Fugas - restaurantes e bares

  • Fernando Veludo/Nfactos
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A grande cozinha em pequenas porções

Por José Augusto Moreira ,

Na saborosa lista petisqueira do DeCastro Gaia há delícias como iscas do cachaço de bacalhau, favas com enchidos, fígados de aves ou vitela maronesa. Tudo com requintes de modernidade e produtos da mais pura tradição culinária, para degustar em ambiente de partilha e com vista privilegiada sobre o Douro e a Ribeira portuense.
Define-se como espaço de degustação e harmonização de vinhos e petiscos portugueses e pode ser até visto numa perspectiva didáctica. Fiel ao conceito de petiscos e pratos para partilhar a que o talentoso Miguel Castro e Silva há muito nos habituou, o DeCastro Gaia é uma das componentes do Espaço Porto Cruz, todo ele concebido como uma espécie de montra educativa sobre a produção e consumo de vinho do Porto.
 
O restaurante ocupa todo o terceiro e último piso do histórico e completamente renovado edifício da marginal de Gaia, que abriu ao público no início do Verão do ano passado. A não perder é também o bar que funciona no terraço e cobertura do prédio, não só pela degustação de cocktails à base de vinho do Porto mas também para desfrutar das magníficas vistas sobre o Douro e a Ribeira portuense.
 
Além da refeição ou da simples degustação de alguns petiscos, a opção pode, por isso, passar também pela visita ao espaço, onde, com o recuso a modernos equipamentos multimédia e tecnologias interactivas, poderá ficar a conhecer a história de um dos mais famosos vinhos do mundo. Tudo num ambiente elegante e depurado e onde está completamente ausente o velho cenário de pipas e tonéis. Aos domingos, pelo meio-dia, há mesmo uma visita dedicada às famílias, que inclui até interessante prova para crianças. Sem vinhos, claro!
 
Passemos, no entanto, ao terceiro piso, onde está o DeCastro e a sua saborosa lista petisqueira. Sala ampla, de tecto bem alto e generosa luminosidade proporcionada pelos janelões laterais com vistas para o Douro e a Ponte Luís I. Mobiliário simples e sumário a proporcionar um ambiente que é mais de bar que de restaurante e a condizer com a oferta gastronómica, que basicamente se alinha em três variantes: para picar; saladinhas; e quentes.
 
Em duas ocasiões diferentes e intervaladas por mais de dois meses, provámos vários desses petiscos, que não só comprovam o talento como o acerto culinário e funcional do conceito montado pelo conhecido chef portuense. Miguel Castro e Silva, como se sabe, ocupa-se hoje principalmente com os seus projectos lisboetas, mas tudo parece funcionar como se a sua presença fosse permanente.
 
Tomem-se como exemplo os soberbos fígados de aves com compota de cebola (3,20€) ou a raia de alhada (13,80€) que nos calharam da última visita. Cheirosos, macios e com apetitoso toque avinagrado os primeiros, enquanto a raia (duas postas), fofa e suculenta, acompanhava com batatinha assada e um molho de ervas. Igualmente muito boas as favas com enchidos e ovo escalfado (7,80€) ou o bacalhau à Brás (19,80€), sempre em doses concebidas para partilhar pelo mínimo de dois comensais.
 
Especiosa é também a cavala fumada (4,20€), na companhia de vistosas e deliciosas queneles de cebola roxa de escabeche, assim como a morcela da Beira com maçã e cebola (4,60€), que é um dos clássicos do chef. Verdadeiro petisco são também as iscas do cachaço de bacalhau (5,20), uns saborosos taquinhos de bacalhau frito envolto em fino polme e ovo que são uma espécie de requintado hino ao que de mais típico se pratica nas tascas mais populares.
 
É assim, com uma cozinha simples ao mas o tempo saborosa e requintada, que Miguel Castro e Silva puxa pela nossa gastronomia típica e tradicional. Apurando sabores, conferindo-lhe elegância e modernidade e valorizando as receitas e os produtos que nos são tão caros. A consistência do trabalho nota-se também pelo serviço de ritmo impecável, atento e discreto.
 
Para além dos pratos provados, as propostas para o dia-a-dia incluem também uma sopa de tomatada de enchidos (3,20€) e um caldo de galinha com cogumelos (2,80€). "Para picar", há também petiscos diversos, como lulinhas fritas com molho tártaro, mexilhão com vinagreta, ovos mexidos com enchidos e pão frito, açorda de cogumelos e enchidos, moelas com molho de tomate picante, trouxas de alheira com espinafres e, estamos no Porto, claro, uma minifrancesinha que é feita com carne assada. Tudo na já referida lógica de partilha e com preços que variam entre os três e cinco euros por cada porção.
 
Há ainda uma secção de tostadas, com preços idênticos. De tomate assado, de presunto Pata Negra (bem poderia ser do nosso, que os há excelentes) ou com queijo amarelo das Beiras. Nas "saladinhas", as opções variam entre legumes salteados e queijo de cabra, maionese de camarão com ovo, atum com feijão-frade e maçã, bacalhau com grão e tomate ou frango com pepino coentros e maçã.
 
A juntar à raia, às favas e ao bacalhau à Brás, a secção de "quentes" multiplica-se ainda com outras receitas da nossa mais rica tradição, como o bacalhau à Gomes de Sá, amêijoas com feijão manteiga, polvo no forno com batata a murro, arroz de camarão com amêijoas e mexilhão, perna de pato com canela e azeitonas, carrilheira de porco em vinho tinto, pezinhos de coentrada ou a vitela assada com couve ou ainda um arroz com cogumelos. Os preços vão dos nove aos quinze euros.
 
Miguel Castro e Silva é um cozinheiro já com longo trajecto e com nutrido currículo no que respeita à criatividade e enriquecimento da nossa cozinha tradicional, sobretudo nortenha. Talvez como nenhum outro tem valorizado os nossos produtos, insistindo na lógica de degustação com variedade de pequenas porções.
 
Ou seja, os verdadeiros e genuínos petiscos, como sempre foram designados e manda o peso da tradição. Atitude que é tanto mais de aplaudir num tempo em que se multiplicam as chamadas tascas gourmet, os sushi disto e daquilo ou as casas de tapas a imitar a vizinhança. Ora então, se sempre tivemos os nossos petiscos, porque não chamar-lhes aquilo que são e que toda a gente continua a entender? Ainda por cima quando preparados de forma elegante e sublime como o faz o chef nos seus DeCastro.
 
Também pelo conceito, localização e enquadramento se torna obrigatória a visita e este de Gaia para os verdadeiros cultores do petisco.
Nome
DeCastro Gaia
Local
Vila Nova de Gaia, Oliveira do Douro, Largo Miguel Bombarda, 23 (Espaço Porto Cruz)
Telefone
910553559
Horarios
Terça-feira, Quarta-feira e Quinta-feira das 12:30 às 15:00 e das 19:30 às 23:00
Sexta-feira e Sábado das 12:30 às 15:00 e das 19:30 às 23:30
e Domingo das 12:30 às 15:00
Website
http://www.myportocruz.com
Preço
20€
Cozinha
Trad. Portuguesa
Espaço para fumadores
Não
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