Quando se espreita a casa d' A Vizinha, pode até desconfiar-se que ela ali está desde sempre, atenta à continuada passagem, a centímetros, do centenário Ascensor da Bica. Ou então que já era mais ou menos assim mas que alguém entretanto a modernizou aqui e ali, tendo em conta a evolução noctívaga deste bairro sobe-e-desce do centro alfacinha. Num cadeirão, a uma das velhas mesas, com um petisquinho de favas com chouriço à frente, um copo de vinho tinto da casa, levanta-se o olho à "decoração" - que junta Nestum a Cerelac, cafés instantâneos a conservas, açúcares e azeites. Escuta-se a conversa da vizinhança - "atão menina, onde deixaste a tua mãe?". Sorri-se para o aquário. Ponderam-se as limpas e tratadas manchas do tempo numa parede. Endireita-se o penteado no grande espelho de parede. Pisca-se o olho a um quadro com duas presumíveis vizinhas desenhadas. E conclui-se: de facto, isto já devia ser tudo assim. Ledo engano.
Esta velha nova mercearia-bar (café, neotaberna, enfim...) tem pouco mais de seis meses e o espaço antes era, na verdade, morada de uma peixaria. "A senhora queria deixar o negócio, ia-me dizendo que eu é que podia fazer aqui qualquer coisa", conta Jorge Bragada, um dos sócios do espaço, profissional de caracterização e, mais importante, vizinho da senhora peixeira. Jorge já tinha ali perto a sua loja Face Off. Ponderou e convidou para sócia a também vizinha Lígia Pereira, pintora e DJ, que também já se dedicou à rádio, fotografia ou cinema. Juntaram as suas artes e, fazendo questão de criar um espaço "pouco convencional", mas que "fosse aberto aos moradores, que servisse o bairro", inauguraram A Vizinha.
Depois de arranjado e tratado cada centímetro desta sala de estar, procuraram mobiliário em segunda mão, aqui e ali, trataram-no e reinventaram-no. Uma das paredes é o pomo da mercearia, com estantes onde se arrumam, muito direitinhos, os mais comuns dos produtos: aqueles que fazem sempre falta à última da hora.
O balcão de serviço impõe-se no espaço e, entre meia dúzia de mesas e cadeirões, espalham-se os fregueses. Ainda se vê um ou outro intrigado com as mercearias, como que questionando-se se "são decoração ou mesmo para vender". "É tudo para vender. E, claro, também para usar na parte de bar", explica Lígia. "Tanto chega uma vizinha que precisa de umas cebolinhas como um cliente para beber um copo e ouvir uma música." A escolha musical é cuidada (ou não tivesse Lígia no currículo a palavra DJ) mas a banda sonora também pode ser apenas alguma rádio mais selecta.
O ambiente d' A Vizinha é abertamente amigável e familiar, sem lugar a grandes pretensões. Enquanto Jorge e Lígia nos contam a história do seu projecto, a casa vai enchendo. Sem problemas: uma amiga-vizinha aproxima-se e oferece-se para servir as bebidas à freguesia. Este sinal de amizade é também o que vai marcando o dia-a-dia da casa. "Os amigos vão chegando, um propõe uns concertos ao sábado à tarde, outro sugere que incluamos na ementa alguma iguaria. É assim...", explicam.
- Nome
- A Vizinha
- Local
- Lisboa, São Paulo, Rua da Bica de Duarte Belo, 14
- Telefone
- 919903132
- Horarios
- Segunda a Sábado das 11:00 às 00:00
- Website
- http://www.facebook.com/pages/A-Vizinha/130234990391719