Como contraponto, surgiram nos últimos tempos novos e bem apetrechados restaurantes nas urbanizações - essencialmente de veraneio - que têm desbravado o pinhal e os campos de cultivo que se estendiam do outro lado da estrada marginal que liga a Ofir. Entre esse novos espaços de restauração merece destaque a casa Salgueira, um espaço moderno e acolhedor, onde reinam os peixes e mariscos frescos e uma segura cozinha de base tradicional.
O espaço destaca-se, desde logo, pela singularidade. Encostado ao pinhal e numa das últimas perpendiculares à duna, trata-se de um edifício exclusivamente destinado ao restaurante, que aparenta ser apenas mais uma das modernas moradias da urbanização. Um cubo escuro de traça marcadamente contemporânea e revestido por blocos de xisto. No interior, organizado em dois níveis, o espaço é amplo, confortável e inundado pela luz natural. Mobiliário elegante, de tons claros, estilo nórdico, baixela adequada à função e mesas aparelhadas com toalhas e guardanapos de algodão branco.
O critério arquitectónico e decorativo estende-se também ao estilizado aquário redondo onde estagiam alguns crustáceos, à espera de serem encaminhados para a cozinha, bem como à elegante vitrina com os pescados do dia. Exibia, entre outros, um valente robalo (aí para uns quatro quilos), que mais adiante haveríamos de, em parte, convocar para a mesa.
Cestinho com fatias de pão de mistura e uns pãezinhos brancos, a par de fatias de presunto, queijinhos de vaca e uns pequeninos rissóis de carne, foi colocado sobre a mesa enquanto se analisavam as ofertas. Abriram-se as hostilidades com uma sapateira (800g) recheada com molho de maionese (16€). Fresca e bem preparada, mas com a maionese a denotar demasiado a passagem pelo frio.
Acompanhou com tostinhas de pão confeccionadas, que souberam muito bem. Seguiramse as amêijoas à Bolhão Pato (15€), igualmente frescas e bem cozinhadas notando-se a contribuição do alho, funcho e coentro num conjunto apetecível.
A convocatória seguinte trouxe um arroz de tamboril (25€), daqueles que chegam à mesa ainda a borbulhar no tacho e em quantidade avantajada. Cremoso, apaladado com tomate pimento e um toque de malagueta, coentro e funcho. Nacos de peixe generosos e camarões, tudo muito bem integrado e no ponto correcto de cozedura. Saboroso e bem feito.
Pescado à linha e ainda a cheirar a mar, o robalo de que acima falávamos foi pela metade (parte da cabeça) assado no forno (1,5kg/44€). Pimento, cebola, batatinhas e um fio de azeite. Tudo sem exageros e sem perturbar os perfumes, sucos e o toque fresco e aveludado do peixe que se agarrava ao palato. Acompanhou com tiras de feijão verde cozido, num conjunto a rondar a perfeição.
A lista do dia oferecia ainda, no capítulo das entradas, três sopas (1,5€ cada), gambas na caçarola (45€/kg), alheira com legumes (3,5€) e chouriço com migas (3€). Nos mariscos, além da sapateira, havia navalheiras, lavagante, camarão tigre grelhado, gambas (cozidas ou grelhadas), camarão da costa e percebes, com preços a variar entre 20 e 65 euros o quilo. Para além dos peixes expostos e dos assados na grelha, a lista propõe também arroz de gambas com lagosta (30€), açorda de marisco (30€) massa de robalo (40€/kg), bacalhau na brasa (18€) ou à lagareiro (16€), filetes de pescada (16€), cabeça de pescada cozida (12€) e polvo no forno (25€). Há ainda um capítulo de carnes com bifes, bifanas, costeletas, picanha e não de boi, com os preços a variarem entre 11 e 22 euros.
Além das instalações muito acima da média, o Salgueira destaca-se da concorrência vizinha pela qualidade da cozinha, que, além de correcta, é também versátil e diversificada. O serviço é solícito e dedicado e a carta e vinhos, sem ser exaustiva, permite algumas opções sensatas, sobretudo nos verdes. Foi o caso do Muros Antigos, Loureiro, 2010, que funcionou na perfeição com os mariscos iniciais.
Em jeito de conclusão, será necessário dizer que mais que recomendável, este é um espaço que merece ainda o nosso apoio e aplauso. Por um lado, pelo espaço cuidado e elegante, por outro, pelo esforço financeiro que é exigido para funcionar em concorrência com os improvisados espaços vizinhos.
Uma concorrência absolutamente desleal e para cuja ilegalidade poucos parecem ter olhos. Embora não seja aconselhável misturar a política nos cozinhados, a questão parece, desta vez, inevitável. É que em vez de demolidos como tantas vezes tem sido anunciado, os restaurantes abarracados clandestinamente instalados na zona de protecção ambiental, parecem antes proliferar sem que o poder político se mostre capaz para fazer aplicar as regras.
E nem a temida e, por vezes, tão zelosa ASAE consta que por aqui tenha andado. Se bem que ainda há dias fez saber que foi até às serranias de Vilar de Perdizes para pôr ordem na popular feira de mezinhas e bruxarias que anualmente ali decorre.
- Nome
- Restaurante Salgueira
- Local
- Esposende, Apúlia, Lugar de Cedovem - Zona dos Mudos
- Telefone
- 253982538
- Preço
- 25€
- Cozinha
- Peixe e Marisco