É um deleite passear hoje pela Rua do Almada, a artéria que rompeu com a estrutura medieval do Porto e abriu portas ao urbanismo da cidade moderna. Às centenárias lojas de ferragens e ferramentas, que durante muito tempo lhe deram o epíteto de “rua dos ferreiros”, junta-se agora um comércio que reflecte as novas tendências, mas sempre sem adulterar os espaços e mantendo o cunho clássico e de classe que foram a marca da ruptura com a muralha medieval que até meados do século XVIII conteve o desenvolvimento da urbe.
Ao comércio alternativo, da moda ao vinil ou espaços ligados às artes, e às novas gerações que nos últimos tempos foram chegando, junta-se agora o dos bares e restaurantes, como é o caso do Romeo & Giulietta, uma casa que junta todos os predicados de bom gosto e classicismo num ambiente elegante e plurifacetado.
À cozinha de estilo contemporâneo e matriz tradicional, junta-se uma área de bar para degustação de vinhos e comidas de pequenas porções. Mais para dentro, uma ampla sala de chá e um acolhedor terraço, tudo num contexto de grande descontracção e evidente convite à fruição. Pormenor importante, a cozinha e todo o projecto têm a marca de Rodrigo Garrett, um cozinheiro jovem mas já com muito mundo. Fomação na Suíça, trabalho em Londres (restaurante Tuga) e Miami (Four Seasons Hotel) e prova de fogo no saudoso Bulhe, na Foz do Porto, um projecto que sucumbiu por vicissitudes societárias, mas onde rapidamente o chef impôs a sua cozinha, num estilo que nestas páginas David Lopes Ramos então classificou como nouveau interessant.
Depois de beber mais mundo, aí está de novo na sua cidade, com um projecto menos ambicioso em termos gastronómicos mas mais abrangente como conceito e sobretudo claramente adaptado ao estilo e ambiente de animação que domina a Baixa do Porto.
Do amor à cidade e à gastronomia e paixão pelos chás da sócia Susana Ferreira surgiu o nome. O ambiente é convivial e os compridos sofás que acompanham as paredes da sala voltada à rua logo o confirmam. Espaço para umas quatro dezenas de comensais, onde por estes dias no sentámos para desfrutar deste novo e simplificado conceito da cozinha de Rodrigo Garrett.
Um saquinho com pão de duas qualidades, com passas e de mistura, e tacinha de azeite como convite à degustação. A par de fatias tostadas de pão com pasta de tomates fresco, azeite e flor de sal (2€), as entradas compuseram-se ainda de “tábuas” com presunto Bolota (13€), queijo (7€) e carpaccio de carne (8,50€). Mesmo bom e muito bem cortadas as lasquinhas do presunto, primorosas também as lâminas de carne rosada, com rúcula, raspas de queijo e aromatizadas com trufa, enquanto o queijo de ovelha ganharia com a cura um pouco mais prolongada.
Dos chamados “clássicos”, convocou-se o “salmão grelhado” (13€), que acompanha com puré de batata, creme de alcaparras e ratatouille, o “bacalhau confitado” (14,50€), com feijão preto, croutons de centeio e couve bebé, o tradicional “rancho” (12€), numa interessante versão contida e civilizada, e a “costela mindinha” (14,50€), com risotto de cogumelos. Polvo assado na versão peixe como prato do dia (7€), numa proposta bem convidativa para uma refeição mais aligeirada e fora dos propósitos de degustação.
A lista de “clássicos” comporta ainda o “arroz frito thai” (13€) com frango e camarão, o “rosbife” (14€) com molho de pimenta verde, batata loura e legumes sautès, e o “cordon bleu” (12€) com legumes gratinados. Tudo a confirmar o acerto da tal cozinha nouveau interessant de Rodrigo Garret e o seu gosto pelo trabalho com base nos produtos e receitas da nossa tradição culinária.
Um compromisso que no caso deste Romeo & Giulietta tem ainda uma evidente preocupação com o equilíbrio de preços e a adaptação a uma clientela que privilegia o desfrute, a animação e convívio. O propósito gourmet e a sofisticação culinária são, claro, o objectivo do chef (e o espaço também o pede), mas há que não esquecer que, como reza a sabedoria popular, o caminho faz-se caminhando E primeiro é preciso cuidar do negócio!
Negócio que, além das refeições clássicas, passa também por uma oferta de “saladas”, “tábuas”, de queijos, presuntos e chouriços, ou “croques quentes” (sandes crocantes), com preços que vão dos 4,50 aos 9,50€. Tudo a proporcionar a degustação de vinhos e cervejas numa área que medeia entre o espaço de restaurante e a sala de chá. Há um balcão, bancos e mesas elevadas a proporcional ambiente convivial e ainda propostas de “montaditos” (8€) variados para entreter a boca. A lista de vinhos não é muito longa, mas sensata e equilibrada. Alimenta-se sobretudo do Douro, mas estão também representadas as regiões do Alentejo, Verdes e Dão, a par de alguns espumantes (nenhum da Bairrada).
E nada melhor que um bom copo de vinho em ambiente de convívio para saudar a renovação e animação que alastra pela Rua do Almada. Foi, afinal, com um imposto sob a venda de vinho na cidade — criado com a atribuição do monopólio à Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro — que foi financiada a construção da artéria que pela primeira vez rompeu com a delimitação da muralha medieval.
É certo que a taxa gerou uma revolta popular liderada pelos taberneiros, que foi violentamente esmagada pelas autoridades e acabou com 25 condenações à forca e 99 degredos. É por isso que a rua faz hoje parte do roteiro do Vinho do Porto, memória que ficará sempre mais rica viva com espaços de amor à degustação prazer gastronómico como este Romeo & Giulietta.
- Nome
- Romeo & Giulietta
- Local
- Porto, Sé, Rua do Almada, 249
- Telefone
- 223233218
- Horarios
- Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 10:00 às 00:00
e Segunda-feira das 10:30 às 18:30
- Website
- http://www.romeogiulietta.pt/
- Preço
- 25€
- Cozinha
- Autor
