Fugas - restaurantes e bares

  • Chef Pedro França
    Chef Pedro França Nelson Garrido
  • Nelson Garrido
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  • Nelson Garrido

Um novo motivo de encanto para a histórica Ribeira

Por José Augusto Moreira ,

Cozinha elaborada, de inspiração tradicional e com toques requintados. Em ambiente elegante e convidativo, o restaurante do novo hotel Carris proporciona também uma visita aos alicerces da estrutura romana e medieval das construções da zona histórica do Porto.

Entre vários outros encantos, a Ribeira portuense tem essa especial particularidade de nos fazer recuar no tempo, levando-nos até à Idade Média em cada esquina, em cada viela. É neste enquadramento de há oito séculos que se acede ao Forno Velho, o restaurante do Hotel Carris Porto Ribeira que, embora sendo parte integrante da unidade hoteleira, tem também funcionamento e acesso autónomos.

Agrupando um conjunto de velhos edifícios em cujo interior se mantêm exemplarmente preservadas as marcas da estrutura romana e medieval das construções, o hotel é uma espécie de museu vivo que, só por si, já vale a pena visitar. É numa das construções do interior do quarteirão que está instalado o restaurante, um espaço com vetustas arcadas interiores de granito e até vestígios da estrutura da torre medieval que ali existiu e que os historiadores encontraram já mencionada num documento de 1376.

Diga-se que as obras para instalação do hotel foram antecedidas por um estudo histórico e todos os trabalhos de construção e restauro acompanhados por uma equipa de arqueólogos. Tudo isto impondo o arrastar dos trabalhos e complexas soluções arquitectónicas, mas de resultado exemplar.

Se querem um conselho, digo-lhes que o melhor é entrar para o restaurante pela Rua de São João (que desce para a Praça da Ribeira) e depois à saída percorrer o interior do hotel, podendo até reservar o café ou o digestivo para o bar da entrada, já voltado para a Rua do Infante. O Forno Velho está na viela do mesmo nome, um arruamento que fica agora no interior dos edifícios que compõem o hotel e ao qual se acede através de um alto portão em ferro que dá para a Rua de São João. Salão de tectos altos, suportados pelas tais arcadas de granito, ambiente moderno, simples e elegante.

A cozinha aberta para a sala parece querer suscitar a memória dos restaurantes da tradição. Uma ideia logo reforçada num rápido olhar pela lista, com pratos que remetem para a cozinha tradicional e popular. A confecção é, no entanto, em obediência ao rigor e técnicas da modernidade, tal como a apresentação.

Entre entradas, peixes, arrozes, carnes e grelhados (com o bacalhau e os peixes do dia), são quase três dezenas de propostas, para além de uma proposta de pastas, outra vegetariana e um sempre muito útil menu infantil (12 euros).

Entrou-se, então, por uma cavala de escabeche sobre tostas de centeio (5,50 euros), competente e saborosa. Muito boas também as fatias de presunto de Barrancos, uma das peças da trilogia de sabores da nossa terra (13,50 euros), que incluía ainda o queijo serra e a bola de Lamego, que não honraram a companhia. E o mesmo se diga do escalope de foie (18 euros), anódino e sensaborão e a desmerecer do brioche frito em azeite, puré de maçã e excelente compota de figos pretos que lhe faziam guarnição.

Massada de tamboril com camarão (13,50 euros) a exibir rigor culinário e apuro de sabores. Tudo no ponto certo, do aroma às cozeduras, passando pelo leve picante das malaguetas, pimento e tomate do caldo de base. Perfeito no casamento com o Quinta de Gomariz Loureiro 2011 (13 euros), um verde que marca presença pela força aromática e personalidade talhada para o mundo dos peixes.

Muito bem conseguida também a interpretação sobre o popular arroz de frango (13 euros). Arroz gordo e de grão solto a envolver-se com ervilhas, cubinhos de cenoura e aroma de trufa. Sabores, cores e cheiros que despertam memórias e aguçam o apetite, a mostrar que o requinte culinário nem sempre exige produtos raros e técnicas complicadas e pode muito bem rimar com as coisas simples e populares.

A mesma evocação dos ambientes campesinos com as migas da Lousã que acompanharam as plumas de porco preto (12,50 euros). Pão migado, grelos e feijão fradinho com delicioso sabor da ruralidade e a deixar a ideia que poderia ainda refinar-se com a envolvência de uns pinguinhos suplementares de bom azeite. Bebeu-se, nesta última fase, o interessante Vinha Paz 2010, um tinto com a força e elegância do Dão e aromas que evocam os ambientes de pinhal e ervas frescas. O tal requinte das coisas simples e naturais.

A competência e versatilidade da cozinha foram ainda comprovadas com a tarde de maçã com creme e espuma de vinho do Porto (4,50 euros) e a torta de Azeitão (5,50 euros), acolitada com um saboroso gelado de canela e frutos silvestres.

Para lá do apuro e rigor no trato culinário, é de realçar o apego ao receituário tradicional, aqui e ali mesclado com pratos e produtos de concepção mais contemporânea. Uma opção que parece ser a aposta pessoal de Pedro França, um cozinheiro com um currículo onde ostenta a passagem pelos fogões do Porto Novo, no Porto Sheraton, e do Vidago Palace.

Aos méritos da carta, o Forno Velho tem também o aliciante de um menu diário, mais simples e a preço convidativo (12 euros). Inclui entrada/sopa, sobremesa e a opção entre dois pratos, que no dia da visita da Fugas constavam de feijoada de lulas e camarões ou costelinhas com arroz e legumes. Numa anterior visita tínhamos já provado um guloso arroz de grelos com panadinhos de sardinha. Bom e igualmente muito popular.

Com uma cozinha elaborada e com toques requintados, preços sensatos e ambiente elegante e convidativo, este Forno Velho bem pode somar-se ao já vasto conjunto de encantos da histórica Ribeira.

Nome
Forno Velho
Local
Porto, Cedofeita, Rua do Infante D.Henrique, 1
Telefone
220965786
Website
http://www.carrishoteles.com/pt/
Cozinha
Trad. Portuguesa
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