Fugas - restaurantes e bares

  • Nuno Ferreira Santos
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Alpes, chocolate e fondue de queijo. A Suíça numa esquina de Lisboa

Por Alexandra Prado Coelho ,

A decoração vem directamente dos anos 70, a lareira crepita na televisão, a comida é suíça e o vinho português. Bem-vindos ao Edelweiss, a nova casa de Marc e Sindi. Já tinham levado a Heidi para o Bairro Alto, agora levam a Suíça para o Príncipe Real.

Se passar pela esquina da Rua de São Marçal com a Eduardo Coelho, em Lisboa, e vir um suíço à porta a informá-lo que, sim, é por ali o caminho para a Rua da Academia das Ciências e para a Rua do Século, fique a saber que se trata de Marc, e que é, na verdade, um "falso suíço" (é ele quem o diz), mas que conhece bem Lisboa. Por isso, pode confiar nas indicações dele. Ou, em alternativa, pode entrar no Bistro Edelweiss e experimentar uma fondue de queijo suíço com schwarzwälderkirschwasser, que é como quem diz aguardente de cerejas da Floresta Negra.

Marc descobriu esta esquina há cerca de dois anos e percebeu logo que era o sítio ideal para o restaurante que ele e Sindi (este sim, um suíço verdadeiro) queriam abrir. Depois foram dois anos de obras para preparar tudo com calma, e há três meses abriram as portas. "Fui eu que fiz as obras todas", conta. Com formação em arquitectura, Marc, que nasceu no Canadá mas emigrou para a Suíça, gosta desta parte - trabalhar o espaço, escolher as mobílias, decorar.

Um dia, quando viu que funcionários da Câmara Municipal estavam a substituir a placa que naquela esquina indica a direcção do Príncipe Real, perguntou se podia ficar com a antiga. Assim, quem entrar no ambiente acolhedor - todo em madeira, papel de parede anos 70, cadeiras brancas com formas a lembrar naves espaciais do tempo em que o ano 2000 era o futuro longínquo, uma televisão também vintage a transmitir a imagem de uma lareira, e no ar música francesa dos anos 40 - vai ver a velha seta enferrujada a indicar Príncipe Real.

A esquina cria sempre confusões, conta Marc, divertido. Todos os guias de Lisboa indicam que se deve virar ali e apanhar a Rua da Academia das Ciências. É então que os turistas param, confusos, a ler o nome Eduardo Coelho (esta rua leva à Academia das Ciências, por isso os guias estão certos) e que Marc pode aparecer a indicar-lhes o caminho.

Mas isto é só uma pequena história da vida de Marc e Sindi no bairro. O que interessa realmente é saber como chegaram aqui - e, sobretudo, o que cozinham. Vamos por partes, e adiamos por agora a cozinha. Os dois queriam ter um bar e sabiam que na Suíça isso significava um investimento financeiro que não estavam em condições de fazer. Começaram por Nice, onde estiveram sete anos, mas não gostaram particularmente da experiência. Vieram, então, parar a Portugal, mais exactamente ao Bairro Alto, onde há três anos e meio abriram um bar, o Heidi.

"O Heidi existiu mais ou menos dez mil horas", diz Marc, numa contabilidade de relógio suíço. Mas em três anos o Bairro Alto mudou muito - "muita concorrência quase desleal com as litrosas nas ruas; a Rua da Barroca, onde estávamos, mudou muito e hoje tem quase só miúdos". O bar fechou a 6 de Janeiro porque agora querem dedicar-se exclusivamente ao Edelweiss. Sindi, que estudou na Escola de Hotelaria na Suíça e trabalhou em vários hotéis no seu país, assegura a cozinha e Marc ocupa-se da sala.

São, na verdade, duas salas. Uma ao nível da entrada, com a única mesa que dá para sentar um grupo maior, e outra à qual se acede descendo três degraus, com várias mesas. Têm mais ou menos 20 lugares sentados, e querem manter as coisas neste ritmo calmo. Por isso, um conselho: depois de lerem este artigo não vão todos a correr para o Edelweiss, é melhor esperar algumas semanas, porque o bistro não está preparado para enchentes. "Aqui é slow food", sublinham os donos.

Falemos então da comida. A fondue de queijo (25 euros, duas pessoas) é clássico e incontornável - pão, ou batatas, mergulhados numa fondue feita com vários queijos suíços e um "ingrediente secreto" que é um queijo português. Tem tido também muito sucesso um prato que, provavelmente, desperta alguma nostalgia aos portugueses: língua de vitela (que aqui é acompanhada por molho de alcaparra e puré). "Há muitos portugueses que vem aqui para comer a língua, e voltam para repetir".

A lista vai mudando, por isso os pratos aqui citados são apenas indicativos (pode-se consultar os menus na página de Facebook do restaurante). Quando passámos pelo Edelweiss as propostas eram, por exemplo, para entradas, Scharzwälder Schinken (presunto da Floresta Negra) com cornichons e cebolinha; creme de couve-flor; Gerstensuppe Suvretta (com carne seca de montanha). E para pratos principais Suure Mocke (carne de bovino assada em molho de vinagre e nata) com puré ou Spätzli (massa fresca suíça); Bratwurst mit Zwiebelsauce e Rösti (salsicha alemã com molho de cebola e tortilla de batatas), ou Salmão estufado em molho de vermute e laranja. Para sobremesa têm, entre outras coisas, chocolate suíço.

Para beber há cerveja alemã e vinho português, da região de Lisboa, até porque uma garrafa de vinho suíço importado ficaria tão cara que "não teria sentido".

A ementa actual tem pratos mais de Inverno, explica Sindi, e a do Verão adaptar-se-á mais à estação, com muitas saladas e carnes frias. A vantagem da Suíça, dizem, é que tem uma cozinha de influência alemã, mas também tem a de influência francesa, e a de influência italiana. "As pessoas olham para a Suíça hoje e pensam que é um país muito rico, mas é, na verdade, um país muito antigo e que, como Portugal, sempre foi de camponeses", diz Marc. "Por isso há muito na cozinha suíça o porco, as batatas e o queijo".

E peixe, num país sem mar? "Temos sobretudo os peixes de rio". Daí o prato de salmão no menu. "Há 300 anos era a comida do povo. Os suíços gostam de peixe, mas são peixes do lago, que em Portugal não se encontram facilmente".

Aqui os ingredientes são quase todos suíços, mas de vez em quando Sindi gosta de fazer experiências de fusão com produtos portugueses - como os vinhos ou o queijo secreto usado na fondue. Ou - o que foi um sucesso - os agriões nos spätzli, a massa fresca semelhante aos gnocchi italianos mas feita com farinha e ovo em vez de batata. "O clássico é fazê-la com espinafres, mas o Sindi usou agrião, e os portugueses gostaram porque era um sabor conhecido, e os suíços adoraram porque na Suíça o agrião é um luxo".

Com apenas três meses, até agora as coisas têm corrido bem para o Edelweiss. Os turistas vêm muito (alguns são moradores do bairro e sabem que aqui podem encontrar pratos vegetarianos), e os portugueses também. "Vêm conhecer a cozinha suíça e descobrem que aqui podem comer como comiam em casa da avó. O Sindi cozinha como se fosse a mãe de uma família muito grande". É a casa dos avós - com os Alpes ao fundo. Afinal parece que a Heidi não ficou no Bairro Alto.

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Preços: entradas entre os 3,5 euros e os 7,5; pratos principais entre os 12 e os 15 euros
Estacionamento: Parque do Largo de Jesus

Nome
Bistro Edelweiss
Local
Lisboa, São Mamede, Rua de São Marçal, 2
Telefone
213465324
Horarios
Todos os dias das 19:00 às 23:00
Website
http://www.facebook.com/pages/Bistro-Edelweiss/102539796499134
Cozinha
Internacional
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