Fugas - restaurantes e bares

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Que mal fizeram as maçãs reinetas aos restaurantes deste país para se recusarem obstinadamente a assá-las?

Por Miguel Esteves Cardoso ,

Um dos maiores mistérios da restauração portuguesa é a dificuldade de encontrar, entre os variadíssimos doces e bolos que se oferecem, a deliciosíssima sobremesa que é a maçã assada.

Depois de muito matutar, pude fazer uma lista das principais razões que explicam a raridade desta iguaria:

1) As maçãs (reinetas e outras) são caríssimas e difíceis de encontrar, ao contrário das papaias indonésias e das mangas peruanas.

2) É difícil e moroso assar maçãs. Requer uma receita complicada e dispendiosa (envolvendo especiarias exóticas como a canela e genuíno açúcar de cana) e há pouco pessoal especializado capaz de dar conta de uma tão monumental tarefa.

3) As maçãs assadas têm a desvantagem de só saberem bem acabadinhas de fazer. Podem pôr-se no frigorífico mas só duram meia hora. Caso se descobrisse uma variedade de maçã que se pudesse assar e deixar uma semana inteira ao relento sem apodrecer (o que só acontece com todas as maçãs que crescem neste planeta) seria outro galo a cantar.

Quando eu era novo (saltem este parágrafo caso não suportem estes estonteantes saltos cronológicos), todos os restaurantes tinham maçãs assadas. Assavam uma cabazada delas uma vez por semana e iam para o balcão fazer vista. As maçãs assadas, sabe-se lá por que alquimias, melhoram com a passagem do tempo. As envelhecidas são mais saborosas do que as recém-assadas. Assim, perguntava-se “Estas maçãs foram assadas hoje?” e, caso a resposta fosse positiva, contra-atacava-se logo: “Então não quero, obrigado. Prefiro esperar.”

As maçãs assadas, aliás, eram tão baratas e fáceis de fazer e guardar que havia a expressão “restaurante de maçã assada” para designar os estabelecimentos preguiçosos em que havia escabeches e torresmos e outros víveres que o tempo tem dificuldade em destruir.

Hoje, quando aparece um restaurante que tenha maçãs assadas — a preços que chegam a atingir os 2 euros por maçã, aviso já — segreda-se entre amigos. Mas como é Natal e é tempo de maçãs reinetas vou indicar duas casas que de vez em quando fazem.

A melhor área para a maçã reineta no concelho de Sintra é em Fontanelas. Para espreitá-las ponha “Maçã Reineta de Fontanelas” no Google e vá parar à entrada de 15 de Outubro do indispensável blogue de Pedro Macieira, Rio das Maçãs. Por alguma razão são tantas maçãs!

Muitas maçãs reinetas são vizinhas de videiras de chão de areia. As mais famosas são as das castas Ramisco e Malvasia, que são usadas para fazer os maravilhosos vinhos de Colares, tinto e branco respectivamente. Recomenda-se a leitura de um artigo de Pedro Garcias na Fugas de 2 de Agosto de 2014: ponha “Colares e Darwin” no Google.

Ir comer uma maçã assada ao restaurante O Zé em Fontanelas é como ir beber um copo de Colares à famosa Rua do Chão Verde, onde se podem espreitar as heróicas hortas onde as videiras e as macieiras sobrevivem.

O Zé é um restaurante muito bom e bem disposto onde toda a gente é amiga de toda a gente e recebem visitas como se também fossem amigas.

Os preços também são de amigo. Foi durante mais de 30 anos o restaurante aonde ia o escritor Vergílio Ferreira, que tinha casa em Fontanelas e escreveu coisas bonitas sobre o sossego e a bondade daquela terra. Tem lá um cantinho em memória dele.

Nome
O Zé
Local
Sintra, São João das Lampas, Avenida Nossa Senhora da Esperança, 190
Telefone
219292209
Horarios
Todos os dias das 12:00 às 00:00
Preço
10€
Cozinha
Trad. Portuguesa
Espaço para fumadores
Sim
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