Fugas - restaurantes e bares

Miguel Manso

Um ambiente muito lá de casa

Por Fortunato da Câmara ,

Entrar no restaurante A Casa da Emília é visitar os amigos que não se têm no Ribatejo. Aqui a mesa é regional e traz o melhor das tradições locais a uma casa de ambiente familiar, que não hesita em receber os clientes como se fossem visitas.

O que é um restaurante recomendável? A equação que tenta resolver esta pergunta tem tantas variáveis que o resultado final se transmuta em função da expectativa pessoal de quem o procura. Parece uma pergunta de algibeira mas é menos linear do que álgebra.

O preço é cada vez mais um vector a ter em conta nas contas. Depois há a decoração apelativa do espaço, a transformação do que é linear em receitas "desconstruídas", a busca incessante pelo primado das técnicas modernas ou apenas a procura das matrizes da cozinha tradicional. Todas estas hipóteses podem ser mais-valias vectoriais em relação à questão central. O que faz um restaurante ser bom?

Mesmo que a resposta tenha escolha múltipla, é fácil intuir que um bom acolhimento predispõe desde logo o nosso espírito. Se a isso juntarmos o bom sabor dos produtos em pratos simples que nos restauram e um ambiente familiar onde a conversa flui de forma edificante, o mais certo é sentirmo-nos em casa, apesar de estarmos num restaurante. É o que podemos encontrar numa rua do centro de Alpiarça se formos a este A Casa da Emília, um local que tem tanto de discreto como de óbvio.

Por fora é uma casa ribatejana de traça típica. Um portão de acesso ao pátio interior, a porta principal e uma janela definem a pitoresca fachada. O lado óbvio é que, apesar da discrição exterior, o nome descreve com fidelidade este restaurante que é a extensão da casa dos proprietários. Ao entrarmos na sala aconchegante a sensação é de estarmos de visita a alguém próximo. A lareira marca logo um lugar privilegiado junto às mesas, aprumadas com toalhas e guardanapos de pano. O mobiliário clássico de madeira trabalhada, como o louceiro de um dos recantos, e alguns apontamentos de artesanato em faiança dão-lhe um toque de casa de família.

A lista alinha pelo mesmo registo caseiro, com um repertório não muito extenso mas incisivo em pratos típicos da região. Pode haver filetes de sardinha, sopa de arroz com feijoca e carapaus fritos, ou sável na época própria, mas também costeletas de borrego panadas ou pato escondido. As sugestões vão variando, apesar de haver alguns pratos emblemáticos que reflectem hábitos da população local, como o guisado de borrego que era servido como pequeno-almoço dos dias de casamento ou a galinha assada das casas burguesas. Os detalhes sociológicos e culinários de cada especialidade são explicados com amabilidade pelo proprietário. Um anfitrião dedicado e que enaltece com regozijo justificável a Casa Museu José Relvas - legado do político que participou na Implantação da República em 1910 ao município alpiarcense - com uma colecção de arte que merece visita atenta.

O serviço é, aliás, uma memória impressiva que fica da refeição, pelo afecto e gentileza demonstrados e o detalhe colocado em pormenores como o napperon bordado que tapa o jarrinho da água. O lado negativo é o facto de a carta de vinhos estar tão depauperada que é quase inexistente (crise oblige?...). A ênfase vai para alguns rótulos de um produtor local e pouco mais. A temperatura de serviço de um tinto estava acertada, pena é que os copos não fossem adequados à função.

Nome
A Casa da Emília
Local
Alpiarça, Alpiarça, R. Manuel Nunes Ferreira, 101
Telefone
243556316
Horarios
Terça a Domingo das 12:30 às 15:30 e das 19:30 às 23:30
Preço
20€
Cozinha
Trad. Portuguesa
Espaço para fumadores
Não
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