A Casa Paixanito era asseada, decorada com gosto, tinha mesas bem aparelhadas, uma carta de vinhos não muito grande mas bem escolhida, serviço gentil, atento e prestável e uma cozinha saborosa e orgulhosa da sua condição algarvia.
O lugar tornou-se merecidamente famoso. Há uns dois anos, a Casa Paixanito fechou, mudou-se para Quadradinhos, paredes meias com Vale do Lobo, passou a chamar-se Paixa e, penso que com orgulho, manteve, na cozinha, a matriz da casa fundadora: petiscos, agora mais de 40, em geral muito saborosos e, na sua grande maioria, muito algarvios.
No resto, melhorou muito: a sala de jantar, que se pode prolongar para o jardim quando o tempo está propício, é muito mais ampla e de um bom gosto notável; as mesas, a boa distância umas das outras, são grandes e muito bem ataviadas, o balcão/bar é dos que convidam a que nos sentemos, a garrafeira climatizada, à entrada do restaurante do lado direito, é do mais moderno que se pode encontrar no nosso país. Só a iluminação artificial é escassa, mas tal parece estar na moda e a mim não me convence. No dia 14 de Setembro, acompanhado, jantei no Paixa. E bem.
Aos almoços, que só não são servidos durante a época alta (15 de Julho a 15 de Setembro), há uma ementa para apetites moderados, embora se possa sempre optar pela grande petisqueira; aos jantares, é esta quem vive.
Começaram por chegar à mesa os tremoços, uma homenagem à memória da taberna do avô Paixanito, mais umas azeitonas temperadas, azeite e pão do bom e uma compota doce. Depois, e a pedido, desfilaram carapaus alimados, só os filetes sem peles nem espinhas, que não teriam desmerecido caso tivessem passado mais algum tempo no sal; os estaladiços torresmos do rissol (unto das tripas do reco); uma lula fresca de bom tamanho recheada e estufada com competência; uns excelentes paté de fígado de pato e terrina do chefe, de confecção própria, nada de enlatados como por vezes acontece; um xerém de berbigão e camarão, bom, embora goste dele mais caldoso e penso que o camarão não acrescenta nada às papas de milho que ficam muito bem com bivalves ou, também, com uns torresmos: umas empadinhas de galinha muito boas, assim como uns pastelinhos de massa tenra com recheio de vitela; um original e muito saboros croquete de rabo de boi, com o recheio amostardado; e uns ovos de codorniz estrelados com linguiça sem mácula. Beberam-se dois brancos algarvios: o muito fresco e frutado Barranco Longo Escolha 2009 e o mais austero Quinta dos Vales 2009, boas relações qualidade/preço.
À sobremesa, uma tarte de figo, um dos emblemas da doçaria regional. Deve anotar-se que, no capítulo da doçaria, o Paixa supera a da Casa Paixanito. Nesta, havia coisas que tinham pouco a ver com o Algarve. No Paixa, além de frutas frescas, gelados e sorvetes, há dons rodrigos, sopa dourada, tarte de alfarroba e toucinho-do-céu e outros de fora da região, como bolo e mousse de chocolate ou tarte de maçã. A carta de vinhos está muito bem, com portugueses de todas as nossas regiões, sem esquecer os Porto, mais uma escolha de espanhóis e de franceses. Serviço atento, simpático, discreto e disponível para explicar os pratos.
A oferta de petiscos é bem maior do que o que se provou. Mais alguns exemplos: atum refogado com tomate; pataniscas de bacalhau; cogumelos salteados; morcela com maçã; dobrada; feijoada; perdiz de escabeche, pimentos assados e marinados, queijo fresco com tomate, queijo curado com azeite, presunto pata negra, paio do lombo, carpaccio de bresaola, peito de pato fumado, orelha de porco de coentrada, rosbife, conserva de beterraba, conserva de favas, espargos verdes com molho de mostarda, salada de bacalhau com grão, ostras cruas...
Aos jantares há ainda um prato de peixe e outro de carne, igualmente pensados para ser partilhados à mesa. Na noite em que lá jantei, o prato de peixe era bacalhau à Brás. As doses são generosas e os preços dos petiscos começam nos dois euros não chegando os mais caros aos 20 euros, como é o caso do paté de fígado ou a terrina do chefe. Pelos dois jantares, que incluíram água e cafés, paguei 117,50 euros. O que, tudo visto, é de grande razoabilidade.
O Algarve, onde o sector da restauração está recheado de equívocos, tem no Paixa um exemplo magnífico de seriedade, bom gosto, serviço de alto nível e comida saborosa.
- Nome
- Paixa
- Local
- Loulé, Almancil, Quadradinhos, Lote 52
- Telefone
- 289394699
- Horarios
- Segunda a Sábado das 12:00 às 23:30
Todos os dias das 19:00 às 00:30
- Website
- http://www.paixarestaurante.com
- Preço
- 30€
- Cozinha
- Petiscos
- Espaço para fumadores
- Não