Fugas - restaurantes e bares

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W, um bar com pergaminho

Por Andreia Marques Pereira ,

Um W que tudo deve a Wilson, figura de proa da noite da Invicta. Há conforto para noites de tertúlia, num ambiente que casa o clássico com o contemporâneo. E esplanada para viver o Verão, talvez com uma caipirinha de cerveja na mão para refrescar.

Há linhagens que se cruzam neste bar e que é inevitável referir, uma vez que contribuem, cada uma à sua maneira, para o seu carácter. Há a filiação por osmose da localização - a Rua de Cândido dos Reis, com a sua característica distintiva em relação aos vizinhos da Baixa portuense noctívaga, de que é membro de pleno direito (e com pergaminhos, sublinhe-se): vive-se mais dentro de portas do que nas calçadas; e há a filiação familiar, que se revela no nome, W - e que, diga-se em abono da verdade, encaixa perfeitamente na (não) coincidência geográfica: "W" é sinónimo de Wilson, que é sinónimo de noite na Baixa do Porto mesmo antes de a Baixa do Porto sair à noite.

Do Black Coffee, o ovni que aterrou ao lado da Câmara do Porto há uns bons anos (acabou por encerrar, mas sobrevive o sonho de o ressuscitar um dia), ao Downtown Lounge, passando pelo W, restaurante versão tasca-sofisticada, Wilson transformou as suas paixões (a noite, o Porto, a Baixa, não necessariamente por esta ordem), num grupo empresarial - W de seu nome, pois claro. Aqui, onde a letra se plasma nas paredes das duas salas e se ilumina noite fora, há outros dois sócios, o filho e Bianca Barros, que nos guia pelo espaço que abriu a 6 de Abril e que este mês estreia a sua esplanada.

Porque o W quer estar na rua, mas com regras. Aposta em trabalhar "para dentro", com uma clientela mais velha, ou, pelo menos, mais exigente, que quer algum conforto no entorno. "Daí nós termos sofás e cadeiras confortáveis, para usufruir, estar com amigos e família a ouvir música", justifica Bianca Barros. "Perdemos espaço com as mesas e sofás, e sabemos que há pessoas que gostam de estar em pé, mas também queremos puxar outro público", nota. Há lugar para todos e observamo-lo sentados: a cadeira e a mesa onde nos instalamos no rés-do-chão são intrusas (o seu lugar será na esplanada), verga e bambu em estilo colonial vindo das Filipinas.

Pode ser um atrevimento dizê-lo, mas as cores ocres que predominam no espaço integralmente recuperado parecem teimar em evocar essa atmosfera colonial. Que ajuda a compor o eclectismo decorativo, uma mistura entre o clássico com o contemporâneo claramente ostentada na parede onde os interstícios de três espelhos de molduras devidamente envelhecidas são preenchidos com relógios redondos de perfil moderno.

Não se pode ficar indiferente ao armário de bebidas, na parede oposta, um alinhamento de nichos quadrados com portas de vidro, dentro do balcão de madeira com tampo de mármore: "Veio de um bar de "senhores"", explica Bianca, "e cada um tinha o seu compartimento, como se fosse um cacifo, onde guardava a sua garrafa"; os candeeiros e o vaso tamanho XL em fibra de vidro branco ("Gotas") não passam despercebidos; a cabina de DJ é inesperada na sua casca de bar antigo caseiro com embutidos de vidro verde-garrafa; e a jarra com o enorme ramo de flores em cima do balcão é uma marca bem pessoal de Wilson.

No outra sala, um segundo andar traseiro (e vista para outra rua servida por fachada transparente), mais marcas pessoais nas cabeças de buda que decoram o balcão e o armário do bar (aqui, um aparador de madeira e mármore) e nas fotografias a preto e branco que preenchem as paredes com temáticas de jazz e soul ou até o célebre Beijo do Hotel de Ville de Robert Doisneau. Aqui, o ambiente é quase o de um salão: sofás, poltronas, mesas baixas, paleta de cores feita de pretos, cinzas e brancos - e elementos claramente dissonantes no recanto de mobiliário de fibra de vidro branca.

Não se fuma na sala superior - e por um motivo bem prosaico: para não arriscar a integridade dos sofás, que no piso inferior já foi comprometida por um fumador menos previdente. Bianca insiste, por isso, no desejo de terem um público que "saiba estar, rir, divertir-se, dançar num espaço", em oposição aos "estudantes que buscam bebidas baratas" (também por eles, o consumo aqui é obrigatório). Não que as bebidas sejam caras, salvaguarda - por exemplo, o fino, a 1,5 euros, está ao nível das redondezas; mas aqui a especialidade até é a caipirinha de cerveja. "É fresca e não há concorrência." Fresca, fresca será a carta de cocktails, a idealizar ainda: pequena, com cinco ou seis bebidas, que vão variar ao sabor das estações (Verão e Inverno).

E ao sabor das horas vive-se este W, que não quer ser monótono. Cada sala tem a sua televisão, "para jogos de futebol", o wi-fi é um convite aos computadores e aos estudos; durante o dia, o acompanhamento sonoro é de chill out, à noite chega o funk, a soul e o deep house; omnipresentes, as grandes jarras de sangria no balcão, servida em copo ou flûte, "para quem quer menos"; subterrâneas, as tostas e "outras coisas simples" que acompanham chás ou caipirinhas, meias de leite ou champanhe. Quer ser "um espaço descontraído para todos". E, a cada um, o seu W. 

Nome
W
Local
Porto, Vitória, Rua de Cândido dos Reis, 116
Telefone
933282837
Website
http://www.facebook.com/pages/Grupo-W/339399032787716
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