Fugas - restaurantes e bares

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Comer à portuguesa em ambiente cuidado e singular

Por José Augusto Moreira ,

Diferente e cativante. Na Taberna dos Mercadores, no Porto, o espaço é reduzido, com quatro mesas apenas. Mas aqui cabe a tradição da boa cozinha e uma experiência única de comunhão e partilha entre cozinheiros, serviço e clientela.

É costume dizer-se que as grandes refeições são aquelas que nos deixam memórias de emoção e prazer. Seja pelos ingredientes e a forma como são cozinhados e apresentados, o contexto, o ambiente ou até a companhia. Pouco importa. O fundamental é que seja uma experiência prazerosa e singular.

Ora, singularidade será talvez a imagem mais apropriada para definir a Taberna dos Mercadores, um espaço exíguo, e que dificilmente encaixa na classificação de restaurante, mas simultaneamente cativante e onde cabe a tradição da boa cozinha portuguesa, preparada e servida com gosto, cuidado e elegância. E num ambiente mesmo muito especial.

A Rua dos Mercadores, que desemboca na esquina nascente da conhecida Praça da Ribeira, é uma via escura e esconsa e daquelas que bem espelham a antiguidade do Porto medieval. É aí que encaixa este restaurante, chamemos-lhe assim, numa espécie de palco de pedra onde o engenho e a arte de criativos arquitectos conseguiram montar o cenário de uma moderna sala de refeições. Cozinha e garrafeira incluídas. Tudo numa escassa meia dúzia de metros encaixados em vetustas e sólidas paredes de granito pintado de branco para deixar alguma sensação de desafogo.

Dezasseis lugares apenas neste ambiente acanhado e intimista onde conversas e comentários são necessariamente partilhados por toda a sala, tal como se estivéssemos em ambiente de família. Menos mal que se praticam normalmente várias línguas, impedindo assim que tudo acabe numa única conversa.

Juntam-se ainda mais dois lugares numa mesinha mais alta instalada na rua, que serviria apenas para assinalar o espaço mas que acaba por ser utilizada para a refeição por turistas que gostam de apreciar na plenitude a ambiência do burgo medieval.

As duas portas, que praticamente absorvem toda a largura do edifício, dão directamente para a sala onde funciona também a cozinha, separada das mesas apenas pelo balcão de serviço. É, assim, em plena comunhão entre clientes, cozinheiros e serviço que tudo funciona.

Esta taberna moderna e bem-posta, que está a caminho de completar um ano de funcionamento, é tributária da vizinha Adega de São Nicolau, que é uma das grandes referências da tipicidade da Ribeira sob o comando do astuto e experimentado António Coelho, que, ao que parece, conseguiu mesmo tirar um coelho da cartola com esta versão mais acolhedora e requintada da Rua dos Mercadores.

E as semelhanças notam-se logo com a ementa, que percorre o mesmo estilo e ofertas, só que servidas aqui com outro cuidado, elegância e enquadramento. “Comer à portuguesa”, como logo esclarece a placa pendurada na parede exterior, que vai dos peixes frescos ao polvo assado ou em filetes panados, do bacalhau ao cabrito, borrego e carne arouquesa. O cozido à portuguesa, o arroz de bacalhau com os seus filetes também cabem neste ambiente mais cosmopolita e elegante, assim como os sabores bem rústicos do arroz de salpicão avinhado ou a tenra cebola marinada em azeite e vinagre que é colocada na mesa com o pão, o azeite e as azeitonas.

À carta, que inclui entradas tradicionais como bolinhos de bacalhau, salada de polvo, amêijoas à Bulhão Pato ou alheira com grelos, juntam-se as propostas do dia, que surgiam divididas entre as “Do Mar” e as “Da Aldeia”.

Das primeiras, a oferta passava pela posta de garoupa grelhada (20€), robalo, dourada ou linguado ao sal” (preço variável), salmão grelhado (14€), açorda de mariscos (17,50€), arroz de lavagante (preço variável) e camarão tigre grelhado (26€). “Da Aldeia” chegava o fígado de vitela (11€), costelinhas com arroz de salpicão (11€) e a posta de vitela arouquesa (16,50€).

Provou-se o fígado, em dose bem proporcionada, e acompanhado pela batata cozida. Perfeito de textura e sabores, cebola macia e molho com pimento verde. Muito bom.

Bem interessante mesmo o “bacalhau da taberna” (17€). Vai ao forno com azeite, cebola, uns gomos grosseiros de batata e cobertura com puré de grão aromatizado com ervas que lhe dá uma envolvência crocante e saborosa, que casa na perfeição com a sua textura e gelatinas. Um prato equilibrado, saboroso e muito bem conseguido, que bem poderia até roçar a glória se conjugado com bacalhau de boa cura. Posta alta, de boa lasca, mas com textura e sabor a sugerir o ambiente de congelação de onde provavelmente chegou.

Puro produto a posta grelhada de vitela arouquesa. Rosada, macia e cheirosa depois de tratada no calor com evidente carinho e cuidado. Foi servida com batata a murro e grelos salteados que lhe evidenciavam as qualidades de sabor e textura dócil.

À evidente qualidade dos produtos — à qual se terá que subtrair, necessariamente, o bacalhau — há que associar a competência culinária e a eficiência, simpatia e profissionalismo do serviço. Tudo isto, aliado ao contexto específico da dimensão da sala, o enquadramento elegante e cuidado e o ambiente de convívio familiar, proporcionam uma experiência única e singular que vai necessariamente para além da satisfação gastronómica.

Referência ainda para a garrafeira, que, para lá da oferta alargada, causa impacto pelo facto de estar colocada por cima das nossas cabeças, como que fazendo parte da decoração do tecto da sala. Uma solução criativa e engenhosa para ultrapassar o problema da falta de espaço e que contribui também para aquela sensação de algo especial que caracteriza toda a refeição. A oferta centra-se nos vinhos do Douro, com amplo campo de escolha e alargado leque de preços, mas há também opções válidas para outras regiões.

Num contexto tão exíguo e especial, e com o assédio de turistas que logo se torna evidente, é claro que a marcação antecipada é quase obrigatória. Vale o acolhimento e simpatia do pessoal, que faz com que seja possível fazer uma refeição praticamente a qualquer hora da tarde ou noite.

Nome
Taberna dos Mercadores
Local
Porto, São Nicolau, Rua dos Mercadores, 36/38
Telefone
222010510
Horarios
Terça a Domingo das 12:30 às 15:00 e das 19:00 às 23:00
Website
https://www.facebook.com/tabernamercadores
Preço
30€
Cozinha
Trad. Portuguesa
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