Portugal tem justa fama de bom peixe e injusta fama de má carne de vaca. É verdade que a grande maioria dos bifes que para aí se comem é má, assim-assim ou apenas boazita.
Hoje vou falar de um restaurante em que a carne é sempre boa e perfeitamente grelhada. É um restaurante onde vai muita gente e que está quase sempre cheio (sobretudo às sextas, sábados e domingos), pelo que recomendo que se reserve e se vá à segunda, quarta ou quinta, para não haver frustrações.
O proprietário e grelhador é criador de gado em Lamego. Convém falar com ele antes de escolher. É que a escolha é grande. Pode-se escolher bifes e costeletas de quatro raças autóctones portuguesas: a arouquesa, a barrosã, a maronesa e a mirandesa.
Tenho provado todas e são todas deliciosas e inconfundíveis. Nos restaurantes de peixe é normal haver escolha de peixes. Neste restaurante há escolha de carnes de vaca. Há também um bife gigantesco que dá para quatro pessoas que tem óptimo aspecto e que sai muito mas que nunca provei.
A carne é tão boa e as doses tão generosas que recomendo que resista às tentações das entradas, dos acompanhamentos e das sobremesas. Guarde o espaço no seu estômago para a carne porque senão não conseguirá acabá-la.
O restaurante chama-se Moinho Ibérico, fica em Arneiro dos Marinheiros, no caminho de quem vai para o Magoito. Tem duas salas separadas: uma para fumadores e outra para não-fumadores. A sala onde está a grelha — e o sábio Manuel — é a dos não-fumadores.
O serviço, assegurado pela simpatiquíssima mulher do Manuel, a Paula, e pelo bem disposto Hugo, é de escala humana e de escola antiga: amistoso, eficiente e cortês. Fica-se amigo. Nota-se, logo na primeira vez em que se vai lá, que os clientes são todos amigos e fiéis de longa data.
Recomendo que vá ao site Fotografias de Raças Auctóctones (autoctones.ruralbit.com) para ficar com uma ideia da espantosa quantidade de raças de bovinos, asininos, aves, cães, caprinos, equinos, ovinos e suínos que têm conseguido sobreviver num mundo cada vez mais industrializado e uniformizado.
As fotografias das vacas e os bois de todas as raças são bonitas e mesmo o mais ávido carnívoro sentirá pesar o coração. Mas o lema do site é bom: “Conhecer para proteger”.
É mentira que se tem de escolher entre ser vegetariano ou carnívoro. Pode-se comer carne de vaca só duas ou três vezes por mês. Mas, quando se come, é bom saber que o animal abatido teve uma existência feliz.
A carne de um animal feliz tem melhor sabor: é menos gorda mas é muito mais saborosa. Comer “um bife” sem sequer pensar no animal de onde veio é confortável e leve para a consciência mas é uma forma de desprezo, crueldade e irresponsabilidade.
No caso do Moinho Ibérico o proprietário é criador e pode responder pelos animais que mandou abater. A preservação das pelo menos 15 raças autóctones de bovinos depende de uma procura informada e responsável.
A carne é um luxo e é assim que deve ser tratada. No Moinho Ibérico, quando o Manuel tira uma peça do frigorífico para desembrulhá-la e cortar uma costeleta ou um bife tem-se consciência do que se está a passar.
Conheço pelo menos um vegetariano que, uma vez por mês, vai ao Moinho Ibérico comer um bife, porque sabe de onde veio a carne. A carne é boa porque a alimentação dos animais foi boa e vegetariana.
Quando a costeleta vem para a mesa está sempre no ponto. Eu prefiro a carne muito mal passada mas o Manuel é melhor juiz do que eu e encontra sempre o ponto certo conforme a peça de carne. O resultado é invariável e inesquecivelmente delicioso. Garanto.
- Nome
- Moinho Ibérico
- Local
- Sintra, São João das Lampas, Avenida dos Moinhos, 110-112
- Telefone
- 916343970
- Horarios
- Terça das 12:30 às 15:00 e das 19:30 às 23:00
- Preço
- 15€
- Cozinha
- Grill
- Espaço para fumadores
- Sim
