Fugas - restaurantes e bares

Miguel Manso

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Um ambiente muito lá de casa

Cozinha caseira robusta

Com base nas úteis informações prestadas, optou-se por escolher pratos que têm feito o nome desta casa desde que abriu portas, em 1998. Assim, as entradas foram uns "ovos mexidos com espargos bravos" (6,60 euros), no limite do envolvimento sem começarem a secar, e com a humidade a dar alguma suculência aos delgados turiões selvagens. A "farinheira" (4,65 euros), de calibre fino e frita a preceito, surgiu enxuta e saborosa. O "paio de porco preto" (6,60 euros) anunciado com pergaminhos ficou aquém da expectativa para algo que prometia uma incursão ao montado alentejano. Apesar da qualidade notória, as fatias estavam um pouco secas. A agradável surpresa foram os "pastéis de massa tenra", que podem vir com arroz de ervilhas (11,15 euros) ou à unidade (2,25 euros). No interior, uma generosa mistura de carne delicada e apetitosa, mas sem a consistência de papa, envolta numa massa perfeita, inflada quanto baste, sem arremedos de muito ar e quase nada a rechear, como por vezes se encontra.

Da tradição gastronómica local provou-se o "borrego guisado à moda de Alpiarça" (11,40 euros), de confecção lenta, a soltar-se dos ossos, com tempero singelo e sabiamente comedido, o que deixou a qualidade da carne evidenciar-se. No "lombinho assado no forno" (10,50 euros) veio o corte completo da peça, temperada com massa de pimentão e assada lentamente. O puré de batata que a acompanhava ainda se valorizou mais graças ao precioso molho do assado. Caseira e de paladar genuíno era a "galinha corada com arroz de forno" (11,40 euros), com as febras a soltarem-se dos pedaços da vigorosa ave, suculenta e assada com destreza, que eram acompanhados por arroz seco no forno com rodelas crocantes de chouriço. Guarnição característica desta e de outras localidades vizinhas.

As sobremesas dividiram-se entre umas tradicionais "farófias" (3 euros), levemente consistentes, e com canela a salpicar o cremoso molho de gemas. Do receituário regional veio o "mimo de Alpiarça" (3,55 euros), um bolo aparentado com um toucinho-do-céu, feito com açúcar em ponto, ovos e amêndoa pelada e moída, ligeiramente enqueijado mas pouco doce, o que resultou num maior equilíbrio entre os ingredientes. Uma opção mais rústica, mas igualmente acertada, foi a dos "marmelos cozidos" (3,55 euros), com o fruto a ser cozinhado com casca, cortado em pedacinhos e depois mergulhado numa deliciosa calda aromática.

Uma nota para os indefectíveis do café expresso: por aqui é servido o de máquina feito com um lote de qualidade, mas sem a habitual espuma. No fim pode haver um licorzinho de poejo para auxiliar a digestão durante uma recomendável visita à Casa Museu da vila.

Os tempos não estão fáceis na área da restauração, sobretudo fora das grandes cidades, onde se sente um "desvio colossal" da clientela de outros tempos. É preciso tentar navegar como se pode no meio do vendaval de impostos que tem abalado a relação que sempre houve entre os portugueses e os restaurantes. Talvez por isso haja uma tendência para desinvestir nalguns aspectos do negócio e por vezes se deixe o desânimo fazer caminho. Neste caso concreto, espero que não seja esse o motivo que torna evidente a necessidade de rever e melhorar a parte dos vinhos. A robusta cozinha caseira que aqui se propõe, com os seus sabores e temperos tão marcados, merece esse esforço.

Nome
A Casa da Emília
Local
Alpiarça, Alpiarça, R. Manuel Nunes Ferreira, 101
Telefone
243556316
Horarios
Terça a Domingo das 12:30 às 15:30 e das 19:30 às 23:30
Preço
20€
Cozinha
Trad. Portuguesa
Espaço para fumadores
Não
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