Fugas - restaurantes e bares

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  • João Pedro e Daniel, pai e filho, sócios do Ibo Restaurante
    João Pedro e Daniel, pai e filho, sócios do Ibo Restaurante Mara Carvalho
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Marisco português com memórias de Moçambique

Por Alexandra Prado Coelho ,

No Cais do Sodré, em Lisboa, uma marisqueira onde os melhores mariscos de Portugal surgem ao lado dos grandes camarões de Moçambique, com piri-piri e cerveja Laurentina. E um prego que quer “ser uma referência em Lisboa”.

É ali, à beira Tejo, nos antigos armazéns de sal do Cais do Sodré que o império Ibo está a crescer. E se a história do Ribamar (ver página anterior) está ligada à de Sesimbra, a do Ibo está ligada a Lisboa, claro, mas também a Moçambique — Ibo é a vila que dá nome à ilha moçambicana onde se encontra a Fortaleza de São João Baptista. E é também, como a do Ribamar, uma história de família.

Primeiro, em 2009, surgiu o restaurante Ibo, que rapidamente se tornou conhecido por fazer uma cozinha portuguesa com influências moçambicanas. Agora, encostado a ela mas virada para a praça do Cais Sodré, nasceu, no início de Fevereiro, a Ibo Marisqueira. E muito em breve surgirá, também ali ao lado, o Ibo Café, com uma gelataria.

João Pedro Pedrosa, 37 anos, proprietário (juntamente com o pai, Daniel Pedrosa Lopes) e responsável pela cozinha dos três espaços Ibo, recebe-nos na marisqueira — e é da marisqueira que, pelas melhores razões, vamos falar neste início de Verão.

Em cima da mesa está já um prato de presunto (ibérico de bolota, da marca Castro y González, com uma cura superior a 48 meses, o mesmo que, sublinha João Pedro, é servido na Casa Real espanhola) e umas (já famosas na cidade) “puntillitas”, as lulinhas bebés passadas por farinha de milho temperada com um bocadinho de pimenta e depois fritas (não esquecer de lhes deitar umas gotas de sumo de limão antes de as passar pela maionese).

Pouco depois é o pai de João Pedro que chega e junta-se a nós para o almoço. “O meu avô nasceu em Moçambique, o meu pai fez lá metade da sua vida e hoje ainda lá tem negócios”, conta João Pedro. Por isso, e apesar de não ter vivido em África, os sabores moçambicanos estiveram sempre presentes na sua infância. “Eram coisas que já fazia em casa, para os amigos.”

Quando abriram o Ibo — João Pedro teve outro restaurante no Algarve entre 2005 e 2008, altura em que o pai o desafiou a voltar para Lisboa e a fazer este projecto — foi de forma muito natural que as influências moçambicanas chegaram à cozinha. E rapidamente correu por Lisboa a notícia de que ali se comia um caril de caranguejo de chorar por mais.

Os anos passaram e recentemente surgiu a oportunidade de ocupar o espaço de outros armazéns, na parte de trás do Ibo, que tinham pertencido à Guarda Fiscal mas que estavam abandonados há já alguns anos — um deles, uma pequena casinha de madeira, foi entretanto classificado, e será aí que funcionará a gelataria.

Decidida a aposta numa marisqueira, João Pedro lançou-se a preparar a carta. “Quisemos apostar em produtos portugueses”, diz. “Os bivalves, por exemplo, são todos da ria Formosa, os percebes vêm das Berlengas ou de Vila do Bispo, o camarão é do Algarve, as sapateiras, santolas e lagostas são, todas, nacionais. Só o camarão-tigre e os carabineiros é que vêm de fora.” E, para que não haja dúvidas quanto à qualidade, é ver os animais nos viveiros da marisqueira.

Um dos principais trabalhos de quem quer abrir uma casa como esta é identificar os fornecedores. “Passámos muito tempo à procura dos melhores, porque há muitos fornecedores, mas poucos são bons. Por fim, conseguimos entrar no bolo dos que fornecem as melhores casas de Lisboa.”

No Ibo restaurante “há mais liberdade criativa”, explica João Pedro. A marisqueira quer-se mais tradicional. Mas há detalhes que não nos deixam esquecer que esta é uma família com uma forte relação com Moçambique: um deles é que encontramos sempre na Ibo três ou quatro variedades de piri-piri feito na casa com malagueta fresca.

O chef convida-nos a provar algumas das especialidades. Há sempre uma sopa de marisco e um creme. Provamos o de ervilhas com presunto, para o qual, explica João Pedro, aproveitam o osso do presunto que servem no restaurante. Chega depois um prato de camarão do Algarve (de Olhão) delicadamente cozido em água salgada, mas que mantém o seu sabor ligeiramente adocicado.

E depois uma impressionante travessa com “camarões de cabeça-cheia”, de Moçambique, que aqui podem ser cozinhados “à Nacional”, ou seja, à moda de uma conhecida cervejaria de Maputo no tempo em que a cidade se chamava Lourenço Marques. Postos a marinar de véspera com manteiga de alho, piri-piri e “algumas ervas”, vão depois para um forno com temperatura muito alta e são regados com cerveja. Todos os pratos com molho são acompanhados por um pão de mistura pensado especialmente para o efeito. Já as cascas de sapateira recheadas, por exemplo, vêm com pão fatiado fino e torrado.

Os preços variam muito. Entre os 88 euros dos carabineiros, e os 12 euros dos camarões à Guilho, há de tudo: casco de sapateira (14,90 euros), conquilhas (14,50 euros), sapateira (24,50), santola nacional (28,50), lavagante azul (65,80) ou a mariscada para duas pessoas (60,50), que inclui camarão cozido, amêijoa à Bulhão Pato, canilha, sapateira, camarão do Algarve e camarão à Guilho). Também as batatas fritas foram tratadas com a dignidade merecida — foi escolhida a variedade agria, mais indicada para a fritura.

João Pedro vai descrevendo os pratos e explicando o que mais existe e percebe-se bem o trabalho que pôs na elaboração da carta. Pai e filho querem fazer da casa uma referência do bom trabalho com mariscos em Lisboa. E não só mariscos, esclarece Daniel Pedrosa. Uma das ideias que têm para aqui é trabalhar também o peixe. “É difícil encontrar em Lisboa um espaço agradável e de qualidade onde se trabalhe bem o peixe”.

Para já, têm diariamente, para quem não gosta de marisco mas vem a acompanhar amigos, uma opção de peixe grelhado e um “lagareiro do dia”, que pode ser com bacalhau ou polvo. E há também arroz (42 euros), cataplana (44 euros) ou açorda de marisco (16 euros). E é possível que no futuro surjam mais variedades de peixes grelhados ou cozidos.

Falta ainda falar de um detalhe muitíssimo importante: o prego. Se comer um prego depois de uma pratada de marisco se tornou uma tradição para os portugueses, a marisqueira Ibo quer entrar neste campeonato para vencer. “Queremos fazer deste prego uma referência em Lisboa”, anuncia João Pedro. A carne é do pojadouro, “só os lombos, bem escolhidos”, e o pão é de mistura, muito leve. A acompanhar vêm dois tipos de mostarda à escolha. Mesmo para quem acha que é de mais um prego no final de uma refeição, este foi pensado para não pesar muito no estômago.

Para terminar (e se ainda houver estômago) as propostas são de gelados e doces tradicionais como o pudim Abade de Priscos (numa versão ligeiramente mais leve do que o habitual). E, para os verdadeiramente nostálgicos de comer marisco em Moçambique, há ainda uma surpresa: uma cerveja Laurentina, estupidamente gelada, para acompanhar.

Nome
IBO Marisqueira
Local
Lisboa, São Paulo, Rua Cintura do Porto de Lisboa, 22
Telefone
929308068
Horarios
Todos os dias das 12:30 às 00:00
Website
http://www.ibo-restaurante.pt/
Preço
35€
Cozinha
Marisco
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