Fugas - restaurantes e bares

Paulo Pimenta

Entre copos e livros

Por Pedro Rios ,

Há dez toneladas de livros à nossa volta e não, não é figura de estilo: há mesmo dez toneladas de livros - garantia de um dos sócios - nas paredes do Fé Wine & Club, o bar que abriu em Junho num canto da Praça de D. Filipa de Lencastre, no Porto.
Os livros - uma ideia de Paulo Lobo, o designer de interiores que desenhou o espaço - chegaram "através de editores e associações sem fins lucrativos que os vendem à tonelada", conta Francisco Antunes, que, com três outros sócios, abriu este bar de vinhos que é também um club.
 
Os quatro amigos tinham alguma experiência no negócio, amealhada, sobretudo, na organização de festas. Um know how pequeno, reconhece Francisco: o que pesou mais na decisão de montar um bar foi um "gosto comum de sair à noite" e de apreciar os prazeres da boémia - do jantar à dança noite dentro.
 
Em comum, os quatro tinham empregos que envolviam viagens constantes ao estrangeiro ou longas estadias fora de Portugal. Regressaram ao Porto com "vontade de fazer uma casa diferente" das vizinhas, que apostasse na prática "muito comum lá fora" de ir tomar um copo depois do trabalho. Em Portugal, concluíram, um bar destes teria que apostar no vinho. "[Queríamos que] as pessoas consumissem vinho antes e depois de jantar."
 
A ideia surgiu há um ano. Demoraram seis meses a desencantar o espaço. Tiveram "muita sorte" e encontraram-no no "coração da Baixa do Porto", num sítio com "grande visibilidade", onde funcionava uma agência de viagens.
 
"Ao longo de alguns meses, tomámos nota de boas ideias, principalmente ao nível do serviço", conta. Entre as "boas ideias" estão "tapas para acompanhar o vinho", os "baldinhos" com as garrafas levadas até à mesa ("O cliente pode servir-se ou chamar um empregado") e "pequenos pormenores", como ter vários "empregados a circular", oferecer, pelas duas da manhã, fruta ou um petisco aos clientes e ter o bar sempre limpo - incluindo as casas de banho, que contam com os históricos sabonetes portugueses da Ach Brito, parceira do Fé, e até pousa-copos desenhados por Paulo Lobo.
 
São Paulo e Barcelona
Ter um "serviço um bocadinho acima" da média com "preços do Porto" (o fino custa dois euros numa "casa em que devia custar quatro", mas, quem puder, pode pagar 17 euros por um copo de whisky Glenlivet Malt 18 anos) foi um objectivo, influenciado, entre outras coisas, pelos bares de São Paulo, onde Francisco viveu durante dois anos.
 
Gosta de ver o Fé como uma mistura de São Paulo, "pelo serviço", com Barcelona, pelo corre-corre entre bares (não há consumo mínimo) e, claro, pelas tapas e petiscos - da tábua de enchidos ao montadito de fuet, queijo creme e balsâmico; da salada de tomate com orégãos e flor de sal às bruschettas; do presunto aos doces "caquitos" com mousse fresca de avelã.
 
Estas iguarias, com preços entre os três os sete euros, caem bem nos longos finais de tarde de Verão, na esplanada, na Praça D. Filipa de Lencastre. De quarta a sábado, a partir das 19h, o bar adopta o espírito sunset, regado preferencialmente a vinho branco, gin ou "sangria de autor", criada pelo relações públicas Pedro Maciel. "Era um sucesso em pequenas festas", conta Francisco. Não revela tudo, mas lá diz que parte da fama se deve aos dez frutos usados na sua preparação.
 
A vida do Fé durante a tarde e no lusco-fusco faz-se no rés-do-chão: na esplanada, com as suas mesas e bancos altos, e no espaço interior, onde podemos ocupar uma mesa, um banco de bar com vista para a Rua do Almada ou as cadeiras almofadadas de um canto mais resguardado. Aqui, o balcão não é mero local para servir bebidas: longo, com dezenas de garrafas de vinho impecavelmente alinhadas como cenário, é particularmente convidativo.
 
Sucesso imediato
As dez toneladas de livros, todos pintados de verde inglês, como as paredes, dão o aconchego, sem as distracções das capas, escondidas pela tinta. As caixas em acrílico colorido (azul, vermelho, amarelo, verde), com garrafas de vodka lá dentro e, sem surpresa, livros, "feitas à medida" do espaço, interrompem a monocromia e fornecem o "ar moderno", diz Francisco Antunes. "Desafiámos o Paulo [Lobo] a fazer uma coisa diferente", "a fazer muito com pouco". O Porto é uma "cidade muito associada a livrarias, como a Lello". E "o livro é a melhor forma de transmissão da fé", seja ela qual for.
 
Está descrita a parte "Wine" do nome do espaço. Por volta da meia-noite, as luzes baixam e o Fé transforma-se numa discoteca - eis o "Club". O rés-do-chão continua a funcionar como bar, mas os mais afoitos podem descer à cave onde, numa pequena pista de dança, os corpos se agitam a partir da meia-noite. A pista pode ser reservada para jantares ou festas privadas.
 
A música, a cargo do DJ residente Gonçalo Maria ou de convidados (de quinta a sábado), anda pelos territórios house, R&B e soul. Aos domingos à tarde, há "roda de samba", obviamente acompanhada por caipirinhas - com direito a "canjinha" dos clientes que se sintam capazes de assumir a cantoria.
 
O primeiro mês de vida do Fé tem enchido as medidas dos criadores do bar. "Foi um sucesso imediato, temos a casa completamente cheia", diz Francisco. Não faz a coisa por menos: "Somos já uma referência do Porto para quem quer sair à noite."
 
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Vinhos para vários bolsos
A carta de vinhos é um tratado com meia centena de referências - a linha quase completa da Sogrape, parceira do Fé. Os vinhos vão do Terra Branca, a três euros, ao Barca Velha, um dos mais famosos vinhos da nação (com um preço que ultrapassa o salário de muitos portugueses). Há ainda vinhos da Argentina, Nova Zelândia e Chile, a partir de 13 euros.
Nome
Fé Wine & Club
Local
Porto, Vitória, Praça de Dona Filipa de Lencastre, 1
Telefone
927223446
Horarios
Terça das 18:00 às 02:00
Quinta das 18:00 às 04:00
e Terça-feira das 20:00 às 02:00
Website
http://www.feporto.pt/
Observações
Permitido fumar. Esplanada. Jantares e almoços de grupo mediante reserva. DJ's Residentes: Francisco Aires Pereira, Filipe Vicência e Lourenço Pessanha.
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