Fugas - restaurantes e bares

  • Patrícia Martins
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É entrar e começar a viajar

Por Luís J. Santos ,

Bebe da história marinheira do Cais do Sodré. Absorve a cultura universal da viagem. Chama a porto seguro todos os viajantes. Basta entrar n’ A Viagem, nova petiscaria-bar alfacinha, para iniciar uma viagem, a de todos e cada um a sua. E nem é preciso bilhete, basta trazer um espírito viajante.

As portas abrem-se, uma gaiola tunisina está no ar (o pássaro não, deve ter viajado), estamos à meia-luz de velhos candeeiros de barcos. Um antiquíssima loja e armazém, há muito fechada, foi reinventada e reaproveitada, após décadas de portas fechadas. Agora é um acolhedor salão de estar onde se mantêm os sinais de outros tempos, os mosaicos, as paredes em pedra descarnada. Mas há mais sinais de outras eras, até, naturalmente, de outras geografias, por toda a casa, da decoração aos menus, da música aos eventos.

“Queremos trabalhar o tema das viagens de uma forma mais aprofundada”, partindo da “memória histórica do Cais do Sodré”, diz-nos Sebastião Braga, que com Nuno Ventura criou o espaço. Sebastião vem da filosofia — e aplica-se na cozinha; Nuno do design. Amigos há muito tempo, unem os seus conhecimentos para criar uma casa que quer ser um espaço de amizades, de tertúlias e encontros. Na verdade, a petiscaria-bar nasceu de um desejo de Nuno, que vive no bairro há seis anos e foi acompanhando a sua transformação. Encontrado um espaço e um parceiro, foi “mais de um ano” de trabalho até A Viagem ficar pronta a navegar.

Agora, pelo espaço, os olhos vão passeando por peças que, todas, parecem ter uma história para contar. Do piano francês à bicicleta inglesa, do balcão de bar construído com madeira de um velho cargueiro alemão aos candeeiros vindos de barcos ou ao relógio de submarino russo. Há até uma parede que serve de “gabinete de curiosidades”, esses pré-museus que noutros séculos encantavam ocidentais com peças exóticas trazidas de mundos desconhecidos.

“Aqui há viagens nossas, dos outros, da família, até pedimos a quem quiser para deixar peças”, diz-nos Sebastião, sendo que alguns materiais vieram de um “cemitério de barcos”. E, como “estamos a viajar no imaginário das viagens”, é ir descobrindo os itens, entre o facto e o mistério, de um papagaio chinês a um cavalo persa ou um camelo marroquino, da estátua da Guiné à mala de viagem do bisavô de Sebastião, de uma velha máquina fotográfica a areia do Sara… É todo um mundo. E, claro, pelas paredes não faltam mapas, muitos mapas.

O menu é também igualmente viajado, até porque, como nos sublinham, viajar e comer estão muito mais ligados do que alguns de nós suporíamos: a palavra viagem chegou-nos, via latim, da originária viatge do provençal, que significa algo como “provisão de mantimentos para o caminho”. Portanto, nada mais natural do que aliar a jornada aos petiscos. Aqui, a tiborna tem-se vindo a impor, com a sua base de pão e todo um universo de ingredientes e sabores. De uma tiborna selvagem com cogumelos ralados, especiarias, queijo da Ilha a uma tiborna tora com alheira, pêra, roquefort e hortelã. Há tibornas para todos os gostos e não faltam queijos e enchidos. Em alternativa, poderá seguir pelas conservas, aqui preparadas no momento com adições especiais. Para acompanhar os petiscos ou continuar a viajar de outras maneiras, a carta de bebidas também não falha, entre vinhos, cocktails ou lista variada de gins.

Um dos grandes destaques da programação do espaço são as noites temáticas, duas por mês, dedicadas a países. Cada noite assim tem um convidado especial, originário de um determinado país. E promete ser uma “viagem em si”. Viaja-se com música ou poesia, com gastronomia e bebidas relacionadas com dada região, com tertúlias. Por aqui, já se foi à Argentina, Bangladesh ou Palestina. E nos próximos meses ir-se-á a muitos mais sítios: na agenda deste mapa-múndi incluem-se Polónia, Angola, Moçambique, Brasil, França, Nepal ou Chile. “Queremos explorar a cultura através das viagens e dos viajantes. No fundo, somos todos viajantes hoje em dia, não é?”, atira Sebastião.

Para um fim de tarde a caminho de outra dimensão, ou para quem viaja por este novo Cais do Sodré, particularmente naquelas noites em que rebenta pelas costuras, uma coisa é certa: A Viagem é o porto seguro por que esperávamos.

Nome
A Viagem
Local
Lisboa, São Paulo, Travessa da Ribeira Nova, 30
Telefone
960069906
Horarios
Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 18:00 às 22:00
Website
https://www.facebook.com/aviagempetiscariabar
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