Mas até é a primeira vez que ali se ouve música francesa e bistrot é comparação feita pelos clientes. Feliz, nota João Carvalho: "No fundo, o conceito é o mesmo, mas nunca o tínhamos conseguido definir assim". Para ele, e para os dois sócios, Inês Coutinho e Miguel Borges, o Duas de Letra é um café-bar, onde se podem comer petiscos regionais "a preço justo". Se quisesse usar a terminologia da moda, João diria que este é um local para se tomar brunch durante todo o dia: "oferecemos pequenos-almoços "almoçarados" e lanches "ajantarados"". É o conceito base deste local que se estreou há três semanas, dois andares em frente ao Jardim de São Lázaro, e onde o dia prevalece sobre a noite.
Por isso entramos ao final da tarde e é quase hora de fecho - às 20h, excepto sextas e sábados (e vésperas de feriado) quando se estica pela noite até às 02h. Há uma bicicleta à porta e, mais tarde, outra lá dentro. Falhámos o autocolante na porta que lhes garante porto seguro: "bike friendly". É a do João que está lá fora, lá dentro veremos a de Talita Cayolla, designer e inquilina do último andar deste Duas de Letra. Chega com a filha, bebé, ao espaço que também é amigo dos miúdos. Não faltam pistas: o móvel à entrada tem livros e jogos tradicionais. Mas há também jornais e revistas e os legos, que estão em todas as mesas, não têm idade.
João explica como a filha Carolina, de oito anos, foi uma pequena musa inspiradora do "Duas" (é assim que se lhe referem). "Foi a pensar nela que certas coisas foram idealizadas." Certas coisas como uma programação infantil que se corporizará em Julho, com workshops de cerâmica e costura, e que pretender tornar-se um hábito.
O "Duas" tem uma aura muito pessoal. Ou não fosse este o sítio onde os donos gostariam de ir se não fosse deles. É a cara deles, está claro; é o suor deles: durante seis meses aqui trabalharam, fizeram todos os acabamentos no projecto arquitectónico do amigo Bernardo Amaral.
O resultado é um espaço com estórias e memórias - colectivas, como as cadeiras da sala da frente vindas do café Bom Dia; e pessoais, como os candeeiros na sala superior traseira que Inês trouxe da Índia, ou o móvel da TV dos avós do João que está na sala polivalente (à procura de parcerias que a dinamizem), as peças de casas de amigos e família, as plantas ou ainda as portas que Miguel transformou em balcão.
Tudo nas cores que resumem a paleta visual do Porto tradicional: o creme de ovo, o branco e o óxido de ferro. Inês sublinha que este é ainda um work in progress: o "jardim de Inverno", por exemplo, ainda é um nome pomposo para a marquise, brinca. Até os candeeiros de cartão, design da dupla Mo.ca, que nos recebem na primeira sala como um skyline invertido (a linha chama-se Manhattan), parece que sempre ali estiveram.
Claro que não. Chegaram quando os amigos decidiram "criar três postos de trabalho" - João com o curso de História, Inês licenciada na Faculdade das Belas Artes e Miguel, o único com experiência em hotelaria, estavam sem emprego. Abriram o Duas de Letra naquela que foi "a primeira frente noctívaga portuense desde que a Ribeira começou a tomar caminhos mais turísticos", no eixo da Praça dos Poveiros, na "encosta" oposta aos Clérigos. O que pode ser uma mais-valia, consideram, até porque a noite não é o seu negócio.
- Nome
- Duas de Letra
- Local
- Porto, Santo Ildefonso, Passeio de São Lázaro, 48
- Telefone
- 914207585
- Horarios
- Terça a Quinta das 10:00 às 20:00
Sexta e Sábado das 10:00 às 02:00
- Website
- http://www.duasdeletra.pt
