Há uma mesa posta cá fora, dois pratos, copos, talheres, um livro de banda desenhada e duas cadeiras onde não se sentará ninguém. Pelo menos por enquanto; enquanto não houver licença aprovada. Por estes dias é apenas um chamariz, um convite à entrada na casa da esquina onde a Rua da Senhora da Luz e a Rua de São Bartolomeu se encontram. A fachada azul-céu, cortada nesse gaveto, com uma porta branca envidraçada de entrada que se duplica no andar superior mas afagada por uma varanda de ferro forjado, ostenta a placa: Bar Tolo Meu.
Não era para ser provisória, mas as circunstâncias (no caso, um nome semelhante e com precedência temporal) assim a obrigam: depois de quatro meses de funcionamento, o Bar Tolo Meu (desconstrução óbvia do nome da rua que é também do santo que a 24 de Agosto leva a gente a banhos na Foz como cura e prevenção dos males) prepara-se para deixar cair o "meu" e ganhar independência. Ou seja, vai passar a ser de quem o quiser, tal como é, um Bar Tolo.
Tão "tolo", brinca Miguel Plácido, um dos sócios (com Carlos Leitão), que abriu num contexto de crise e longe do centro da cidade. A verdade é que, pelo menos neste caso, a ousadia tem sido recompensada. Por um lado, o Bar Tolo Meu tem estado "constantemente cheio", por outro, tem revitalizado a zona. "Estamos a funcionar como âncora", nota, enumerando uma série de novos negócios que foram abrindo portas nos últimos meses na zona que Miguel, tal como o sócio nascido e criado na Foz, considera "a [rua] Santa Catarina da Foz".
Nesta zona, os "turistas dão de frente" com o Bar Tolo Meu e caem em tentação - "temos tido gente de todo o lado". Temos essa experiência, quando entramos e somos envolvidos por uma cacofonia em inglês, vinda de uma mesa feminina. Na verdade, até estão em minoria, neste rés-do-chão pequeno e acolhedor que no projecto inicial seria o bar. Voltemos a esse início: "O nosso sonho era ter um restaurante, petisqueira, wine bar... Algo muito nacional."
Dito por outras palavras, o desejo era ter um bar que não fosse só bar, petisqueira que não fosse apenas isso, restaurante que tão-pouco se reduzisse a tal e eminentemente português nos produtos. Neste edifício que tem acompanhado a vida da Foz há muitas décadas (já foi a Leitaria Suil, uma funerária, uma loja de brinquedos) encontraram dois pisos para concretizar essa ideia: o rés-do-chão far-se-ia informal - bar-petisqueira; o primeiro piso, sala de refeições (mais) formal - e no topo instalar-se-ia uma esplanada em terraço.
Aqui está a esplanada, ventosa hoje, a pairar entre os telhados da Foz Velha e a espreitar o mar e o rio - mobiliário de madeira, vintage misturado com moderno, um visual que é o ar de família do Bar Tolo Meu. Porém, no interior, a ordem desordenou-se, as fronteiras que se pensaram estanques diluíram-se. "[As pessoas] Chegavam e almoçavam lá em baixo, vinham a qualquer hora." Foram os clientes que transformaram o Bar Tolo Meu no que é: em "algo sem conceito". Pode ser "restaurante, café, bar, pub, salão de chá", "adapta-se muito bem" ao que cada um deseja. Pode ser "um gin ao fim da tarde ou um 5 o"clock tea, uma sobremesa a seguir ao jantar ou petiscos até à meia-noite".
É muito maleável este Bar Tolo Meu que, também já vimos, de tolo tem pouco. É, também, bastante acolhedor, ou como Miguel Plácido prefere dizer, "cosy". A decoração é um misto onde o ferro e a madeira reclamam o palco principal, já que foram a base da recuperação do edifício. Entre eles, desenvolvem-se então os dois ambientes principais, com uma atmosfera claramente vintage, onde muito é improvisado, confessa Miguel.
Outras são uma filosofia, como a sharing table, alta como todo o mobiliário do rés-do-chão, que ocupa um dos lados e promove o convívio entre desconhecidos - o espaço que é tutelado pelo pequeno balcão onde cadeiras altas proporcionam conforto até para refeições tem ainda lugar para duas mesas e louceiros onde se avistam objectos retro como uma máquina Singer. No primeiro andar, as mesas de tampos de madeira e pé de ferro são ladeadas de cadeiras estofadas com sacos de café - os mesmos que forram os candeeiros. Nas paredes, quadros coloridos, badalos em caixas de vidro e letras e números de madeira de cores variadas fazem o contraste devido com o branco "sujo" das paredes.
Se se deparar com livros do Astérix ou do Gaston, não estranhe. É uma manifestação do improviso do Bar Tolo Meu. "Mandámos fazer invólucros para as ementas e atrasaram-se", conta Miguel Plácido, "então o meu sócio chegou com um livro do Astérix. Todos adoraram e nós mantivemos": Astérix para a comida - "o Obélix é um comilão"; Gaston para os vinhos ("é mais bebedolas"). Para todos, música ambiente que vai mudando com o ambiente - o mesmo que dizer que acompanha as horas do dia. E, finalmente, Miguel Plácido define o Bar Tolo Meu - em breve Bar Tolo: "Uma tasca moderna, com laivos de vintage."
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Horas felizes
De segunda a sexta-feira, entre as 17h e as 19h30, há happy hour no Bar Tolo Meu. Os petiscos, sempre diferentes e ausentes da carta (coisas como pica-pau, salada de queijo de cabra com nozes, calamares...), custam 3€; as bebidas sofrem uma redução - finos a 1€, sangria a 2€, copo de vinho a 1,50€...
De petiscos e outras refeições
De petiscos se faz a maior porção da ementa. Dos prosaicos moletes com presunto (3,50€) ou minifrancesinhas (4,50€), aos carpaccios (de vitela, 6€, ou língua, 5,50€), ao escabeche de perdiz (10€) - e aos "favoritos" dos clientes: os ovos rotos com espargos, setas e trufas (5,50€), os folhados de alheira (5€), as açordas (de bacalhau, 6€, e camarão, 7€). Nos pratos principais, o destaque vai para o naco barrosão DOP (14€) e o arroz de lavagante (17€) e nas sobremesas para as canilhas. Os pratos do dia são sempre dois e custam 10€, com sopa, bebida e café.
- Nome
- Bar Tolo Meu
- Local
- Porto, Santo Ildefonso, Rua Senhora da Luz, 185
- Telefone
- 224938987
- Horarios
- Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 12:30 às 02:00
Domingo, Segunda-feira, Terça-feira e Quarta-feira das 12:30 às 00:00
- Website
- http://bar-tolo-meu.com