Fugas - restaurantes e bares

  • Fernando Veludo/Nfactos
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Um 'Cheers' à portuguesa na Invicta

Por Andreia Marques Pereira ,

Dizem os irredutíveis que é quase como uma extensão de casa e que, por isso também, o nome é a melhor tradução do que este bar é. Entramos no círculo de Amigos SA para sentir a informalidade desta espécie de família, sempre de braços abertos à espera de mais membros.

É "aquele bar", onde todos sabem o seu nome e estão sempre contentes que venha. É um bar de amigos e isso está claro no nome, Amigos SA - e, para clarificar, SA não é "sociedade anónima", tão-pouco "sociedade alcoólica", como alguém já aventou (ou melhor, por vezes até é, brinca João Cunha, um dos responsáveis do bar), SA é "sempre aqui". 

Amigos Sempre Aqui, portanto, um nome que é todo um conteúdo programático e uma espécie de homenagem a todos os amigos e familiares que emprestaram dinheiro para que João e a mãe, Teresa Cunha (que foi por ele desafiada a participar, embora não frequentasse a noite, sublinha) pudessem ficar com o bar em Miragaia que, pese a curta vida, já tem pergaminhos. Ou não fosse este Amigos SA o sucessor do Púcaros, bar carismático da cidade do Porto pela sua intensa actividade cultural - as suas noites de poesia eram um autêntico happening, juntando declamadores amadores e, por vezes, actores e, por vezes ainda, os próprios poetas. Depois de 15 anos de portas abertas, a morte do seu proprietário (e alma do projecto), Carlos Pinto, ditou o fecho do Púcaros. João Cunha tinha regressado de trabalhar em Espanha quando soube. Era cliente e amigo de Carlos Pinto. Nunca tinha pensado em ter um bar, esta foi uma oportunidade que "surgiu", "infelizmente pela morte de Carlos Pinto", conta João. "Mandei-me de cabeça." Com a mãe, Teresa Cunha, tomou conta do bar, que só não mantém o nome Púcaros por pedido da família do antigo proprietário. 

Assim, quatro meses depois do encerramento do Púcaros, abriu o Amigos SA, em Fevereiro deste ano. Quem entrar no espaço não vai encontrar muitas alterações. "Mantém-se praticamente igual", confirma Teresa Cunha. "Em 99 por cento é o mesmo. Acho o bar lindíssimo", justifica. Mantêm-se portanto as paredes de granito, os arcos como divisória, as mesas de madeira seguidas, as cadeiras e sofás de madeira e cabedal corridos contra as paredes, a iluminação ténue que sai de candeeiros que são tochas estilizadas (no balcão há lanternas de aspecto oriental) e que emprestam um ar antigo ao espaço eminentemente rústico. Há livros no balcão e em colunas à espera de serem folheados e há gente, os amigos, que se repetem várias noites por semana, alguns herdados do Púcaros - "muitos mais", avalia João, conquistados entretanto.

A noite ainda está a começar, Rui Veloso sai das colunas e um carro estaciona como pode defronte da esplanada vermelha, que se abriga sob as arcadas de Miragaia, mesmo em frente (mas um nível abaixo) à Alfândega do Porto - uma placa dourada, discreta, assinala o local. São três clientes habituais, beijos distribuídos e encómios a saírem disparados. "É o melhor bar da cidade do Porto", e quem o diz é Rui Carvalho, cliente antigo e "amigo do Carlos" - esta não é uma questão de somenos. "Uma das coisas de que mais gosto é do espírito do que era o Púcaros e do que era o Carlos não se ter perdido. Tem o mesmo ambiente de descontracção e de proximidade, que não se encontra em mais lado nenhum." E há ainda, na lista das "imensas coisas" de que gosta, outra que merece destaque: o nome, "que é o que traduz melhor o que o espaço é". "Deixa de ser um bar para ser como uma extensão de casa."

Não foi um truque, nem sequer uma opção declarada, o facto de o Amigos SA ser uma continuação do antigo projecto do Púcaros. Pode ser visto como a evolução natural de todo o processo, a mesma que, contudo, ditou o final das emblemáticas noites de poesia, pelo menos na sua versão regular de anteriormente, com noite marcada religiosamente todas as semanas. Essas noites eram mesmo para continuar - "para manter a identidade, o Púcaros estava muito conotado com elas", reconhece Teresa Cunha - e aconteceram durante alguns meses. "Essas e as de comédia", conta João (a comédia era outros dos pontos fortes do Púcaros). Agora, diz, "já não", porque "não tem sido apropriado". Têm o que Teresa chama de "momentos" de poesia, como a que acontecerá em breve com a apresentação da nova pintura de Carlos Lameiro (que ficará em exposição no bar), que será acompanhada de leituras por João Carlos Moutinho; e a comédia voltará esporadicamente com Zé Pedro, um habitué da casa.

Sim, a poesia e a comédia perderam lugar cativo e se para muitos esse pode ser um pecado original, outros encontram na actual programação regular motivos de sobra para se manterem fiéis a estes "amigos". Actualmente há encontros de couchsurfers (têm dez por cento de desconto) aos domingos e terças-feiras, improvisos acústicos aos domingos ("improvisos mesmo, informais e acústicos"), caipinights à quinta-feira, noites de magia às quintas e sábados, noite do talento às quartas (quem quiser, tem aqui um palco para demonstrar o seu talento, seja ele qual for - ainda ninguém o fez), karaoke às sextas e música ao vivo ao sábado (já houve também tarot e quirologia, agora há um acordo com uma quiróloga: os clientes do Amigos SA levantam aqui um vale que lhes dá 50 por cento de desconto nas sessões) - porém, a programação não é constante, pelo que convém consultar o Facebook para saber quando há eventos. 

Em algumas destas noites, quando a animação implica a contratação de alguém, há consumo mínimo de três euros; nas outras noites o consumo é obrigatório. O que nunca tem obrigatoriedade aqui é a música que passa. Pode ir de Ojos de Brujo a Led Zeppelin ou Creedence Clearwater Revival. Ou até "o que os clientes pedem", diz Teresa. "Às vezes", corrige João. Porque isto até é uma espécie de Cheers, mas "à maneira "tuga"".

 
Música ao vivo
Não é todos os sábados, mas quase: ao sétimo dia há música ao vivo no Amigos SA. Não há artistas da casa, mas há uns mais habituais do que outros. A saber: a Shelby Blues Band, o seu vocalista, Bino Ribeiro, que por vezes se apresenta a solo ou com outro músico da banda e que é talvez o que mais se aproxima de músico residente, Susana Silva (ex-Ídolos), Paulo Kamako, 30&três Markise Band, Armando Montoya e Oficinarte.

Sumos naturais e 
petits gâteaux
Não faltam opções no menu do Amigos SA. As sugestões de Teresa Cunha passam pelos sumos e batidos naturais de fruta, "descascada e preparada no momento", que podem vir em combinações de laranja e uva (sumo) ou aloé e maçã (batidos), por exemplo. As caipirinhas e derivados são acompanhadas por sumos naturais, as bebidas brancas podem-no ser e o chá de limão, canela e mel é afamado. Para "picar" há cachorros (normal e vegetariano), hambúrgueres, tostas (em pão de centeio: queijo, tomate e orégãos, chourição e queijo, mista), crepes doces... Dependendo do dia (o menu varia), o café ou capuccino pode ser acompanhado de um petit gâteau e a cerveja vem sempre com salgados.Uma casa de família, se atentarmos nas palavras de Daniel, o ilusionista de serviço nesta (e noutras) noite de quinta-feira. "Os clientes aqui são como uma família. Unida e sempre à espera de mais membros." E, como que para quebrar o gelo dos neófitos, Daniel ensaia logo ali, com o isqueiro que encontra sobre a mesa, um truque de ilusionismo. Um ensaio para o que vai acontecer dali a nada, já no interior, que se foi compondo de gente em pouco tempo: Distância Nula, que é o mesmo que dizer magia de proximidade, aquela que se faz em cada mesa e mesmo assim não revela os seus truques.

Nome
Amigos SA
Local
Porto, Miragaia, Rua de Miragaia, 55, r/c
Telefone
936608902
Horarios
Terça a Domingo das 21:00 às 02:00
Website
http://www.facebook.com/pages/Bar-Amigos-SA/187516444615710
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