Fugas - restaurantes e bares

Fernando Veludo/Nfactos

Cozinha farta e de grande rotação

Por José Augusto Moreira ,

Nem só de peixes se alimenta A Grade. Haja vagar para a escolha e a digestão que a satisfação parece garantida. O menu e a carta de vinhos avantajados, a par da qualidade dos produtos e do apuro culinário, dão o mote a este restaurante.

Por entre as centenas de restaurantes que povoam as ruas que se alongam a partir da área do porto e da lota de Leixões, haverá que referir que nem todos praticam uma oferta centrada apenas nas variedades piscícolas.

E porque não é assim tão alargada esta espécie de variação de temática, há que saudar aqueles que ousam ir além da oferta marinheira dominante. É entre estes que está o restaurante Grade, casa ao estilo tradicional e que desde há cerca de quatro décadas acolhe uma clientela diversificada, daquela para quem o conceito de boa restauração tem que rimar sempre com mesa farta.

Instalado nos arruamentos mais remotos em relação à frente marítima de Leça da Palmeira, já nas imediações do parque de exposições Exponor, a casa ocupa o piso térreo de um prédio de esquina, do que resulta um espaço duplo, com ampla frente envidraçada e a receber a luz natural mas com conveniente revestimento a impedir a troca de olhares com os transeuntes. Antecâmara de recepção, através da qual é necessário vencer dois ou três degraus para aceder à sala principal, onde se sentam confortável e espaçadamente umas seis dezenas de comensais. Idêntico é o segundo espaço, apenas mais reduzido e, eventualmente, mais recatado.

A decoração é simples, mas de estilo amodernado e elegante, predominando as cores leves e claras. Mesas aparelhadas com toalhas e guardanapos em algodão branco. Pela extensão da carta, logo dá para ver que a coisa é seria e a escolha vasta. Um menu com cerca de 40 pratos, tendo-nos sido depois explicado que ainda não há muito tempo havia mais de 60 propostas ao diário. Com a evolução de pais para filhos, a gerência tem apostado nalguma racionalização e aprimoramento da oferta, mas, como sabiamente aconselha o povo, o caminho faz-se caminhando e há que evitar sobressaltos. Mais a mais quando as coisas correm bem para o negócio.

Para além dos aperitivos quentes e das sopas (do dia, canja de galinha e creme de mariscos), a oferta divide-se por vários capítulos: "Para começar", onde entram mariscos frescos, enchidos e presunto; "A tradição", com peixes e mariscos cozinhados; "Os bifes" em oito versos; "Porco Ibérico", consoante as partes da peça do reco; "Os nossos assados", de cabrito, vitela ou lombo de porco; "Os bacalhaus", em cinco diferentes preparações; "Os nossos peixes", segundo a oferta diária da lota; e "As carnes", onde se incluem os rojões à minhota, posta mirandesa e quejandos.

Só nestes dois últimos capítulos contabilizamos perto de trinta propostas, com os preços (para doses bem generosas) a oscilar entre os dez e os 15 euros. Excepção para o polvo (à lagareiro ou em filetes), que dispara para os 25,5 euros por dose. Também no que respeita aos peixes, a garoupa, rodovalho da costa e a cataplana ou massada de peixes, o preço é marcado ao quilo.

Como está bom de ver, a escolha não é nada fácil e será claramente bem-vindo o tal esforço de racionalização. Anote-se ainda, pela positiva, que nalguns casos há indicação sobre a forma como são obtidas as peças e o método de elaboração.

Igualmente farta é a carta de vinhos, organizada por regiões, com indicação do ano de colheita e, em casos específicos, até com a curiosa inclusão das notas de prova do crítico João Paulo Martins. As propostas são abrangentes, oferecendo bons vinhos a preços sensatos, sendo evidente a preocupação com a presença dos vinhos mais badalados (e mais caros) do mercado. Embora não entrando na lista, foi-nos mostrado, já depois da refeição, um armário climatizado repleto com alguns dos vinhos mais prestigiados (e mais caros) do mundo vinícola. Châteaux bordaleses como Pétrus, Romanée-Conti, Margaux ou Mouton-Rothschild, com valores que facilmente atingem os milhares de euros. Há também um conjunto de garrafas de Barca Velha, de várias colheitas, e alguns dos mais raros e valiosos Porto dos últimos tempos. Tudo a demonstrar o gosto, e cultura gastronómica, da nova geração de proprietários do restaurante, gente já com formação específica na área da gestão hoteleira.

Neste contexto, e nestas coisas há sempre um mas..., nota-se na carta a ausência de vinhos para além das regiões dos Verdes, Douro, Dão e Alentejo. Da Bairrada, por exemplo, onde começam a aparecer vinhos com excelente aptidão gastronómica.

Não terá sido propriamente para conseguir "devorar" o menu em toda a sua extensão, mas foi em dois tempos que aconteceu a visita ao restaurante. Numa primeira ocasião, ao jantar de segunda-feira, provaram-se uns filetes de tamboril (15,50€), lulas no tacho (15,50€) e o arroz de pato à antiga (11,75€). Postas altas, de boa textura e em criterioso ponto de fritura, os primeiros, que acompanhavam com uma salada russa que se preteriu em favor de umas mais leves folhas de alface e rodelas de tomate. Igualmente saborosas e bem cozinhadas as lulas. Pequeninas, salteadas em azeite, com alho, louro e uma batatinha-bebé, e um golpe de vinagre tinto final a reforçar os sabores. Correcto e saboroso também o arroz de pato, mas já um tanto seco e a denunciar ter estado no auge para a hora de almoço.

Com um intervalo de mais de duas semanas, na segunda visita provaram-se amêijoas à Bulhão Pato (14,20€), de excelente qualidade e muito bem cozinhadas e temperadas. Com o mesmo cuidado culinário os filetes de pescada com molho de camarão (13€) que se seguiram. Molho com abundância de camarão (espalmado e de tamanho médio) a envolver-se com o polme e rodelas de batata frita que completavam o conjunto. Para o sector cárnico, optou-se por uns escalopes de vitela grelhados, que confirmaram as mais evidentes virtudes da cozinha deste restaurante: a qualidade dos produtos e o apuro no cuidado culinário.

Num estilo de cozinha farta e de grande rotação, este é um daqueles lugares de onde muito dificilmente se pode sair defraudado. Haja vagar para a escolha e a digestão que a satisfação parece garantida. E ainda por cima a preços que, no dias que correm, se podem ter por comedidos.

Uma nota final para referir que a evolução da casa aponta para um refinamento da cozinha, com uma carta mais curta e aprimorada. Tal passa pela abertura de um espaço complementar dedicado aos grelhados - A Grade da Brasa - que começará a funcionar já no início de Julho, de frente para o mar, na zona da Boa Nova.

Nome
A Grade
Local
Matosinhos, Leça da Palmeira, Rua Brito e Pais, 217
Telefone
0
Horarios
Todos os dias das 12:30 às 15:00 e das 19:30 às 22:00
Cozinha
Trad. Portuguesa
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