Fugas - restaurantes e bares

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Vamos pegar no garrafão e comprar vinho a granel?

Por Alexandra Prado Coelho ,

Abriu em Campo de Ourique, Lisboa, uma loja que recupera o espírito das adegas e que quer aproximar os consumidores dos pequenos produtores de vinho.

Já é possível num bairro de Lisboa — digamos, Campo de Ourique — agarrarmos num garrafão que podemos ter em casa e ir à loja enchê-lo de vinho. Ou seja, já é possível, no meio da cidade, comprar vinho a granel como se fazia antigamente. A ideia partiu de três amigos, os sócios Manuel Vargas, Jorge Encarnação e Rui Lucena, e a Oficina do Vinho abriu as portas a meio de Novembro — precisamente em Campo de Ourique, na Rua Correia Teles. 

“A distribuição do vinho está normalmente nas mãos de grandes distribuidores, e os pequenos produtores muitas vezes têm dificuldades em escoar o seu produto”, explica Jorge Encarnação. “O que nós quisemos aqui foi aproximar esses pequenos produtores do consumidor final.”


Assim, num pequeno espaço no centro de Lisboa, tentaram recriar “o ambiente de uma adega”. O enoturismo já começa a ganhar alguma importância em Portugal e as pessoas sabem que se visitarem o produtor na sua quinta podem conhecer a vinha, a adega e provar o vinho antes de o comprar. Na Oficina do Vinho não há vinha, claro, mas há quatro grandes reservatórios em aço inox com uma capacidade de 650 litros cada um, dois de vinho branco e dois de tinto, de duas regiões diferentes (no dia em que visitámos eram o Alentejo e o Tejo, mas a ideia é que vão rodando).

Um pouco mais ao fundo há oito reservatórios mais pequenos, dos quais vemos apenas as torneiras que saem da parede, com outras propostas de vinhos, de diferentes regiões e outros produtores. A Oficina vende também vinho engarrafado, mas o que aqui faz a diferença é, como explica Jorge, esta ideia de que os clientes podem provar o vinho e escolher aquele que mais lhes agrada sem conhecerem a marca ou o produtor, o que os liberta das ideias feitas que normalmente presidem à escolha num supermercado ou garrafeira.

Vamos, então, a uma demonstração de como funciona. “Aqui incentivamos o combate ao desperdício”, continua Jorge. Por isso, o cliente é convidado a escolher entre os três recipientes disponíveis: uma garrafa de um litro, uma de dois litros ou o garrafão de cinco litros (de plástico branco mas a imitar o entrançado dos garrafões antigos). Da primeira vez paga uma taxa por esse recipiente, mas pode levá-lo para casa e reutilizá-lo as vezes que quiser. Na Oficina existe uma máquina que lava as garrafas (são sempre lavadas mesmo que venham limpas de casa) antes de serem novamente enchidas.

Depois, é preciso escolher o vinho. O sócio que na altura estiver a atender na loja pergunta ao cliente se tem preferência por alguma região ou se quer uma sugestão. Em seguida dá a provar o vinho escolhido e, se agradar — “a pessoa pode perceber imediatamente se se identifica ou não” — só é preciso encher a garrafa, abrindo a torneirinha do reservatório e utilizando um pequeno funil. Fechada, leva depois um rótulo e uma etiqueta autocolante em que são colocadas as informações essenciais: se é branco, tinto ou rosé, seco, meio-doce ou doce, a região, o ano e o lote.

São referências obrigatórias, explica Manuel Vargas, que para além de sócio é produtor de vinho e azeite (que na Oficina se vende também a granel) no Alentejo. “Trabalhamos com o Instituto do Vinho e da Vinha, que regula todas as entradas e saídas de vinho da loja. No fundo, funcionamos com as regras que se aplicam a um engarrafador.” Mas o processo não é simples. De cada vez que é preciso encher os reservatórios a loja tem que fechar para que se possa fazer a transferência do reservatório de transporte para os outros através de um sistema de bombagem.

“É muito mais fácil vender vinho engarrafado”, diz Manuel. “Todo o processo de legalização para podermos vender a granel foi complicado, porque a lei existia mas não estava adaptada aos dias de hoje.” Mas estão satisfeitos com o resultado. Para já trabalham com um número ainda pequeno de produtores, mas desde que a loja abriu têm sido contactados por outros a manifestar interesse em ter também o seu vinho à venda a granel. “São sempre vinhos jovens, sem trabalho de madeira”, sublinha Manuel. Para já, além do Tejo e do Alentejo, têm vinho da região de Palmela e de Trás-os-Montes, mas prometem em breve ter também do Douro e do Dão.

Embora o vinho seja o centro de tudo, e não tenham pretensões a ser uma mercearia gourmet, oferecem ainda outros produtos a granel, do sal às azeitonas ou ao tomate seco. Ao fundo, encontramos também (estes embalados) queijos, enchidos e presuntos que estão ligados a alguns dos produtores com os quais trabalham. E pronto, é só passar pela loja e escolher o vinho — não esquecendo de levar a garrafa ou o garrafão, de preferência este, porque quando mais litros comprar mais de cada vez menor é o preço por litro.

Nome
Oficina do Vinho
Local
Lisboa, Santo Condestável, Rua Correia Teles, 22A
Telefone
215944155
Horarios
Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira e Sexta-feira das 11:00 às 20:00
e Sábado das 09:30 às 19:00
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