Fugas - restaurantes e bares

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Olha a graça do café que a Graça tem

Por Luís J. Santos ,

Não é novidade nenhuma mas, curiosamente, continua a ser um segredo só partilhado por alguns. Com a bênção da graciosa Senhora do Monte - que, já de si, abençoa uma (senão "a" mais) bela panorâmica de Lisboa -, demos um salto à Graça e sentimo-nos entre Paris e Buenos Aires.

"Quando nasceu, já era antigo!", atira Fernanda Reis que, com o marido, se dedica ao seu Café do Monte, um poiso ideal para estes dias em arrefecimento (quase) contínuo: salão acolhedor, tudo pintado em tons vermelhos e escuros quentinhos e com iluminação a meia-luz acolhedora, mesas e cadeiras clássicas, com um balcão de bar imponente e longamente sólido e decorado a posters, cartazes de cinema e outros detalhes das artes, fotos de Lisboa e mais uma miríade de marcas que o tempo vai deixando. Espreita-se pelas janelas, passa-se a porta e desconfia-se que o sítio ou é realmente antigo, porém preservado, ou nasceu a partir de qualquer outro local que antes ali estaria. Mas não. É mesmo novinho e a patine adquirida é mesmo e apenas das vivências da última meia dúzia de anos (abriu em Dezembro de 2006). É um recente-naturalmente-vintage ou, lá está, como dizia Fernanda, "quando nasceu, já era antigo".

A sua matriz clássica resulta dos gostos e vidas dos seus donos (e também de amigos mais experientes nestas coisas dos bares, mas já lá subimos) e não é em vão que há um travozinho a atmosferas cafezistas de Buenos Aires ou aos velhos e tertulianos cafés e bistrôs de Paris (e, portanto, aos clássicos de Lisboa). Como não é em vão que mantém, também, a sua atmosfera de café de bairro, próximo, familiar, simpático - é que, se ao primeiro olhar, começar a pensar que é coisa mesmo destinada ao turista, engana-se: parece que os turistas dão outras voltas e não passam por aí além por aquela rua, apesar de ser uma das vias directas à beleza absoluta do Miradouro da Senhora do Monte (espaço até religioso, já que acolhe uma muito bem cuidada e venerada imagem da Senhora), portal para uma apaixonante panorâmica alfacinha (dica: vá um bocadinho antes do pôr do sol e leve o/a seu/sua mais que tudo...).

Com a Senhora do Monte lá mais para cima, por aqui sentamo-nos sob a bênção de outro deus, neste caso da música: são os olhos de Tom Waits que nos fitam (é só um cartaz, mas chega-nos), por acaso até uma voz que de vez em quando integra a banda sonora ambiente, sempre em moldes chill out (e ecléctica, mas que procura ser selectiva). Mais ali, James Dean mantém-se rebelde e além são as estrelas de Almodóvar que não cessam de Volver. Há uns sinais da eterna Paris, espelhos clássicos a ampliarem o espaço, pormenores de decoração vindos das andanças dos donos, de antiquários ou, claro, mesmo da vizinha Feira da Ladra.

O espaço do café foi encontrado, se não em ruína, para lá caminhando - estava fechado há muitos anos. Quis o acaso que Fernanda e o marido, Eurico, encontrassem a casa e a ela se dedicassem. Longe de ideias de bares ou cafés (embora Fernanda, já lá vão uns bons anos, tivesse ganho muita experiência na matéria quando trabalhou uns anos no bar Mezcal do Bairro Alto), queriam na verdade abrir uma mercearia biológica - amigos mais experientes aconselharam um café acolhedor e hélas!, nasceu o Café do Monte. Estes amigos haveriam ainda de ajudar no desenvolvimento do projecto e, na verdade, têm que se lhes diga: por um lado, Fernanda viveu alguns anos em Paris (cá está) com uma amiga que deu uma ajuda na concepção; por outro, esses amigos, Tuxa e Sebastião, são os responsáveis pelo (quase poderíamos dizer "primo") Café Buenos Aires (cá está), casa de ambiência e bifes argentinos nas Escadinhas do Duque lisboetas.

Com tantas amizades envolvidas, só poderia sair um espaço de confluências amigáveis. E o toque parisiense (e da chamada Paris da América do Sul, lá está) sente-se no estar (e na ementa). Essencialmente, é-nos proporcionado um café intemporal que, na verdade, embora abra cedinho, só não serve para prolongar a noite (fecha pelas 22h30 - inerências da vida de bairro, que há que fazer boa vizinhança sem incómodos nocturnos) mas tem outras grandes vantagens: propõe ementa de petiscos variados (incluindo as substanciais sandes quentes francesas croque-monsieurs), é ideal para um descanso em passeios com os mais pequenos (há joguinhos, livros para eles) e está aberto ao domingo (marque já mas é um brunch para o próximo...).

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Monte de comidas
Daqui ninguém sai com fome: há saladas (de cogumelos, chévre chaud, etc.), tábuas de queijos, mistas ou de fumeiros, entre muitos outros petiscos, casos de cogumelos salteados com camarão, pincho de tortilha (batata e cebola), empadas e pastelitos. Para adoçar, sai um bolo de chocolate à maneira ou tarte tatin, uma especialidade francesa. E da tendência francesa chega também uma estrela da ementa, o croque-monsieur (sanduíche quente com fiambre e queijo) - também há outras variações croques: croque madame, de camarão ou minhoto. Nas bebidas, há cocktails à descrição e vinhos a copo (há também um vinho do mês sempre à prova).

Tempo dos mais novos
Em quantos cafés conseguirá encontrar-se tanto jogo e puzzle para os mais pequenos (e, vá lá, para diversão de alguns graúdos) ou uma bela colecção de livros Uma Aventura? Decerto, muito poucos. Logo, por aqui uma coisa é garantida: leve os miúdos e vai ver que, por fim, eles não se vão aborrecer num café e até vão gostar... montes! Os jogos podem também fazer as delícias de gente com mais idade. Quem resiste a um joguinho Os Palhaços da Majora, ao dominó da Turma da Mónica ou mesmo a um jogo da memória Kinder? Os mais pequenos têm tudo a agradecer à filha do casal proprietário, que iniciou a moda esquecendo-se por ali de um jogo ou um livrinho. Por ali, há mais jogos de cartas ou livros pequeninos de coelhinhos e outros bichinhos.

Há noite na Graça?
Pela Graça, ao contrário de outras vizinhanças, a noite é curta. Mas se quiser passar mais tempo por aqui sugerimos o regressado e renovado Botequim (Largo da Graça, 79), marcado pela figura de Natália Correia mas com novos e dinâmicos proprietários (e petiscos e eventos culturais vários). Pertinho, a clássica esplanada da Graça (no miradouro homónimo, vá bem agasalhado/a) ou , mais abaixo e já na área da Feira da Ladra, a Clara Clara (Jardim de Botto Machado ) - depois, pode avançar para as Portas do Sol (esplanada homónima ou Cerca Moura). Para continuar pela noite fora, e já com muita e variada proposta noctívaga, é seguir para o Castelo ou descer a Alfama. 

Nome
Café do Monte
Local
Lisboa, Graça, R. de São Gens, 1 (ao Miradouro da Srª do Monte à Graça)
Telefone
916307653
Horarios
Terça a Domingo das 10:30 às 22:30
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