Fugas - restaurantes e bares

Nuno Ferreira Santos

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De olhos bem abertos... também para o vinho

Da lista de principais saiu o delicioso “peixe-galo, puré de grão, búzios” (15 euros), com duas pequenas tranches do peixe sobre um puré muito cremoso de grão, e coberto com saborosas rodelas de búzio a trazerem um pouco de mar para o prato, e visualmente a lembrarem flocos de neve derramados sobre o agradável conjunto. O “bacalhau, linguiça picante, batata corada” (15 euros) ficou aquém do imaginado com uma tranche de lombo de bacalhau de cura imprecisa e lasca translúcida, sem gelatina intersticial nem alma portuguesa (as “curas” de bacalhau congelado são maleitas para o gosto tradicional português, ainda haverá cura para este flagelo?). Sobre o bacalhau, uma maionese de alho discreta e pouco concreta, num deslizar inconsistente onde se perdeu o suposto gratinado. Ao lado, uma boa cebola confitada com as camadas a parecerem pétalas sedosas, e umas tiras de linguiça picante que, sem interagirem com a matéria-prima principal (o bacalhau), foram a memória mais impressiva do prato. De carne provou-se um guloso “borrego, cogumelos, couve-flor” (16 euros) a surgir estufado e desfiado num molho enriquecido com mistura de cogumelos onde se identificaram os shimeji, os nameko, e os “de Paris”. A couve-flor surgiu num puré de sabor insípido e um pouco aguado.

Na denominada secção de “calorias” pediu-se o “crumble, figos, queijo creme” (4 euros) em que de imediato se constatou o eufemismo de chamar crumble à distribuição de algumas migalhas crocantes sobre um pouco de queijo creme. Os pontos positivos foram um caramelo a saber a figo e as delicadas lamelas de bons figos secos. Na “maçã, mascarpone, Alvarinho, coentro” (4 euros) veio um disco de bolo a fazer de palanque para uns deliciosos gomos de maçã levemente cozidos em calda de Alvarinho, que brilharam ao manterem a sua textura al dente e ganhando uma suculência acidulada. Em redor, um creme suave do queijo italiano com os rebentos de coentro (micro-erva) a darem um ligeiro contraste de acidez. No “chocolate e ginja” (4 euros) destacaram-se as três poderosas trufas de bom chocolate negro, com o belo contraponto das ginjas em calda e em gelado. Serviço impecável. 

Perante a peculiar proposta de “binoculizar” a escolha dos vinhos, apetece dizer que qualquer opção será sempre um bom negócio… para uma das partes ou para ambas. Os mais entendidos em vinho poderão captar um bom vinho em que o gap entre o preço de garrafeira e o fixado na casa (22 euros) seja o menor possível, já os menos informados de preços podem escolher uma referência bastante mais inflacionada, não necessariamente pior (obviamente), mas que dará mais retorno ao restaurante. A opção por vinho a copo (4,50 euros) permite escolher dois rótulos diferentes para a refeição. Quatro copos entre duas pessoas são 18 euros, o que fica abaixo do consumo de uma garrafa, mas que não fará mossa na gestão da casa: na análise binocular identificaram-se vários vinhos que já ficarão logo “vendidos” depois de serem servidos dois copos (9 euros). Em teoria todos podem ganhar com este original sistema. É tudo uma questão de ficar de olhos bem abertos e escolher os vinhos certos, certo? Certo!

Nome
Enoteca de Belém
Local
Lisboa, Santa Maria de Belém, Travessa de Marta Pinto, 21
Telefone
213631511
Horarios
Terça a Domingo das 13:00 às 15:00 e das 19:00 às 22:00
Website
http://www.travessadaermida.com/
Preço
35€
Cozinha
Portuguesa
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