Fugas - restaurantes e bares

  • Fernando Veludo/nFactos
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Estilo familiar e comidas saborosas e substanciais

Por José Augusto Moreira ,

À oferta alargada e produtos de temporada e da melhor qualidade, o portuense Manuel Alves associa os assados no forno de grande competência. Do cabrito à vitela, ou do bacalhau aos robalos, o forno constituiu apetecível mais-valia.

Por estes dias, o menu da casa portuense Manuel Alves ainda destaca que “há sável frito e lampreia”, mas não será certamente esta a causa para uma maior procura ou particular afluência. As especialidades de temporada fazem parte da natureza da sua cozinha e a oferta dos produtos de época, aliada ao critério na sua escolha, são um dos pilares em que assenta a sua já longa reputação.

Neste restaurante de estilo familiar e confortável pratica-se uma cozinha de raiz regional e tradicional e que tem nos competentes assados de forno uma evidente e apetecível mais-valia: do cabrito à vitela, ou do bacalhau aos peixes frescos, que chegam à mesa directamente do calor e ainda nas tradicionais assadeiras de barro vidrado.

As inevitáveis tripas, o copioso cozido à portuguesa, o arroz de pato ou uns exclusivos camarões à moda do chefe compõem ainda o ramalhete de comidas saborosas e substanciais. Que até podem ser pouco recomendadas pelos dietistas mas que são fonte de felicidade. Para os mais gulosos, pelo menos!

Com uma história a rondar já o meio século, o restaurante alarga-se por três salas, num estilo tipo matrioska. Não que tenha qualquer ligação com as célebres bonecas russas em madeira que se multiplicam, mas apenas porque também aqui se entra pela sala maior, através da qual se passa à intermédia e depois à mais aconchegada, que noutros tempos foi espaço dedicado a vinhos e petiscos e acolhe agora os fumadores.

O ambiente é espaçoso e confortável, estilo simples, serviço despachado e amigável. Mesas e cadeiras em madeira, toalhas de tecido cobertas com papel branco e guardanapos de algodão. Instalamo-nos na sala do meio, onde neste caso está de facto a virtude. Ou seja, a cozinha cujo labor se antevê através de amplas aberturas por detrás do balcão de serviço. Pouco acrescenta, é certo, mas sempre aguça o apetite poder ver e perceber um pouco como tudo acontece.

A lista é ampla e entre a carta e as sugestões do dia (com várias repetições) há umas boas três dezenas de sugestões. Peixes na brasa, cozidos e arrozes diversos, assados no forno e carnes grelhadas, com peças de várias proveniências.

Pão branco, indiferenciado, e pacotinhos de manteiga sobre a mesa, tendo para entrantes sido convocados um saboroso salpicão de carnes avinhadas, em finas rodelas, e umas pataniscas bem escorridas e crocantes com aroma de bacalhau.

Camarões no forno
Despertaram curiosidade os “camarões assados no forno à moda do chefe” (15,50€), que chegaram à mesa no grande prato de barro em que foram a cozinhar no forno. Oito garbosas gambas, de bom calibre e lombos descascados, que absorvem brevemente o calor e se envolvem com molho refogado à base de cebola, malagueta, caril e o que pareceu ser um pouco de pimentão. Acompanha com batata frita à rodelas, seca e muito bem escorrida, embora um dos comensais não tenha resistido a convocar o arroz branco seco. Marisco fresco e macio, no ponto correcto de cozedura, que sai valorizado pelo equilíbrio do molho levemente especiado. Conjunto harmonioso, saboroso e muito agradável. Boa surpresa.

A convocatória seguinte recaiu sobre o “bacalhau assado no forno com batatas” (19,50€). Um lombo do cabeço completo do gadídeo, que vai ao forno sobre uma capa de cebola e tiras de bacon, acompanhado por batatas aos gomos. Quantidade mais que generosa, produto de boa qualidade e amanho correcto, ao estilo do melhor da tradição culinária regional. Bem demolhado, lascas consistentes mas com certa resistência à separação, talvez pelo forte e rápido choque térmico que impede a lenta libertação das gelatinas que o fazem tão suculento e saboroso. Não estava perfeito mas ficou lá perto.

No capítulo cárnico a escolha foi para os “miminhos de boi no espeto” (22€), que amplamente convenceram, quer pela altíssima qualidade da carne, quer pela forma simples e impecável como é tratada. Macia, delicada e a desfazer-se em sabor e a acompanhar com legumes salteados e as mesmas batatas às rodelas, secas, crocantes e saborosas.

Além das especialidades já assinaladas, as propostas do dia alargavam-se ainda pela dourada, robalo ou rodovalho para grelhar, também sardinhas e carapaus, o bacalhau na brasa, a pescada à posta ou em filetes, o polvo em filetes e seu arroz, fanecas fritas, espetada de lulas, peixe-espada ou salmão. Passando às carnes, oferecia-se cabrito, tripas, arroz de pato, vitela assada, rosbife à inglesa, plumas de porco preto, costeletas de vitela, coelho assado e posta de vitela à mirandesa. Doses a rondar os 12/15 euros, passando para a casa do 20 quando em dose dupla ou para ao 7/9 euros na versão meia-dose que, diga-se, é mais que suficiente para qualquer bom manducador.

Garrafeira a rever
Nas sobremesas, a oferta é igualmente alargada e com base no receituário tradicional. Provaram-se o toucinho do céu, a tarte de bolacha e a tarte de amêndoa, que de igual forma se recomendam.

Entre tanta fartura e correspondente qualidade, merece reparo o arroz branco, um agulha sem sabor e sem alma, quando o nosso carolino dá tão boa conta de si. Percebe-se bem por que é que o arroz não faz parte da generalidade dos acompanhamentos.

A rever também a garrafeira, que claramente não está à altura da qualidade e exigência dos pratos que são servidos. E bem mereciam vinhos a condizer. Percebe-se o propósito de contenção nos preços, mas bastaria uma meia dúzia de opções cobrindo a diversidade de estilos e regiões e a coisa já se compunha, mesmo sem fazer disparar os preços. É que as opções são não só curtas como correspondem também ao comum das prateleiras mais baixas dos supermercados.

Com uma cozinha consistente e segura e bem apoiada na tradição e em produtos qualidade, este Manuel Alves é poiso agradável e acolhedor, com serviço familiar, despachado e sempre muito atencioso. Haja vinho e temos casa para grandes voos, que é como quem diz, grandes refeições.

Nome
Restaurante Manuel Alves
Local
Porto, Paranhos, Avenida Fernão Magalhães, 782
Telefone
225371627
Horarios
Todos os dias das 12:00 às 15:30 e das 19:00 às 22:30
Website
http://restaurantemanuelalves.pt/
Preço
20€
Cozinha
Trad. Portuguesa
Espaço para fumadores
Sim
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