Fugas - restaurantes e bares

  • Patrícia Martins
  • Patrícia Martins

Aqui cabe quase tudo, até um autocarro

Por Mara Gonçalves ,

Mal entramos, o olhar recai imediatamente sobre ele, de tão inusitado que é: entre uma zona de estar e outra, há um autocarro antigo estacionado. É tipicamente londrino, vermelho, de dois andares, e já tinha o piso inferior transformado em garrafeira quando ali fez 50 anos, em Abril.

O Beatus nasceu em Fevereiro na zona oriental de Lisboa e o autocarro, “comprado em Inglaterra” através do eBay e ainda a funcionar, era “um elemento diferenciador”, conta Carlos Moreira, o responsável pelo espaço. No interior, há garrafas e garrafas de vinho, deitadas sobre prateleiras ou em caixas de madeira, que podem ser consumidas ali ou adquiridas para beber em casa.

O vinho é, por isso, a grande aposta do Beatus no sector das bebidas, com quase 100 referências em carta; para já todas de produtores portugueses, entre tintos, brancos, rosés, verdes e espumantes. Para quem não for apreciador ou preferir cerveja, tem diferentes marcas artesanais à escolha (não há Super Bock nem Sagres, para “ser diferente” e porque “já se faz cerveja artesanal muito boa”, justifica o responsável).

Mas o Beatus – com quase 700 metros de área total, entre chão e mezanino – é também um restaurante de tapas e grelhados, mercearia, biblioteca, palco de concertos, escola de música e, no futuro, tantas outras coisas quantas as oportunidades e a imaginação. Mas já lá voltamos. Para já, o foco está na componente gastronómica, “que não é irrepreensível ou de autor, é comida portuguesa”.

Há tapas de bacalhau e torresmos com tomate, mix de enchidos com feijão manteiga ou de grão de bico em vinha d’alhos. Há peixinhos da horta, pataniscas e pica pau de porco ou de vaca. Nos pratos do dia, além do bacalhau à Beatus, dos choquinhos grelhados ou dos carapaus fritos, a oferta completa-se com grelhados — “introduzidos há cerca de dois meses” — entre plumas de porco preto, espetadas mirandesas, carne maronesa ou bifinhos de porco. Às sextas e aos sábados, há ainda leitão assado no espeto à moda da Bairrada.

No entanto, a cozinha não será “estanque”, garante Carlos Moreira. “Para sermos diferentes, temos de estar sempre a inventar qualquer coisa e acho que é por aí que passa o sucesso da casa.” Uma capacidade de invenção que vai alterando a carta mas também o espaço, que se quer “diferente e completamente despreocupado”.

O antigo armazém mantém o chão original de rosa coçado e o ar industrial vai sendo recheado de mobiliário antigo, criando diferentes ambientes. À entrada, fica a zona de bar e tapas, junto ao palco onde todas as sextas e sábados há concertos (“jazz, blues, música portuguesa, covers... o que for, não é quadrado”). Passamos, à direita, pelo autocarro-garrafeira e, à esquerda, pela mercearia (com caixas de frutas e legumes, uma escrivaninha de licores e compotas, um armário de conservas); e chegamos a outra zona de restauração, pensada para “as pessoas que não gostam tanto de ouvir música ou para grupos mais musculados”.

Em breve, esta área – com ares de restaurante rústico, com cadeiras antigas desemparelhadas, serigrafias e tapetes nas paredes – deverá ser dividida, criando um “terceiro ambiente”, “mais cosy”. “Queremos pôr uns biombos com portas antigas, mudar para mesas redondas e com empratamento à antiga”, descreve Carlos.

No mezanino, há para já uma box de madeira que funciona como escola de música – “um professor dá aulas de bateria, baixo e guitarra e a ideia é envolvermos os alunos, numa fase posterior, em tardes ou noites de jam session” – e uma biblioteca de livros antigos, alguns doados pelos próprios clientes. “Oferecem-nos imensas coisas, o que é giro”, conta. Houve quem trouxesse máquinas de costura, um ferro de engomar antigo, serigrafias, quadros, “uma caixa de pão muito gira”.

No entanto, a parte de cima do espaço é a “que falta consolidar”, grande parte ainda vazia. “Gostava de ter coisas completamente diferentes”, revela o responsável, enumerando o que imaginamos ser apenas a ponta de um icebergue de ideias: “um barbeiro daqueles mesmo à moda antiga”, “pessoal a fazer tatuagens”, um “restaurante de comidas do mundo”. Já para o nível superior do autocarro, o conceito passará brevemente por “jantares gourmet”, para um máximo de 14 pessoas. “Tem os bancos de origem, então a ideia era ter ali um cozinheiro a fazer comida num ambiente diferente e reservado”. Ideias e espaço não faltam. É só uma questão de “ir criando apontamentos e mais apontamentos”, resume.

Nome
Beatus
Local
Lisboa, Beato, Rua Acácio Barreiro, 3
Telefone
215953156
Horarios
e das 11:00 às 02:00
Website
http://www.beatus.pt/
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