás do Xiringuito. É a casa dela - é fi lha dos proprietários.

Embora o hotel tenha acesso directo ao bar (os hóspedes não têm que fazer o caminho das arribas) e seja possível, por exemplo, provar no Xiringuito um menu assinado pelo conceituado chef Dieter Koschina - do restaurante do Vila Joya, o único, em Portugal com duas estrelas Michelin -, Joy Jung prefere não associar os dois espaços: "O Xiringuito e o Vila Joya são dois universos diferentes, que não se misturam", diz.

Porquê? Para Joy Jung, o Vila Joya pauta-se pela "qualidade exterior", pela beleza dos quartos, pela sofisticação, pelas estrelas do restaurante. O Xiringuito é "diferente", a medida não é exterior, mas "interior", parte do "coração" e "é mais para a alma". No Vila Joya, o que pesa é a dimensão material, no Xiringuito, é a imaterial.

Ainda que o cenário também conte, o hotel caracteriza-se pelo conforto e pelo requinte. O Xiriguinto é só paisagem e almofadas. E mojitos. E calor, mar. Um espaço feito da matéria que o circunda, mesmo a invisível, metido pela natureza dentro, como se tivesse estado sempre lá.

Joy Jung recorda-se de ser criança e de o Xiringuito já existir. Começou por ser um bar para surfistas, depois foi um restaurante, a seguir um bar na rocha, e há cinco anos que a alemã pegou no espaço e o transformou naquilo que é hoje. O nome foi sempre o mesmo, embora mudando a grafia: ora com "ch", ora com "x". Tanto pode vir do espanhol chiringuito, que significa barraca de apoio na praia, como expressão "charengado", que se usa no Algarve para falar em maçada, incómodo: "Quando era restaurante, a senhora tinha muito peixe para vender e quando não vendia tudo dizia que estava charengada", recorda Joy Jung.

Actualmente, o espaço não tem "o gosto, nem o espírito do velho Algarve; a barraquinha tinha uma alma diferente". Mas, ainda assim, está longe de ser confuso ou muito movimentado. Mesmo com mais visitantes em Agosto, o Xiringuito é calmo e relaxado.

Sem dia fixo para abrir, funciona apenas no Verão. Dependendo do tempo, começa a ser frequentado a partir de Maio/Junho até Setembro/Outubro. Todos os anos, Joy Jung muda a decoração do espaço, que, neste Verão, é de uma brancura que condiz com o mar ao fundo. Panos e almofadas brancos, o chão de madeira branco, garfos e colheres pendurados, conchas a baloiçar nas árvores, pufs e confortáveis sofás e cadeirões. Um telhado de palhota e madeira, branco também, claro. O Xiringuito distingue-se não só pelo bom gosto, como pela originalidade.

"Este ano, quem me ajudou na decoração foi Tom Compton, da Galeria Corte Real, em Paderne, um espaço também único", aconselha Joy Jung, que diz ter herdado da mãe o jeito para a decoração. "Havia a ideia de colocar tinta ao pé das mesas para as pessoas pintarem o que se sujasse, mas não foi para frente", conta, entre risos.

Se, à tarde, é um bom refúgio do sol, à noite, o Xiringuito gan acesas ao longo das rochas da praia. Então, quando há festas da lua cheia, as velas multiplicamse, transformando o areal num enigmático jogo de luz e de sombra. "Fazemos sempre uma festa na lua cheia, tentamos surpreender as pessoas, fazer com que os olhos vejam coisas que nunca viram. Pomos velas na praia toda, há um dj. A festa dura até de madrugada", conta. A próxima - e última deste ano - será na próxima semana, a 22 de Setembro.

Nunca se sabe, porém, se para o ano haverá novamente Xiringuito. Ainda com uma curta vida de cinco anos, o espaço está cada vez mais ameaçado pela erosão das arribas, que vão desaparecendo à medida que o mar avança. Joy Jung admite que a rocha "nunca esteve tão frágil" como agora e que os avanços da água podem pôr em causa a existência do bar. Mas se, em 2011, ele se voltar a abrir para o Atlântico, como aconteceu até agora, não declinamos (mais um) um mojito. Afinal, são feitos com "amor".

Referências

Horário
O Xiringuito é um espaço sem horas; não há um dia fixo para abrir. Normalmente, acontece no Verão, entre Maio e Junho, e funciona todos os dias até Setembro/Outubro. Tudo depende do sol, da lua, do calor, e não necessariamente dos relógios que usamos. De qualquer forma, se se meter a caminho, durante a tarde e a noite, vai, certamente, encontrá-lo a funcionar.

Ementa
No Xiringuito, para além de poder encomendar uma refeição preparada pelo chef Dieter Koschina (do restaurante do hotel Vila Joya, o único, em Portugal, com duas estrelas Michelin), pode provar vários outros pratos leves, como atum com rúcula (6 euros), prato de queijo (13 euros), de carnes frias (13 euros), massa de alho e azeite (11 euros), beringela, rúcula, mozzarella e tomate (8 euros), entre muitas outras sugestões.

(18 Setembro 2010)

Nome
Xiringuito
Local
Albufeira, Albufeira, Praia do Xiringuito - Galé
Website
http://www.xiringuitobeach.com
Observações
Encerrado.
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