Fugas - restaurantes e bares

  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta
  • Paulo Pimenta

Uma taberna com “olho no pé”

Por Andreia Marques Pereira ,

Assim que começa a entardecer, começam as Folias de Baco no Porto. Uma taberna que junta iguarias da região aos vinhos Olho no Pé, produzidos pelos donos da casa no Vale do Douro.

um senhor nesta casa e tudo o mais está aqui para servi-lo. Esse senhor é o vinho — e, claro, é sempre da casa. Olho no Pé da, na, Folias de Baco que foi empresa antes de ser casa, ou melhor, taberna, o que parece encaixar perfeitamente nesta Rua dos Caldeireiros. Afinal, é uma das mais características da cidade do Porto, rasgada no morro da Vitória, a dois passos da Torre dos Clérigos.

Descemos a rua estreita entre cafés de bairro e lojas (as antigas, escuras, algumas recentes de design), roupa a secar nas varandas e vizinhos que circulam em chinelos pelos paralelos irregulares. Paramos numa porta onde Baco nos espera — mas quando entramos não sabemos que é Baco.

O cão de louça, um dálmata, é já um sucesso entre as crianças que insistem em tirar fotografias com ele. Tem um soutien vermelho e está à porta porque a casota, num pátio atrás, tornou-se pequena para ele. Cresceu, como a crescer está a Folias de Baco, que de uma adega em Alijó chegou a uma montra portuense — tudo para exibir os vinhos Olho no Pé, criações de Tiago Sampaio nessas encostas mais altas, frescas e remotas do Douro. Se não podíamos imaginar que era Baco à entrada, depois tudo faz sentido. Depois de conversarmos com Tiago, Natacha Sampaio e César Figueiredo, os mentores desta taberna-que-é-taberna, ou seja, sem moderna à frente. É um negócio de família, mas está ancorado (ao serviço, reforçamos) nos vinhos que Tiago cria e produz sozinho numa adega em Alijó — um projecto pessoal que usa as vinhas da família. “Está numa zona menos conhecida, com menos visibilidade turística”, descreve. Por isso, quando este espaço onde agora estamos, propriedade da família, ficou vago, surgiu a ideia: “Porque não utilizá-lo numa perspectiva de divulgação da marca?”.

Abriu-se, assim, em Dezembro de 2013, em pleno centro portuense, mesmo nas margens do grande furacão noctívago da cidade, uma janela para terras durienses e transmontanas — para os vinhos de Tiago (15 mil garrafas por ano) e para produtos regionais, como queijos, enchidos, vindos também de pequenos produtores, de preferência mesmo de Alijó. Sem enganos: em termos de álcool, esta taberna serve apenas vinho, o Olho no Pé da casa, que vem em várias declinações significando “grandes contrastes” — “quis, dentro da gama, produtos sem repetições”. Há, portanto, o branco e o tinto, o colheita tardia e os inesperados Pinot Noir, “mais elegantes, mais suaves, mais frescos”, e o Moscatel Galego, “mais fresco, leve e licoroso”.

Para acompanhar, encontramos coisas como o bolo de carne de Favaios, tábuas de queijos e enchidos, combinações mais ou menos tradicionais como alheira, chouriço e moira assados ou espetada de tâmaras com presunto, sandes e, sobretudo torricados — a palavra a Natacha Sampaio para explicar: “Mais utilizados no Ribatejo, durante a apanha das azeitonas, é pão torrado regado com azeite que se acompanha de bacalhau e outras coisas”. Aqui, na Folias de Baco, o pão é de Moncorvo e a companhia pode ser de abóbora ou moira, tomate ou atum, entre outros. Há também atenção aos vegetarianos e “lambarices” para os gulosos — a vocação de Baco podem não ser refeições, mas não há que negar que com um pouco daqui e um pouco dali até se pode terminar bem jantado.

Falamos em jantar porque o horário desta taberna é de final do dia e noite — não madrugada (fecha à meia-noite). A ideia é que seja um ponto de encontro para um copo depois do trabalho (por isso até há a “hora mais feliz”, das 18h às 19h, com o copo de vinho acompanhado de um petisco por 2€) ou antes aventuras nocturnas. “Queremos ser um sítio mais relaxado, calmo, para conversar”, explica César Figueiredo, que divide as funções de anfitrião com Natacha. São os rostos da taberna que existe onde antes existiram loja de produtos ortopédicos (tradicionais na rua), atelier e até oficina do Teatro Art’Imagem.

Sem mexer muito no espaço — para manter a alma, preservada, por exemplo, no código de cores, no armário de madeira do fundo da sala —, aproveitaram o que tinham para lhe darem um ar de taberna. Visitaram algumas, no Norte do país, com muitas décadas de existência e nelas se inspiraram para fazer o balcão, de tampo de cimento e paredes revestidas a azulejo de um lado e de madeira nos outros. Os azulejos também recobrem a zona dentro do balcão, antigos, cor de vinho, branco, azul — a combinar com o tal código de cores encontrado: na sala da frente, cinza e verde água (o cinza na madeira dos lambris altos que encontraram por baixo do reboco) e cor de vinho (lambril) e amarelo torrado atrás. As cores e a posição também dividem os ambientes desta taberna.

A primeira sala, com a fachada estreita rasgada por transparências, é mais extrovertida, mais leve; a das traseiras é mais recolhida, aconchegante — e não só no recanto-biblioteca, com pequena salamandra alimentada a lâmpadas-velas e rolhas (até há um cesto delas à laia de toros de madeira), ladeada por duas poltronas, candeeiro de pé alto e carrinho de chá como suporte de revistas.

Nome
Folias de Baco
Local
Porto, Vitória, Rua dos Caldeireiros, 136
Telefone
919605750
Horarios
Quarta a Sábado das 18:00 às 00:00
Website
http://www.foliasdebaco.com/
--%>