Fugas - restaurantes e bares

  • Rita França
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Barraquinha (agora) bem instalada

Por José Augusto Moreira ,

Peixes e mariscos frescos, que quase saltam do mar e da lota de Angeiras (Matosinhos) para a mesa do cliente. A Barraquinha do Rijo é agora um espaço moderno mas mantém a informalidade amiga do serviço e a vocação petisqueira de sempre. E não saia sem provar o P.O.

Agora é a Barraquinha do Rijo porque a outra, a tasca de décadas onde ganhou fama e fez clientela, continua a funcionar ali ao virar da esquina, paredes-meias com o areal. Mas a história, como se vê, é agora outra: casa bem-posta, ambiente moderno, desafogado e com todas as comodidades e tecnologias de apoio. E, mais importante de tudo, os mesmos petiscos, peixes e mariscos, que de tão frescos se diz que quase saltam do mar para a mesa. Ficou-lhe o nome, mas trata-se agora de um espaço elegante e acolhedor, de serviço informal e despachado.

Terra de verdadeiros heróis do mar, Angeiras há muito que ganhou fama pelo dinamismo e qualidade da sua lota e mercado de peixe. Abastecido pela frota artesanal local, que persiste em manter viva a tradição secular da pesca, é poiso de abastecimento para todos grandes restaurantes do Grande Porto, e não há também cozinheiro — ou chef, como agora é de moda dizer-se — que se preze que ali não tenha o seu fornecedor. Para quem goste, e não se deixe impressionar pela agonia saltitante das espécies, é um deleite poder apreciar a variedade de peixes e mariscos, em regra ainda vivos. O mar, com toda a variedade, riqueza e frescura, está ali perante os nossos sentidos e a jovialidade traquina das hábeis vendedoras locais.

Mas se a pesca é uma tradição reconhecida e antiga, menos conhecida será, no entanto, a antiguidade da ligação gastronómica de Angeiras, que recua até ao tempo do Baixo Império romano. É que cavados nos rochedos costeiros, hoje levemente cobertos pelo areal, repousa um conjunto de tanques daquela época que se destinavam precisamente à salga de peixes ou à produção de outros tipos de conservas de pescado para uso gastronómico. Entre eles o garum, uma pasta de peixes e moluscos com vinho, azeite e ervas aromáticas, que era típico da alimentação da época.

Já não há garum na Barraquinha, nem tão-pouco necessidade de conservar os peixes, de tão frescos que são servidos. A par dos pescados e mariscos, servem-se também alguns dos petiscos de sempre, como é o caso do famoso P.O., uma sandes com presunto e ovo estrelado (3€) que continua a ser devorada na companhia de canecas de cerveja estupidamente geladas. Da lista de petiscos constam também amêijoas à Bulhão Pato (15€), pires de mexilhão; amêijoa branca; moelas; bucho/orelha; ou polvo (4/6€). Rissóis, bolinhos de bacalhau e sandes de presunto, polvo, isca ou prego do lombo (2,50/5€) completam as propostas, que tanto funcionam em regime de entrada de refeição como na lógica petisqueira a qualquer hora.

Há uma sopa de legumes (2€) e outra de peixe (3,50€), e também costeletas de porco, tiras de entrecosto ou o prego de lombo (7,50/13€), mas é seguro que se passarão semanas sobre semanas sem que o assunto cárnico vá à mesa.

Mandam, como é evidente, os peixes e mariscos frescos, que variam consoante o resultado da faina diária mas com presença mais assídua para os robalos, linguados, douradas, peixe-galo, carapau, marmota e faneca. Há também, em destaque, propostas para bacalhau na brasa (24€, dose dupla), e camarões tigres grelhados (70€/kg). Percebes, camarão da costa, sapateiras e navalheiras dominam a oferta nos mariscos.

Por duas vezes, e em jornadas consecutivas, petiscámos polvo (7€), saboreámos as percebes (40€/kg) e navalheiras (40€/kg), provámos sardinhas (10€) e degustámos belos exemplares de robalo (28,50€) e rodovalho (50€).

A frescura e qualidade dos produtos é imaculada, mas merece também ser destacado o tratamento culinário mínimo e adequado que preserva texturas e sabores. Exemplares os percebes, ainda com a sensação de algas e iodo. Nas navalheiras, de carnes bancas e sabor a mar, apenas uma leve cozedura e ténue picante (malagueta?) que lhes avivava os sabores. Nada de sal, tal como no pratinho com pedaços de polvo, onde apenas o pimentão reforçava igualmente o sabor e a textura macia.

Mesmo não estando ainda no melhor da temporada, as sardinhas não desmereceram e há que dizer que estavam mesmo bem assadas. Ainda que quase sem gordura, envolveram-se saborosamente com a batata cozida e uma bela salada de pimentos.

Imponente o rodovalho, grelhado inteiro ao calor do carvão, de carnes alvas e texturadas quase ainda a libertar sucos de sabor marinho. Fígados frescos, sangue agarrado à espinha e carnes da cabeça brilhantes e envoltas em gelatinas.

O mesmo tratamento rigoroso com o robalo, que mesmo tendo sido assado espalmado (escalado) mantinha as carnes preservando todo o sabor e suculência do peixe fresco. É regado na grelha com um pouco de azeite — receámos que fosse manteiga —, mas não há necessidade. Terá justificação nos casos em que a congelação os tornou secos, mas, tratando-se de peixe fresco, acaba por apenas perturbar a plena fruição da suculência da textura macia.

Nas sobremesas, há uma lista de aceitáveis bolo de bolacha, cheese cake, tartes de limão e de amêndoa (2,80€) e ainda rabanada (2,50€) e pão-de-ló (3€). Este sim, fofo e macio, de conhecido fabrico artesanal em Castelo de Paiva e com fama há muito firmada.

A par da casa nova e modernaça, na Barraquinha há também uma moderna e bem recheada garrafeira, se bem que escassamente reflectida na lista. Vale que as garrafas se vêm no expositor — que tem face para as duas salas e permite vislumbrar o que se passa do outro lado — e nas câmaras de temperatura existentes na sala. O mesmo se diga em relação aos azeites, tendo começado por vir à mesa um daqueles de vulgar produção industrial para acabarmos com o Flor do Tua, um belíssimo exemplar dos melhores do Douro e Trás-os-Montes.

E como não há duas sem três, há que dizer também que só quando criticámos o facto de não haver oferta de espumantes Bairrada nos foi servido o QMF (Quinta da Mata Fidalga), um bairradino moderno e voluptuoso que acompanhou com galhardia e generalizada satisfação toda a refeição. E este nem à vista estava.

Como se vê, a par da qualidade de peixes e mariscos, acaba por haver resposta para tudo nesta Barraquinha bem instalada mas onde a modernidade envolvente em nada perturba a informalidade amiga do serviço e a vocação petisqueira de sempre. Que seja assim por muito tempo.

Nome
A Barraquinha do Rijo
Local
Matosinhos, Lavra, Avenida Praia de Angeiras, 610
Telefone
935101668
Horarios
Todos os dias das 12:00 às 23:00
Website
https://www.facebook.com/pages/A-Barraquinha-do-Rijo/717779901647983
Preço
15€
Cozinha
Petiscos
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