Fugas - restaurantes e bares

  • Fernando Veludo/NFactos
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No castelo e com a arte apurada de dona Lina

Por José Augusto Moreira ,

Cozinha consistente de estilo tradicional, associada à oferta de peixes e mariscos frescos. À competência nos fogões, a cozinheira e proprietária junta a simpatia contagiante e uma rara atenção ao que se passa na sala. No castelo de Leça, está-se bem no Arquinho e sai-se satisfeito.

Manda o povo e manda a tradição, pelo que sempre será como castelo de Leça que há-de ser conhecida a construção erigida no século XVII com a função de vigiar e defender a entrada do porto de Leixões. Era o tempo dos ataques de piratas e corsários às caravelas e galeões com que se fazia o importante comércio marítimo de então, tendo a edificação sido baptizada como Forte de Nossa Senhora das Neves, nome que preserva e como é referido em todos os documentos.

Pouco importa, no entanto, a designação oficial, se as populações sempre ali viram um pomposo castelo, referência que se disseminou até pela toponímia local e foi também adoptada por muitos dos restaurantes e casas de petiscar que hoje ocupam a grande maioria dos espaços das pitorescas ruelas daquela elevação que, a Norte, domina o porto de Leixões. 

Como complemento da actividade marítima, por aqui sempre prosperou o comércio da restauração ligada aos peixes e mariscos, sendo hoje também comum ouvir-se referências a novos piratas e corsários, em resultado da taxa de IVA aplicada ao sector. 

Humores à parte, este sempre foi local de restaurantes de fama e proveito, sempre também em sã convivência entre a modesta petisqueira e os espaços mais bem-postos e requintados. 

Por aqui morou o saudoso Garrafão, restaurante que durante um triénio (1978/80) chegou a exibir o brilho da estrela Michelin, um dos primeiros no nosso país. Constatamos agora que o belo palacete de granito voltado ao mar que então o acolhia está a ser substituído por um conjunto de moradias de inspiração contemporânea e em betão armado. Efeito dos tempos!

É por aqui, a poucos metros, que está a Rua do Castelo, apertada entre o casario em grande parte tomado também pela restauração. Tanto que por estes dias de Verão toda ela está coberta por um tapete verde a imitar relva e ocupada por fogareiros e atractivas esplanadas. É num desses edifícios que se acolhe o restaurante Arquinho do Castelo, casa com um legado de duas décadas dedicado sobretudo aos mariscos e peixes frescos, com cozinhados de tacho que foram cativando a clientela. A atestá-lo, fotografias de gente mais ou menos conhecida, camisolas de futebolistas com assinaturas e dedicatórias. Em lugar de destaque está também a jovem modelo Sara Sampaio, que por ali cresceu e, como orgulhosamente nos relatam, sempre que visita a casa materna não resiste aos mimos da cozinha do Arquinho. 

Para lá do acrescento exterior sazonal, o restaurante alargou-se recentemente ao piso superior, um espaço amplo e luminoso, com as grandes janelas a proporcionar vistas sobre o mar e a actividade portuária. Acomoda confortavelmente três a quatro dezenas de comensais, tal como acontece com a sala do piso térreo, à qual se acede por um amplo átrio onde se destaca o expositor-frigorífico coroado por um espelho de grandes dimensões a reflectir a imagem dos peixes e mariscos do dia. 

Caldoso e no tacho
Foi com um intervalo de mais de dois meses que nos sentámos à mesa deste Arquinho. Primeiro com um grupo alargado e no piso superior, depois, na última semana, em contexto mais reduzido e, literalmente, no meio da rua para saborear as desejadas sardinhas assadas, cujo tempo parece tardar em chegar. Não estavam más, mas parece que há ainda que esperar para que a gordura pingue no pão.

Além das percebes, ricas, carnudas, acabadas de cozer e ainda a saber a mar, provou-se uma série de frituras, de confecção a tender para o exímio. Destaque para as sardinhas panadas (pequeninas, sem espinhas, secas e crocantes) e os rissóis de camarão (excelente refogado), mas sem desmerecer em nada a qualidade dos bolinhos de bacalhau, pataniscas do mesmo ou os croquetes de vitela. 

Do tacho, amêijoas à Bulhão Pato no ponto e um caldo gordo de camarão que é servido no interior e um pão que assim se vai transformando numa açorda. Guloso e delicado e despojado do aroma fresco que lhe poderia dar a conjugação com ervas aromáticas, tal como o coentro da praxe.

A mostrar a qualidade da grelha, dois linguados de média dimensão, saborosos e bem temperados, a exibir a alvura das sua carnes frescas e delicadas. Batata cozida e legumes salteados para acompanhar. Do calor do carvão também um valente robalo de anzol (cerca de 5kg), uma preciosidade da faina do dia que teve tratamento adequado apesar da generosa dimensão. Delicado e suculento, com o calor apenas a fazer sobressair toda a qualidade e frescura do bicharoco. 

Acompanhou com um extraordinário arroz caldoso de legumes que chegou à mesa no tacho e ainda a borbulhar. Feijão vermelho, couve coração e ervilhinhas de quebrar, o grão aberto, goma (do Carolino) a ligar tudo e perfeito na evidência de texturas, sabores e aromas da natureza. Excelência vegetariana, que só por si valia uma refeição. 

É certo que depende sempre dos legumes da época, mas da mão que isto faz não há-de sair coisa que faça grande diferença. Igualmente caldoso e no tacho o arroz de polvo que complementou tenros, fofos e crocantes os filetes do mesmo. 

Das sobremesas saboreou-se um leite-creme queimado, que bem justifica a longa fama que o precede, mas também uns especiosos bolinhos de cenoura que são capazes de arrebatar mesmo os mais renitentes à doçaria. Além de cenoura raspada, levam também umas lâminas de amêndoa e são fritos, ao estilo dos bilharacos ou natalícios bolinhos de jerimu. Há também tarte de laranja, bolo de amêndoa ou aletria de ovos, numa oferta mais que tentadora que se exibe num carrinho que circula pelas mesas para final de refeição.

“A Lina sugere”
A juntar ao evidente apuro e segurança no que respeita à cozinha de tacho, aí está também a doçaria a mostrar um estilo consistente de cozinha tradicional, aliado à oferta de peixes e mariscos frescos. A casa anuncia até a recusa de pescado de aquacultura, mesmo correndo o risco de uma oferta apenas com polvo nas temporadas em que o tempo impede a saída dos pesqueiros para o mar. 

Numa carta que propõe onze variedades de entradas (1,75€ /7,50€), mariscos e peixes (40/45€ o kg) segundo a safra diária, os bifes e fêveras da praxe, há ainda arroz de pato (por encomenda), cabidela de frango (19€/duas pessoas) ou cabrito assado no forno (25,50€, igualmente em dose dupla).

Importante, no entanto, é tudo aquilo que “A Lina sugere”, onde está a essência da oferta do Arquinho. Lina (Francelina) e António formam o casal de proprietários e, como está bom de ver, é por ela que passa boa parte do sucesso e estilo da casa. Além da competência nos fogões, exibe uma simpatia contagiante e uma rara atenção ao que se passa na sala. Conversa, explica e procura conhecer as reacções da clientela, e até adianta que estão agora abertos todos os dias, “em regime de pulseira electrónica”, por força do aumento do IVA. Uma atitude que tem tanto de louvável como de pouco comum nestes restaurantes de pendor popular.

As suas propostas passam por bacalhau com natas (24€), polvo assado no forno (37,50€), arroz do mar, de polvo ou de tamboril (28€ ), sempre em doses duplas.

Nos vinhos, a oferta é diversificada e até com algumas opções interessantes para alguns menos conhecidos ou de produtores qualificados. Predominam os Douro (24 brancos e 25 tintos), mas também para o Alentejo (8 brancos e 12 tintos) e Verdes (5 Alvarinhos entre 18 propostas) há boas escolhas. O mesmo se diga dos 14 espumantes e três champanhes que são propostos.

Num estilo de cozinha tradicional e ambiente informal, está-se bem no Arquinho do Castelo e o serviço esforçado e simpático também contribui para a satisfação.

Nome
Arquinho do Castelo
Local
Matosinhos, Leça da Palmeira, Rua do Castelo, 51
Telefone
229951506
Horarios
Todos os dias das 12:00 às 23:00
Website
https://www.facebook.com/arquinhodo.castelo
Preço
25€
Cozinha
Peixe e Marisco
Observações
Espaço para fumadores
Sim
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