Fugas - restaurantes e bares

  • Miguel Manso
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A família aconchegou-se em Alfama

Por Mara Gonçalves ,

A Sagrada Família mudou-se para a Alfama. O fado aqui é outro, com cultura, gastronomia e outras músicas pela noite dentro.

"While she whispered a song along the keyboard / to Mal Waldron and everyone and I stopped breathing.” Billie Holiday faria cem anos na terça-feira passada e depois de um interlúdio dedicado a algumas das mais emblemáticas músicas daquela voz incontornável do jazz, Tiago Gomes inicia a noite de poesia com uma homenagem à cantora, lendo The Day Lady Died, de Frank O’Hara.

Tinham-nos dito que a sessão semanal de A Poesia Não Janta Sozinha começaria às 22h, são quase 24h quando as portas se encostam para ouvir a união improvisada entre a palavra falada de Tiago Gomes, as teclas desgarradas de Pedro Sotiry e a guitarra de Luís Câmara. Não há pressas, antes longas doses de descontracção, conversas e muitos cigarros. O espaço, cheio jantar adentro, foi-se entretanto esvaziando, resta um grupo de amigos da casa, alguns estrangeiros indiferentes. Ao longo da noite, haverá ainda tempo para alguém do público se juntar com uma harmónica, outro músico para um blues, cada terça sempre diferente ao sabor de quem aparece, dos acontecimentos que marcaram o dia, dos humores, da inspiração.

A poesia às terças-feiras já era uma tradição na Avenida Duque de Loulé e agora mantém-se em Alfama, mais aconchegada, mais intimista, como tudo o resto na nova casa da Sagrada Família. Depois de mais de um ano no espaço actualmente ocupado pelo Lisboa Comedy Club, a família mudou-se em Outubro para a Rua dos Remédios. Está mais pequena — perdeu o andar de baixo, onde faziam os concertos e as festas maiores — mas o conceito mantém-se, garante Célia Fialho, uma das responsáveis. “Costumo dizer que não mudou o Quê, mudou o Como. Focámo-nos mais na parte de restaurante-bar, mas de resto a essência é a mesma: ter uma porta aberta para vários tipos de arte e cultura.”

Além da poesia, há por isso sempre exposições de pintura, ilustração ou fotografia e a música é uma constante, não fossem os três sócios também eles DJ (Célia Fialho é Selecta Alice, Miguel Rodrigues assina White Selecta e Vanessa Amorim é DJ Tula). Sob a bênção de um poster gigante da bíblica Sagrada Família (trazido do espaço anterior), os ritmos vão nascendo num canto da primeira sala, guiados por uma programação que se quer manter ecléctica, entre os discos da casa, DJ convidados e pequenos concertos, agora só de um ou dois artistas.

Na segunda ala, é a cozinha aberta sobre o balcão que se destaca, criando os pratos de uma ementa que passou a ser sazonal, alterada de três em três meses. “Não temos vontade de comer as mesmas coisas no Inverno e no Verão”, justifica Célia Fialho, adiantando que o objectivo passa igualmente por “utilizar os ingredientes que a natureza nos dá em cada estação, para termos sempre as coisas mais frescas e utilizarmos também produtos biológicos”.

Na carta, surgem “sabores do mundo todo mas com um carácter aportuguesado ou com influência mediterrânica”, como o coelho à Bulhão Pato, ceviche de pescada, pudim de peixe com dois molhos ou gnocchi de abóbora com caviar de beringela. Ao almoço há menu Cantina (sopa, prato e café) e, uma vez por mês, as portas abrem-se ao domingo à tarde para um Afro Brunch, onde “cachupa e pastéis com o diabo dentro” se colam à sonoridade africana dos Celeste/Mariposa (dia 26). Todos os dias, independentemente da estação, há petiscos, sanduíches, hambúrgueres, pratos principais e sobremesas. Tudo servido até às 2h.

“É um restaurante-bar puro e duro”, define Célia Fialho. “Podem estar pessoas a ter uma refeição numa mesa e estar outra ao lado a beber um chá e a trabalhar no computador ou um grupo de amigos a beber vinho.” “Tudo é permitido”, assegura, recordando que o conceito é de uma casa de família, “onde ninguém olha para ninguém” e todos são recebidos, agora com “esse espírito e ambiente ainda mais concretizados devido à dimensão e forma do espaço”.

Apesar de “felizes com a mudança” para Alfama — “há mesmo uma comunidade entre a vizinhança e um ambiente nocturno mais alternativo mas com muita vida” — não descartam a hipótese de mudar novamente a casa à família ou de abrir um segundo espaço, onde possam voltar a ter uma sala de espectáculos para os grandes concertos e festas. Enquanto isso não acontece, estudam “uma parceria com um espaço já existente em Lisboa para lançar uma programação festiva”. A apresentação do novo projecto deverá decorrer em Maio e “vai ser para arrancar em Setembro”.

Nome
Sagrada Família
Local
Lisboa, Castelo, Rua dos Remédios, 98
Telefone
213520159
Horarios
Terça-feira, Quarta-feira e Quinta-feira das 12:00 às 02:00
Sexta-feira e Sábado das 12:00 às 04:00
Website
https://www.facebook.com/sagradafamilialx
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