"Estamos abertos todo o ano, menos em dias de chuva grossa!" A informação, escrita com um sorriso nos vidros do quiosque da Esplanada da Mata, dá o tom ao ambiente descontraído e simpático deste (ainda) bem guardado segredo de Lisboa. "Não estamos aqui só para servir tostas e cafés", garante o casal que "adoptou" o espaço e o quis transformar em mais do que uma esplanada igual às outras. Missão cumprida.
Serpenteamos pelos trilhos da Mata de Alvalade até vislumbrarmos um quiosque que se abre numa convidativa sala de estar ao ar livre. A cidade está a uns metros, mas já não se dá por ela. Os sentidos convertem-se a outro ritmo.
Encontramos as duas caras da Esplanada da Mata: a alentejana Joana Santiago (31 anos) e o alfacinha Jorge Saúde (29), formados em psicologia e educação de infância, respectivamente. Agora são também contabilistas, jardineiros, cozinheiros, promotores e outros tantos ofícios. Que o diga Jorge, que até já fez as vezes de carpinteiro (lá iremos).
Quando abraçaram o projecto, em 2011, ainda não conheciam o parque, da mesma forma que muitos lisboetas ainda o desconhecem. Hoje, estão rendidos. "A Joana costuma dizer que é a nossa casa de campo", graceja Jorge sobre a dedicação dos dois à esplanada e, por extensão, à mata. "Quando chegámos, o parque estava muito morto", explica. Depois, a esplanada tornou-se âncora de segurança para uma mata urbana e sem fechaduras. "Acabámos por trazer pessoas para o parque, que era o nosso primeiro objectivo." Acentuaram essa ligação escrevendo no quiosque as palavras de José Gomes Ferreira, o poeta que dá nome oficial ao parque: "Quem foi o arquitecto que fez este café tão longe da natureza e tantos homens de fé? Criado: põe esta gente na rua! E abre um buraco no tecto que eu quero ver a Lua."
Tecto não há. Buracos na criatividade, nem vê-los. Filmes, festas temáticas, ioga, música ao vivo, leituras, workshops e feiras são apenas exemplos dos muitos eventos engendrados. Outros tantos aguardam um lugar ao sol.
A diversidade desse cardápio tem espelho na moldura humana. Jorge fala do convívio entre "crianças a correr, pais a beber uma cervejinha e pessoal de dreadlocks a ouvir música". Os animais também são bem-vindos, como sublinha Joana sob o olhar atento do pequeno Mata, cão de louça e mascote para as gorjetas.
Troncos reciclados
Entre os clientes, amigos. Entre eles, famílias. Entre as famílias, a certeza de poderem manter as suas crianças debaixo de olho - o parque infantil é mesmo em frente - enquanto apreciam especialidades da casa: um refresco de groselha com alecrim, uma caipiroska com fruta fresca ou uma tosta tamanho-família em pão alentejano (vem de Beja e também está nos hambúrgueres e cachorros). Nem todos os aromas viajam: as ervas vêm de canteiros criados e mantidos na própria mata. A hortelã, por exemplo, já tem destino: mojitos.
Tudo convida à descontracção: o som chill out, os jogos de tabuleiro, os livros da estante (viva o bookcrossing)... Nem o lufa-lufa do aeroporto vizinho abala a sensação de se estar a milhas do rebuliço citadino. O tempo pára. Os pouffs são serventia da casa. Sonecas discretas não serão interrompidas.
- Nome
- Esplanada da Mata
- Local
- Lisboa, Alvalade, Avenida Gago Coutinho (Parque José Gomes Ferreira)
- Telefone
- 963555985
- Horarios
- Terça a Domingo das 10:00 às 20:00
Terça a Domingo das 10:00 às 00:00
- Website
- https://www.facebook.com/esplanada.damata