Fugas - restaurantes e bares

  • Nuno Ferreira Santos
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Grelhados exemplares em Campo de Ourique

Por José Augusto Moreira ,

Às carnes e peixes assados em brasas de carvão, juntam-se produtos e algumas especialidades da cozinha regional. No Europa, as sardinhas, em seu tempo, são das que mais bem são tratadas em toda a Lisboa.

No ambiente ecléctico do Bairro de Campo de Ourique não faltam opções e tendências no que à restauração diz respeito. Da cozinha de autor à gastronomia oriental, do conceito gourmet à tasca popular, passando também por uma série de bons restaurantes em representação da diversidade das nossas cozinhas regionais.

Classificado como um dos lugares mais cool de Lisboa, como agora se diz em linguagem turística, a quadrícula urbana delineada por Ressano Garcia em finais do século XIX tem a sua história associada aos ideais liberais e à implantação da República. Por aqui se acolheram em clima de compromisso intelectuais e artistas, escritores, oposicionistas, conspiradores e operários, trazendo a este bairro burguês uma vivência cúmplice e complementar.

Com gentes oriundas dos quatro cantos do país, A Aldeia de Lisboa, como é classificado o bairro no livro de José Eduardo Carvalho, reflecte essa diversidade ecléctica, de que a restauração por aqui instalada é talvez o melhor exemplo. Assim se queira — e possa — e há diversidade para refeiçoar ao longo de meses sem riscos de repetição ou enfado.

Entre essa variedade está o Europa, um restaurante que se destaca pela simplicidade e correcção dos grelhados no carvão. Ainda mantém a designação de cervejaria, que era a sua vocação inicial, mas com recentes obras de remodelação ganha claramente relevo a feição restaurativa.

Apesar do nome, que terá apenas a ver com a vizinhança do antigo Cinema Europa, hoje em fase final de reconversão em bloco habitacional, trata-se de uma casa ao mais popular estilo português, com uma lista de peixes e carnes na brasa e alguns pratos à base de produtos e receitas regionais.

O espaço não abunda, mas os tons claros e a evidente arrumação ajudam a compor as coisas. As paredes revestidas a mármore banco (tal como o dos tampos das mesas) até meia-altura e a iluminação indirecta também contribuem para a arrumação visual. No balcão, que se alonga a quase todo o comprimento da sala, estão expostos os pescados e as peças de carne, chamando logo a atenção a vivacidade do braseiro instalado no topo voltado à porta de entrada. Destaque-se que não há ruídos, fumos ou odores, apesar de tudo se passar portas adentro e ali mesmo à frente das mesas de entrada.

Toalhetes, em algodão branco, ao estilo moderno e a cobrir apenas a parte central das mesas, guardanapos em papel e baixela simples e correcta.

Cestinha com pão saloio, outro com chouriço e fatias de broa de milho, tendo em seguida chegado um pratinho com trocinhos de linguiça e de farinheira grelhadas e aromatizadas com ervas e outro com queijo fresco. Nas porções entradeiras era ainda proposto queijo de ovelha alentejano e de Azeitão, saladinha de polvo e de grão com bacalhau, presunto, paiola, entremeada na brasa e morcela assada, com preços a variar entre 1,50€ e 6,50€. Provou-se o misto de enchidos (4,50€), saboroso e estimulante com a tal linguiça e farinheira, e o prato de presunto (6,50€), da Beira Baixa, muito bem cortado, em dose abundante e também generoso de sal.

Nos peixes para grelhar registe-se o facto de terem fornecedores de diferentes zonas, consoante as espécies. O sargo vem de Peniche, o salmonete de Setúbal, o linguado e o espada de Sesimbra e o besugo da Nazaré.

Muito bons e exemplarmente tratados no calor os “lombinhos de peixe galo à lagareiro com batata braseada” (13,50€). E o mesmo vale para o besugo (12€), que assa inteiro e apenas com dois golpes transversais para absorver o calor e preservar sabores e toda a suculência do peixe fresco. Chega à mesa com complemento de batata, feijão verde e cenoura cozidas.

À variedade de peixes, que sempre depende da faina do dia, junta-se o bacalhau à lagareiro (12€) e a oferta de mariscos, com amêijoas à Bulhão Pato (12€), gambas cozidas (40€/kg) ou camarão tigre de Moçambique na grelha (70€/kg). Há ainda as sardinhas, em seu tempo, que dizem ser as da grelha do Europa das que mais bem são tratadas em toda a Lisboa

Nas carnes para a brasa, igual preocupação com a diversidade de origens, da mirandesa ao porco preto alentejano, sendo ainda propostos dois bifes: “à Europa” (12,50€), da vazia e com quatro molhos à escolha (café, pimenta verde, mostarda e nata e cogumelos), e “à portuguesa” (13,50€).

Mas nem só das brasas se faz o proveito deste restaurante, propondo como sugestões diárias pratos e produtos da rica e variada cozinha regional. Tocou-nos a oferta de “bacalhau à minhota” (12€) e um raro e especioso “maranho de Vila de Rei à nossa moda” (13,50€).

Boa posta de bacalhau da cabeça e bem demolhada, que é confitada e chega à mesa na travessinha de ferro em que foi ao forno. Cobertura com cebolada e salsa picada e umas batatas fritas às rodelas a compor o prato. Tudo bom, apelativo e de esmerada confecção, com o único senão de as batatas acabarem também confitadas e empapadas em azeite, que lhes retira sabor e interesse. O conjunto fica mais atractivo, é certo, mas o melhor seria mesmo servi-las à parte, de modo a preservarem o sabor próprio, o crocante e o amido, que é fundamental para “embrulhar” a gordura do cozinhado.

Uma verdadeira delícia o maranho. Crocante, saboroso e atraentemente perfumado pela hortelã, que é utilizada em abundância no enchido. Acompanhava com broa e grelos migados e duas batatinhas braseadas, a proporcionar um prato elegante, apesar da sua rusticidade e sabores afirmativos. Muito bom mesmo e a mostrar que a cozinha típica e tradicional também pode ser servida em contexto cuidado e aspecto arrumado.

E é isto no fundo que distingue este restaurante, que à simplicidade dos grelhados associa alguns produtos e receitas da boa cozinha regional. A diferença está na qualidade do trabalho na grelha, no aspecto arrumado com que tudo chega à mesa. Aqui e ali um tanto retardado, é certo, mas as brasas pedem distância e isso também exige tempo.

Com um serviço que prima pela simpatia e atenção, e uma carta de vinhos que cobre satisfatoriamente as principais regiões, com predominância do Alentejo, o Europa é bem o exemplo de que a arrumação e cuidado não tem que ser um exclusivo dos ambientes mais sofisticados. Que o exemplo vingue e frutifique, que disso bem precisada está boa parte da restauração.

Nome
Restaurante Europa
Local
Lisboa, Campolide, Rua Francisco Metrass, 57
Telefone
213968902
Horarios
Segunda a Sábado das 12:00 às 22:30
Website
https://www.facebook.com/RestauranteCervejariaEuropa?ref=ts&fref=ts
Preço
20€
Cozinha
Grill
Espaço para fumadores
Sim
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