Fugas - restaurantes e bares

  • VASCO CÉLIO/STILLS
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Um repositório valioso da cozinha regional algarvia

Por Fortunato da Câmara ,

Casa com mão familiar, o Ribalta, na Quinta da Ribeira (Algoz, Silves), é sítio onde se pode saborear a rica e ainda pouco divulgada cozinha do barrocal.

Ainda bem que continuam a existir pessoas com espírito e forças para se manterem à tona em tempos difíceis como os que se vivem na restauração, sobretudo fora das grandes cidades e dos modismos de ocasião. No caso do restaurante Ribalta, há uma dupla feminina — a mãe na cozinha e a filha na sala — que demonstra estar unida para fugir às muitas banalidades que encharcam as mesas costeiras da região e sobretudo apostada em querer mostrar a outra identidade da mesa algarvia. A rica e ainda pouco divulgada cozinha do barrocal.

A Quinta da Ribeira, onde se situa o Ribalta, fica à margem de uma estrada secundária na localidade de Ribeira Alta, freguesia de Algoz. O espaço é grande e recebe eventos tão diversos como noites de fado, danças orientais ou diversos casamentos num salão contíguo. Cá fora, dois espantalhos recostados na esplanada anunciam uma decoração pejada de objectos de artesanato e acessórios diversos, por vezes um pouco excessiva, mas a revelar personalidade e carisma. A carta é extensa e alguns pratos atractivos requerem encomenda prévia, pois, conforme os comentários irónicos da ementa sugerem, há coisas que “há quando há”, ou seja, aqui as coisas têm a sua época, tempo e modo próprio de preparar.

Da vasta ementa destacam-se açorda de grão com hortelã, bacalhau albardado, lentilhas com carnes e abóbora, veado com cogumelos, galinha acerejada, vitela com molho de alfarroba. Os pratos vão variando a cada dia, mas ligando antes pode reservar-se algum em particular. Em visitas distintas provou-se o “misto à Quinta da Ribeira” (7,50 euros), um bom rol de aperitivos com azeitonas, pão, chouriço e um requeijão a saber a caseiro. Veio um belo “picadinho das matanças” (4 euros) com pedacinhos de carne de porco condimentados com massa de pimentão e fritos em banha, saboroso e sem exageros de tempero. Perfeição é a palavra que se adequa ao “xerém de amêijoas” (7,95 euros), rico em bivalves, e de consistência e sabor irrepreensíveis a darem forma às típicas “papas amarelas”.

Um dos pratos do dia foi a “feijoada de buzinas” (12,95 euros), que ficou aquém do esperado, com o feijão a estar cozido de mais (algum espapaçado), e as “caracoletas marinhas” a surgirem de sabor quase obnubilado, talvez por algum ingrediente forte usado no refogado inicial. Muito bons os “chícharos com arroz à moda antiga” (7,95 euros), onde a leguminosa aparentada do tremoço se embebeu dos sucos que as diversas carnaduras de porco (entremeada, chispe, toucinho, etc.) libertaram para o agradável arroz caldoso que os unia num tachinho de barro em dose generosa. Igualmente muito bem confeccionado estava o “javali estufado” (12,50 euros), servido com saborosas batatas fritas aos cubos junto aos “naquinhos” porcinos selvagens que se derretiam na boca num tempero muito guloso.

A carta de vinhos é confusa e dispersa entre vinhos corriqueiros de gamas baixas a preços opostos, com uns quantos mais cotados a serem todos tabelados a 33 euros a garrafa, embora muitos fossem diferentes entre si (a vários níveis), e ainda alguns algarvios de qualidade como o “vizinho” Barranco Longo a preços abordáveis. Pareceu-me haver demasiados rótulos a triplicar ou até a quadruplicar de preço. Uma aposta mais forte nos bons vinhos locais talvez fosse mais vantajoso para todos.

Nos doces dá-se o fenómeno inverso, com a oferta abrangente e de qualidade a ter preços abaixo do valor real, sobretudo pela qualidade e originalidade demostrada, como foi o caso de uma genuína e sumarenta “torta de laranja” (2 euros), ou da invulgar “torta de figo maduro” (2 euros), muito equilibrada no uso de outro fruto emblemático da zona, a mostrar uma textura sedosa e húmida.

A anfitriã é tímida e atenciosa, com a restante equipa a cumprir o básico. O que prevalece aqui é a ideia de este restaurante ser um projecto identitário acima de do facto de ser naturalmente um negócio. Vale a pena ligar antes, questionar acerca da enorme carta disponível e escolher de entre o repositório valioso da cozinha regional algarvia que aqui se pode encontrar.

Nome
Ribalta
Local
Silves, Algoz, Quinta da Ribeira, Estrada da Ribeira Alta
Telefone
282575714
Horarios
Domingo, Segunda-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 12:00 às 15:00 e das 19:00 às 22:00
Preço
20€
Cozinha
Algarvia
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