Fugas - restaurantes e bares

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Passa-se um belo Outono na praia Morena no restaurante que só fecha quando chove: o Borda d’Água

Por Miguel Esteves Cardoso ,

Não é nada fácil encontrar restaurantes de serviço completo mesmo em cima das praias da Caparica que sirvam bem e que estejam abertos todo o ano. O Borda d’Água é essa rara criatura. Abriu em 1995 e na véspera do vigésimo aniversário tem sido capaz não só de resistir à decadência como de ir melhorando com cada ano que passa.

O Borda d’Água tem um excelente serviço de bar e de sanduíches mas é no restaurante que se distingue. Conseguiu unir o melhor de dois mundos: a atmosfera informal, simpática, preguiçosa e tagarela de um bar de praia com a eficiência e os altos padrões culinários de um restaurante de primeira.

Os panos de mesa, tal como os guardanapos, são de algodão. As instalações são bonitas e confortáveis e os empregados são bons conselheiros e exímios praticantes.

A flexibilidade é uma das qualidades mais raras de um restaurante. Vou dar um exemplo: apesar de a ementa listar vários peixes grelhados (e escalados...), a preços muito razoáveis, escolhi uma dourada fresquíssima (ainda com a tripa dentro) e perguntei se podia ser cozida inteira com feijão verde e brócolos. O empregado não hesitou. Não foi perguntar a ninguém. Respondeu apenas “Claro!”.

Passados vinte minutos lá estava a dourada perfeitamente cozida — em água salgada com uma cebola — acompanhada de feijão verde e brócolos igualmente frescos, igualmente acabados de cozer. 

Até no teste da água passou: os restaurantes que servem garrafas de litro e meio tendem a ser mais porreiros. Sobretudo quando a louça e os talheres são impecáveis.

A honestidade — logo na primeira visita, a um par de estranhos — também não é habitual nos restaurantes de praia, exceptuando casos notáveis como o Neptuno, na praia das Maçãs. Quando encomendei picanha, o empregado desviou-me para uma escolha melhor: “Hoje está melhor o peixe”.

Perguntei de onde tinha vindo a dourada, que estava sublime. Poderiam ter respondido que vinha da Fonte da Telha, ali ao lado, ou das lotas de Sesimbra ou de Setúbal. Mas não: disseram-me logo que vinha da Makro, em Azeitão. A Makro de Azeitão, pelas experiências que tenho tido, fornece bom peixe fresco e um excelente atum. Deve comprar o peixe na lota de Setúbal, uma das melhores do país.

O atum também é do melhor. Comemos dois bifes quase crus no Ribamar Tróia, grelhados pelo lendário Hélder Chagas, que também eram de lá. O mestre Chagas explicou-nos que também tinham atum inteiro, fresco, mas que este, ao fim de 24 anos, fica castanho. O atum da Makro leva um tratamento inócuo para fixar a cor. Embora o sabor não seja afectado — o atum ou presta ou não presta — é mais bonito o atum com a cor original.

Depois de um almoço encantador, voltámos ao Borda d’Água para jantar. No Outono, a cozinha (desde que não chova) está sempre aberta, pelo que se pode ir jantar ao princípio do fim da tarde: uma altura maravilhosa quando o sol se põe cada vez mais cedo. Também se pode jantar muito tarde, que é outro prazer irresistível.

Pedimos dois bifes de atum muito mal passados — por 15 euros cada um, com todos os acompanhamentos — e ficámos espantados com a qualidade suculenta e saborosa do peixe. Parece que os japoneses ainda não deitaram a mão a todo o bom atum do mundo.

À noite o Borda d’Água é muito romântico. Durante o Verão, quando a praia Morena está cheia de gente, o Borda d’Água funciona a todo o vapor, chegando a servir 300 pessoas espalhadas pela praia e pelo restaurante, ao mesmo tempo. Sabe muito bem o milagre de lá almoçar, de garfo, faca e peixinho inteiro, cercados pelo rebuliço e a vinte passos daquelas águas empolgantes da Caparica.

Nome
Borda d'Água
Local
Almada, Costa da Caparica, Praia Morena
Telefone
212975213
Horarios
Todos os dias das 10:00 às 19:00
Todos os dias das 10:00 às 00:00
Website
http://www.bordadagua.com.pt/
Preço
20€
Cozinha
Peixe
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