São muitos os que gostam de reviver a época em que as Famel, Casal e companhia percorriam incessantemente as estradas nacionais. “Mesmo jovens que não viveram esses tempos”, sublinha Carla Matos, uma das colaboradoras do espaço. A pergunta mais frequente de quem chega é se todas as motos funcionam, conta: “A maioria sim e algumas às vezes dão uma voltinha.” A Vespa vermelha que nos recebe à porta é uma dessas que certamente dará voltas pela cidade — pertence à legião estrangeira do Route 199, que sendo bar poderia ser também uma espécie de museu, suscitando curiosidade até a quem não tenha qualquer interesse particular por motos. Estas estão maioritariamente dispostas em prateleiras de madeira clara, que compõem dois andares de exposição; algumas estão brilhantes dos restauros, algumas pintam-se do peso da idade e da insidiosa ferrugem; há-as pesadas e as que são quase motocicletas (e há mesmo uma bicicleta com motor); umas remetem-nos para muitas décadas atrás, outras ficam-se na fronteira dos anos 1980 que marca a decadência de muitas marcas nacionais. Com as motos, está toda a parafernália que as rodeiam, desde as suas várias peças mecânicas às ferramentas necessárias para as manter a trabalhar (exibidas em placards), de antigas latas de combustível e lubrificante a peças de carroçaria — e a cabina de DJ é uma antiga bomba de gasolina para motociclos, uma Mobiloil, branca e velhinha, “que às vezes ainda verte”, enquanto os finos são tirados de antigas máquinas de óleo e de lubrificação, que vistas no balcão parecem lanternas antigas.
É incontornável falar de tudo isto porque tudo isto preenche até à exaustão o Route 199, que se por vezes até pode parecer uma oficina antiga, se encontra alojado num edifício emblemático (e centenário) da Rua de José Falcão, fachada neo-mudéjar do que foi um armazém-mostruário da Fábrica de Cerâmica das Devesas. A sala ocupada pelo Route 199, no rés-do-chão com janelas em arco e rendilhado em ferro e pé direito alto que termina num tecto com estuques, não é novata nesta questão de bares. A sua vocação noctívaga conheceu outra encarnação no antigo bar Alfaiate, que deixou vestígios — as mesas são as mesmas: altas, algumas com tampos de vidro que guardam, como vitrinas, camisas, tecidos e outras matérias-primas indispensáveis numa alfaiataria.
Além de partilhar com o Alfaiate o mesmo proprietário, partilha também a mesma tendência musical e o mesmo espírito dançável, abençoado por várias bolas de espelhos. Os anos 1980 são combustível para as noites mais emblemáticas do Route 199, as de sexta-feira e sábado, deixando as quartas-feiras nas mãos dos estudantes Erasmus e as quintas-feiras para incipientes festas africanas — muito quizomba e funaná alimentados por uma banda cabo-verdiana. A música ao vivo também faz algumas aparições à sexta-feira, até à 1h30, mas desta feita com outros ritmos: bossa-nova e rock já marcaram presença. Nas bebidas, a presença mais constante são os mojitos: não os provámos, e temos de confiar em Carla Matos quando nos diz que são muitos requisitados e, claro, os “melhores do mundo”.
- Nome
- Route 199
- Local
- Porto, São Nicolau, Rua José Falcão, 199
- Telefone
- 222033098
- Horarios
- Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 21:00 às 04:00
- Website
- https://www.facebook.com/route199