Fugas - restaurantes e bares

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Uma casa sob o astro de Pessoa

Por Luís J. Santos ,

É uma "casa da palavra" que chama a si todas as artes, um bar para tertúlias, um espaço que evoca até as artes astrológicas de Fernando Pessoa. A Casa Raphael Baldaya, em Lisboa, quer viver sob o signo do mistério e da criatividade.
Pessoa quis, Rita e Nuno sonharam, a obra nasceu. A Casa Raphael Baldaya viaja entre tempos e espaços e revela-se nos astros. É um pequeno espaço conjugado em duas salas aos pés do Bairro Alto mas que quer abarcar todo o universo, todas as artes, todo o Pessoa. E que, particularmente, chama a si o Pessoa astrólogo, corpo esotérico para o qual criou um heterónimo: precisamente, o senhor Raphael Baldaya, quase centenário (Pessoa engendrou-o em 1915), astrólogo aberto a consultas (tinha até tabela de honorários) e à criação de mapas astrais. Sendo esta uma casa de Baldaya já se vê que não é, como nos explicam os seus criadores, "um bar à toa".
 
Entramos nesta antiga loja de molduras em edifício secular nos Poiais de São Bento e estamos em casa, por entre mobiliário e objectos que evocam o século passado, com um retrato de Ofélia Queiroz - a amada de Pessoa - a encarar-nos desde uma secretária que poderia ser a do poeta (e onde, entre livros, não falta uma chávena de café d"A Brasileira). Escrito na parede, um mote pessoano prepara-nos para o espírito do lugar: "A ciência descreve as coisas como são; a arte, como são sentidas, como se sente que são".
 
Sob um velho lustre, abre-se a primeira parte desta sala baptizada de Orpheu, onde um sofá, um clássico móvel de gira-discos, um aparador a servir de balcão ou uma velha mesa de máquina de costura se impõem. A sala prolonga-se para o alto: sobem-se uns degraus e ficamos numa salinha-palco. Num piso inferior, fica a sala Abadia, recanto em ambiente iniciático, com parede de pedra com ardósia.
 
"É um conceito informal e é mesmo como um espaço criado na nossa casa para receber os amigos", diz-nos Rita Pinto que, com Nuno Libório, abriu a casa na Primavera, em fase experimental. Agora, franquearam-se de vez as portas a um horário prolongado (abre às 15h e vai até às 00h), a comes e bebes e a uma recheada agenda de artes que poderá abranger "15 a 20 eventos por mês" para que o espaço "fervilhe de cultura, literatura, poesia". E também de outros enigmas celestes.
 
É que a escolha de tão astrológico heterónimo pessoano para tema não é um acaso. "Andávamos a estudar Pessoa e apareceu-nos o Baldaya e como a Rita gosta de esoterismos e astrologia...", conta-nos Nuno, que antes tinha trabalhado em marketing e que tem uma paixão pela poesia. Já Rita, ligada ao Direito, tinha passado pela criação de outro bar das artes, o Art in Chiado, de que entretanto se retirou. O sonho de Rita era um miniteatro, o de Nuno a poesia. Juntaram tudo e decidiram incluir " uma homenagem a Pessoa", além da facção esotérica (revelada em "Jantares com os Astros", workshops ou até em consultas astrológicas). Como Rita recorda, enquanto o jazz dá música à conversa e o eléctrico 28 silva à porta, não só o mestre preparava "um tratado de astrologia" como fez "mapas astrais para todos os heterónimos". E é assim, entre mistérios e conversas do céu e da terra que se farão as noites do Baldaya, onde se vão escrevendo poemas e frases nas paredes (como a inevitável "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce") e onde não faltará uma biblioteca ou exposições.
 
E o mote da astrologia não poderá também assustar algumas pessoas? "Queremos desmistificar isso", sublinha Rita. "Para mais, não faltam outras temáticas, da música à poesia ou actividades para as crianças ao fim-de-semana", reforça, enquanto vão começando a chegar à sala-palco as estrelas da noite. Nada de astrologias mas ainda assim com algo de encanto místico: são as bailarinas do grupo de Susana Amira, que a noite é dedicada a danças orientais.
 
Pela agenda, esperem-se quartas dedicadas a esoterismos, quintas às poesias e sextas a demais artes. Por aqui, passam concertos e fados, teatro, festas temáticas ou bailes. "Queremos ser os artistas e criadores de algo, deixar aqui qualquer coisa", remata Rita.
 
Alimentar o espírito
Além de jantares especiais (temáticos ou para grupos por encomenda), não faltam comidas. Há tostas como a Rafael Baldaya (queijo da ilha, tomate, painho, azeite e orégãos) ou a Fernando Pessoa (queijo, chourição, tomate, rúcula, azeite e orégãos). Para um prato de tapas, pode recorrer-se a Mercúrio (tomate, queijo, presunto), Vénus (queijo de cabra e tâmaras), Marte (pasta de azeitona, tomate seco e manjericão) ou Júpiter (salmão fumado, creme fraiche e alcaparras). Existem petiscos: de ovos com farinheira a chouriço assado, cogumelos recheados ou bochechas de porco.
 
Quanto a bebidas, o menu é feito de básicos, com alguns destaques: há vários chás e infusões (incluindo um de Perpétuas Roxas), uma sangria caseira (a copo ou a jarro de 1 ou 2 litros), mojitos ou caipirinhas e promete-se ter sempre vinhos a copo, seleccionados e que vão variando conforme a semana.
Nome
Casa Raphael Baldaya
Local
Lisboa, São Paulo, Rua dos Poiais de São Bento, 27
Telefone
213961661
Horarios
Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 15:00 às 00:00
e Domingo das 16:00 às 22:00
Website
https://www.facebook.com/CasaRaphaelBaldaya
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