O mundo e as comunicações estão hoje dominados pela electrónica, mas há ainda um carteiro que resiste. Ou melhor, que rejuvenesceu e se actualizou, mas o que importa mesmo referir é que estamos a falar de comidas e de um restaurante que dá pelo nome da profissão dos saudosos distribuidores da correspondência ao domicílio. A designação, herdou-a da pequena moradia que o aloja, um antigo posto de Correio onde à porta ainda permanece pendurada e preservada a placa metálica que o identificava.
As encomendas são agora de outro tipo e a correspondência deu lugar às comidas. Com a nova gerência, a casa adoptou um estilo mais contemporâneo mas sempre com base nos produtos e no receituário tradicional com o qual procura levar a carta a Garcia. A par de uma interessante lista de petiscos — que tanto servem para a hora da refeição como para amaciar a boca para um copo de fim de tarde no convidativo terraço da casa —, há polvo à lagareiro, bacalhau com broa ou uma bochecha de vitela que não deixam nunca que a modernidade e ambiência cool se sobreponham à mesa.
Outro dos aspectos convidativos deste Carteiro tripeiro é a sua localização: junto às águas do Douro, na zona de Lordelo do Ouro, a meio caminho entre a Ribeira e a Foz. Uma praceta verde e prazenteira que se abre ao rio, onde se mistura modernidade e tradição, o típico e o contemporâneo. Cool e revival, como agora se diz, com saudável convivência entre os estabelecimentos do lugar, que juntam desde a tasca aos atelieres de design na animação da área.
O restaurante instalou-se no primeiro andar da casinha. Há um portão de ferro e umas escadinhas que levam ao terraço, onde, em tempo próprio, se servem também refeições e petiscos. As divisões da casa ainda lá estão. Balcão ao estilo de velha tasca e prateleiras altas cheias de vinho, na divisão de entrada. Duas salinhas, uma para cada lado, com mesas e cadeiras também de outro tempo devidamente recuperadas.
A lista de entradas/petiscos consta de sopa do dia ou de abóbora, ovos verdes, panadinhos com molho mostarda, sardinhas de escabeche, língua de vaca laminada, salmão curado (gravlax), cogumelos com farinheira, alheira de caça com maçã e vinho do Porto e ovos à Antigo Carteiro. Doses que variam entre 1,50€ e 9€. Bem interessante a recuperação da tradição da língua de vaca seca, numa apetitosa e fresca combinação com limão e gengibre. Boa palpitação também com os ovos recheados com ovas de bacalhau e ervas, assim como com os túbaros de porco com puré de alho assado, que faziam parte dos “aperitivos do dia”.
A par de três saladas (verde, de frango e de salmão curado – 7/12€), são propostos três folhados, de salmão curado, timbal de caça e de legumes (13/15€). Nos peixes, a oferta vai desde a açorda de gambas (14€) e arroz de mexilhões (14€) ao bacalhau com broa (16€) e polvo à lagareiro (15€), sempre complementados pelo prato do dia, que varia dependendo do pescado que chega.
À bochecha de vitela (14€), que se provou numa competente versão em verde tinto, associa-se o peito de frango recheado com alheira, perdiz de escabeche, bife à portuguesa, joelho de porco confitado e perna de cordeiro de leite com arroz de grelos, que é anunciada para duas pessoas (23€). Pouco ortodoxa a combinação do joelho de porco com um arroz de açafrão com nozes, pimento, passas e salsa, que muito melhora quando envolvido pela gordura e molho do confit.
Sobremesas igualmente assentes no receituário tradicional. Boa execução no doce de ovos Largo do Ouro, com amêndoa, e nota bem positiva também para as rabanadas à Antigo Carteiro. A carta propõe ainda tarte de lima, crumble de maçã e mousse de chocolate, variando os preços entre 3 e 4 euros.
Para lá das propostas da carta, de segunda a sexta ao almoço há um prato do dia de peixe e outro de carne (7€ cada), assim como uma entrada/aperitivo do dia (2€), adequados para um almoço de custo mais contido.
A par do ambiente acolhedor, de tendência cool e enquadramento vintage, o serviço é correcto e simpático. Carta de vinhos equilibrada e com boas sugestões fora dos vinhos de grande consumo.
Em resumo, pode dizer-se que, num conceito que busca o equilíbrio entre as receitas e sabores mais tradicionais e uma envolvência moderna e vanguardista, a cozinha deste Antigo Carteiro se esforça por levar a carta a Garcia. Tenha-se em conta, no entanto, que a experiência neste restaurante não valerá apenas no estrito prisma gastronómico e se estende também ao lugar e ambiente que o rodeia. Convidativo mesmo é o terraço, que em tempo ameno promete devolver memórias de outros tempos e petiscos e vinhos a condizer.
- Nome
- O Antigo Carteiro
- Local
- Porto, Lordelo do Ouro, Rua Senhor da Boa Morte, 55
- Telefone
- 937317523
- Horarios
- Todos os dias das 12:00 às 15:00 e das 19:00 às 23:00
- Website
- https://www.facebook.com/oantigocarteiro
- Preço
- 25€
- Cozinha
- Trad. Portuguesa
