Não lhe bastava ser um catraio como também é um catraio prematuro. E foi prematuro quando já estava na incubadora — numa incubadora de ideias onde até era para ter sido outra coisa. Era para ter sido uma cerveja artesanal e o projecto foi aprovado mas quando chegou à hora da verdade percebeu-se que já havia uma cerveja artesanal naquela “incubação”. A sugestão foi optar pela cidra, artesanal, mas Ricardo Queirós estava apostado na cerveja. “A outra ideia era abrir um bar-loja no Porto.” Essa ideia foi (também) aprovada e o que seria um projecto a longo prazo transformou-se em curto prazo quando, quase do nada, surgiu o espaço ideal para se instalar a primeira loja-bar dedicada apenas à cerveja artesanal no Porto. “Os meus avós viveram aqui. A minha mãe e a minha tia cresceram aqui”, explica Ricardo Queirós. “Foi um sinal, como que um regresso a casa.”
A casa deste Catraio Craft Beer Shop de seu nome completo está na Rua de Cedofeita — a família viveu em cima, Ricardo e Maria Afonso instalaram-se num rés-do-chão que já foi loja de decoração, pronto-a-vestir... É aqui que há quase quatro meses dão os primeiros passos no mundo da cerveja artesanal — daí o “catraio”: catraios eles, catraias as cervejarias artesanais em Portugal, catraios como homenagem à cidade do Porto “onde é uma palavra muito característica”.
Ricardo e Maria tinham apenas experiência de cerveja artesanal “na óptica do consumidor”. Interessaram-se quando provaram a Sovina (uma das pioneiras e agora uma das marcas mais reconhecidas em Portugal) e se iniciaram no sabor específico destas cervejas — “Depois, quando viajávamos já íamos atrás de cervejas artesanais e locais”. O que fizeram neste canto da Rua de Cedofeita foi trazer as cervejas artesanais ao Porto – as nacionais, em larga maioria, as internacionais em selecção cuidada e em permanente actualização. Tanto que o tríptico em lousa onde se inscreveram as referências da casa já está claramente ultrapassado, mas os menus vão acompanhando a progressão da oferta. Quem não conhece este mundo, contempla as dezenas de cervejas (são cerca de 25 marcas e cem estilos) que se alinham e não consegue deixar de se sentir perdido. O ideal será pedir ajuda. E na contabilidade final são as cervejas portuguesas as mais procuradas, confessa Ricardo, tanto por portugueses como por estrangeiros, que são o público maioritário à semana.
Passa pouco das 17h e a esplanada tem dois casais norte-americanos. Pedem “quatro IPA”: e isso é uma Indian Pale Ale, cor bronze, que Ricardo tira de uma torre de cerveja, para um dos muitos tipos de copos que se escondem por detrás do balcão. “Cada estilo de cerveja pede uma temperatura e copo ideal. Nós tentámos proporcionar a experiência completa e correcta”, explica. Mesmo que os portugueses se queixem frequentemente de que a cerveja não está fresca o suficiente, por exemplo — normalmente, as artesanais devem ser servidas entre os seis e os 12 graus, se não perdem-se as notas de sabor e aroma.
É também parte da vocação do Catraio ajudar a criar uma cultura da cerveja artesanal. E por isso quer ser uma espécie de plataforma para os produtores que nos últimos anos se têm multiplicado em Portugal. “Estamos todos a remar para o mesmo lado, a criar e a desenvolver um mercado novo.” Já houve lançamentos de várias cervejas aqui e até provas comentadas — tudo isso vai continuar, acompanhado de harmonizações, workshops e o que mais aparecer. Nesta função, o Catraio quase se torna uma cerveteca e está bem assim — a loja e o bar de mãos dadas, sempre, mas com a vertente bar a ganhar involuntário protagonismo, “a dar o sustento”.
O espaço é quase como um espelho da cerveja artesanal no que ela tem de “mais sustentável, ligada à terra, à economia local”, um aspecto com que Ricardo e Maria se identificam totalmente. Aqui, o reaproveitamento foi a palavra de ordem, a simplicidade o objectivo. Na sala de entrada — chamemos-lhe assim porque o balcão divide informalmente o Catraio em dois — está a montra da casa, com as estantes feitas de barrotes recuperados a exibirem as garrafas de todas as cervejas e no centro convivem mesas altas de madeira e metal resultantes de transformações várias. Há um frigorífico Philco antigo, recuperado, que é ponto de fotografias, e, sobre o balcão, de contraplacado e metal, antigas garrafas de cerveja das três primeiras décadas do século XX, com os rótulos gravados no vidro, são agora candeeiros. A sala das traseiras completa o espaço com mesas e cadeiras de madeira em sucessão.
É aqui que nomes como Amphora, Mean Sardine, Letra, Deusa, Maldita, Burguesa, Torre, Passarola, só para referir algumas portuguesas, ou Sierra Nevada, Flying Dog, Brewdog, Mikkeller e Samuel Smith, para espreitar as estrangeiras, ganham sentido em copos. A música está sempre presente, de acordo com o estado de espírito de quem está do lado de dentro do balcão. E para acompanhar não faltam petiscos, dos simples frutos secos às tábuas de queijos e mistas. Tudo para que no final faça sentido o que se lê num dos cartazes exibidos: “Everyone should believe in something. I believe I’ll have another beer.” Crenças são crenças — a cada um a sua.
- Nome
- Catraio - Craft Beer Shop
- Local
- Porto, Santo Ildefonso, Rua de Cedofeita, 256
- Telefone
- 934360070
- Horarios
- Segunda-feira e Terça-feira das 14:00 às 20:00
Quarta-feira e Quinta-feira das 16:00 às 00:00
Sexta-feira e Sábado das 14:30 às 02:00
- Website
- https://www.facebook.com/catraiobeershop