Fugas - restaurantes e bares

  • Paulo Pimenta
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Há um novo Serrote na rua dos móveis

Por Pedro Rios ,

Esta casa da rua da Picaria, no Porto, passou de loja de móveis a bar e galeria de arte. Há chás, vinhos, tapas e petiscos, duas dezenas de gins e, à noite, dança-se funk e soul e ao som de DJs convidados. E promete ser sempre uma boa morada para "dar ao serrote".
É um novo "serrote" na Rua da Picaria, mas aqui não há a profusão de lixas, martelos, pó e madeiras que habita nas casas vizinhas desta artéria, a clássica "rua dos móveis" do Porto, vinda do tempo em que a organização citadina era mais previsível e arrumada. "Em vez de ferramentas, temos arte. Em vez de madeira, vendemos bebidas", brinca Gil Fonseca, gerente do Serrote, o bar que, no final de Junho, se juntou à movida portuense, onde parece caber sempre mais um.
 
Em 2008, quando só havia sinais, o PÚBLICO antecipava as mudanças que já se sentiam nos ares da Picaria. "Sente-se nesta rua um sopro de modernidade que promete mudar a sua face nos próximos anos", escrevia João Pedro Barros. Um prognóstico que revelar-se-ia certeiro: na rua e no vizinho Largo de Mompilher, surgiram bares, restaurantes e lojas, numa transição do seu passado e presente ligados aos móveis e madeiras para um novo figurino, híbrido, menos previsível e arrumado. Madeireiros, marceneiros e carpinteiros à procura de clientes, jovens, gente das artes e noctívagos à procura de um almoço diferente, ilustrações da galeria Dama Aflita ou um copo, tudo na mesma rua.
 
O Serrote (onde funcionava, sem surpresa, uma loja de móveis) junta-se a este movimento, que, até ver, é imparável. É espaço de copos, certo, mas não só. É nocturno, mas também diurno. É um bar, mas também uma pequena galeria de arte.
 
É um espaço de portas escancaradas, totalmente aberto, como que a convidar os transeuntes a entrar e a ficar. A decoração, a cargo de Dora Lima, é despretensiosa: um pequeno balcão (com ripas de madeira - em homenagem à Picaria? - e três amplos candeeiros), uma meia-dúzia de mesas (de... madeira), uma parede escura, o equipamento de DJ.
 
Uma parede chama a nossa atenção. Percorre-a uma chapa perfurada que parece saída de uma das oficinas vizinhas. Mas, no lugar de ferramentas, estão penduradas obras de arte. É a "parede interactiva" do Serrote - "interactiva" porque todos os meses há uma nova exposição (com direito, como numa normal galeria, a inauguração).
 
A primazia será dada a "jovens artistas de pintura e fotografia", explica Gil, o que não invalida outras experiências. José Oliveira, matosinhense de 26 anos, o proprietário do Serrote, exemplifica: "Um fotógrafo espanhol apareceu aqui e perguntou se podia pôr fotografias à venda." Quem sabe, terá sorte.
 

Tapas com gin
 
Há um ano, José só sabia que queria abrir o seu primeiro bar na Baixa. "Neste momento, era o único sítio [possível]", diz. O resto surgiu depois, em parceria com o amigo Gil, portuense, 32 anos, que já fez de tudo um pouco no que toca a servir clientes: teve uma casa de chá, bares de praia, um restaurante. Para o Serrote levou pedaços desse passado, em particular da casa de chá de Aldoar, freguesia do Porto distante da euforia nocturna da Baixa. Os chás ("de folha", sublinha) e os vinhos, servidos a copo, são influências desses tempos.
 
Para ser, "durante o dia, um espaço onde se possa estar", o Serrote tem argumentos: os chás e os vinhos (a começar nos dois euros por copo - este é um espaço de preços acessíveis), mas também as tapas e as sanduíches preenchem a vida diurna do bar. Oferecer à baixa do Porto um novo sítio para "dar ao serrote", expressão popular para conversar, moveu José e Gil.
 
As tapas são "simples, mas originais", descreve o gerente. Há broa assada no forno com azeite, alho e pimento. Há tosta de pesto com salmão e citrinos. Há morcela com puré de maçã. Mas o Serrote não quer ser mais um bar de tapas e, para isso, aposta em compatibilizar os petiscos com bebidas para além do vinho e a cerveja. Como o gin: servido com pepino, por exemplo, ou aromatizado com tomilho, um gin pode ser um "bom complemento para um salgado". Com combinações de sandes, saladas e tapas, o Serrote pretende também ser um espaço de refeições ligeiras - ao almoço, ao lanche ou ao jantar, sem horas fixas.
 
À noite, entra em cena a segunda cara do Serrote. Arrumam-se as (poucas) mesas e cadeiras e o espaço reduz-se ao balcão e à pista de dança, onde se dança funk, jazz e soul. Aos fins-de-semana, há DJ convidados.
 
Com ou sem tapas na equação, a bebida branca em que o Serrote mais aposta é mesmo o gin, com 20 referências premium para o provar. Para garantirem "preços acessíveis", optaram por fazer uma média dos preços das várias referências e chegaram aos 7 euros por copo (o gin normal fica por 4 euros, o mesmo que custa um whisky). Outro "sucesso" é a sangria de espumante, em duas variedades: de ananás e hortelã ou de morango.
 
Longe vão os tempos em que a nova vida da Picaria era ainda um prognóstico. O centro do Porto parece não querer parar de crescer, com bares e restaurantes a nascerem todos os meses. O Serrote quer estar entre os melhores, diz Gil: "Como há tantos, não queremos ser mais um."
Nome
Serrote
Local
Porto, Sé, Rua da Picaria, 9
Telefone
919185220
Horarios
Todos os dias das 12:00 às 02:00
Website
https://www.facebook.com/SerroteBar
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