Há filmes musicados, concertos, poesia, conversas e instalações; em breve começarão “também a explorar o universos da performance”, vão organizar ateliers gratuitos onde cada um mostra o que sabe fazer, numa partilha de conhecimentos ao género de “escola informal”, vão enumerando cinco dos seis responsáveis pelo novo espaço.
Quando a companhia RE.AL se viu fora do financiamento da Direcção-Geral das Artes para 2015, João Fiadeiro, mentor do projecto artístico que mora no andar de cima desde 2005 como Atelier Real, “decidiu desfazer-se do bar” que abrira neste rés-do-chão em Setembro do ano passado. Para o grupo que agora se senta à nossa frente, todos ligados ao meio artístico e alguns ao atelier, “foi uma decisão muito rápida”. “Claro que vamos pegar nisto e dar uma continuidade àquilo que já existia, mas se calhar com mais força”, conta Luísa Barreto.
O Real fechou no final de Junho, o Irreal abriu a 17 de Julho. A troca de nome foi a escolha “mais óbvia”, porque a situação “só podia ser irreal”, porque queriam mostrar indignação e combate. “Se não querem que sejamos reais, então vamos ser irreais e juntarmo-nos mais associativamente, criando outra forma de gerir o espaço que não seja tão dependente do Estado”, recorda Marta Pereira. A “boa relação” com o Atelier mantém-se, mas agora é este colectivo que gere o bar e todos contribuem para a programação, que se “abriu a linhas novas”.
“Antes era mais um ponto de chegada, de apresentar produtos mais ou menos acabados ou de fácil desenvolvimento. Agora é um sítio de partida, um pouco como laboratório onde a gente se encontra e surgem coisas incríveis”, compara Candela Varas. “Acho que estamos todos bastante chateados com o que está a acontecer no mundo e a ideia é sermos também mais incómodos. Para fazer pensar, para criar coisas e dinâmicas novas, formas de organização diferentes”, acrescenta.
Quando não há eventos, o Irreal quer ser “um espaço de encontro”, de “conspiração também”, uma espécie de “sala de estar”, indica Bruno Humberto. “Há muita gente que faz essa comparação e acho que é uma coisa que queremos manter: a sensação de que podes vir cá não só para ver coisas mas também para conversar, sobre tudo e às vezes sobre nada”, diz Marta Pereira.
Os móveis antigos e usados dão-lhe esse aspecto de sala de estar, num ar despretensioso e aconchegante. É como se a casa dos avós se tivesse esvaziado dos pequenos objectos do dia-a-dia e as peças de mobília, desemparelhadas, tivessem sido (e são) reposicionadas conforme a necessidade, sem cuidado especial. A decoração é praticamente inexistente: uma almofada naquele assento, uma jarra com flores do campo acolá, no minifrigorífico uma folha de jornal com a fotografia de uma batata de raízes espigadas. Nada de supérfluo desvia as atenções do que é importante: o conteúdo. As conversas, as discussões, as conspirações, o encontro entre artistas, os múltiplos eventos.
Nem mesmo a comida ou a bebida, que existem essencialmente para pagar as contas e, de caminho, alimentar a criatividade de quem cá vem. Porque as ideias fluem melhor de barriga feliz. Os copos enchem-se principalmente de vinho, com a aposta numa selecção de rótulos portugueses, mas a carta inclui os clássicos habituais, da cerveja aos gins, das vodkas aos licores. Na ementa, reinam os petiscos. Há brusquetas de queijo brie com anchovas e rabanetes, de presunto de porco preto ibérico ou de abacate e tomate, sempre acompanhadas de rúcula e nozes. Há tábuas “barrocas e experimentais”, onde os queijos são acompanhados de arandos, damascos, ameixas, tâmaras, peras secas e uvas, por exemplo. Há alheiras, pires de salpicão, chouriço ou muxama e latas da Conserveira de Lisboa.
- Nome
- Irreal
- Local
- Lisboa, Santa Catarina, Rua do Poço dos Negros, 55
- Telefone
- 962650004
- Horarios
- Todos os dias das 18:00 às 00:00
- Website
- https://www.facebook.com/bar.irreal