A cozinha de técnica apurada e de elevado padrão gastronómico não tem que ser uma coisa complicada ou só para ocasiões especiais. Nem precisa. Basta que haja gosto e critério, que formalismo e protocolo são matérias já de um outro capítulo.
É exactamente isso que se passa no Bistrô4, o restaurante do PortoBay Liberdade, o hotel que no início deste ano abriu portas no centro de Lisboa. Um conceito onde o cuidado e critério gastronómico convive com um ambiente menos formal e — muito importante — preços contidos. Um estilo que os franceses designam por “bistronomia”, ou seja, associando a lógica de sabor, bebidas e descontracção de um bistrot ao apuro culinário dos restaurantes gastronómicos. O melhor de dois mundos num só espaço. Tudo com a chancela de Benoît Sinthon, o chef que supervisiona as cozinhas do grupo PortoBay e deu à Madeira a sua primeira e única estrela Michelin.
No Bistrô4 a brigada dos fogões é comandada por João Espírito Santo, que há muito vinha coadjuvando o chef de origem francesa. Ambos conceberam e prepararam as propostas e o conceito lisboeta, um estilo que Benoît aspira ver também aplicado no Funchal, como complemento ao estrelado Il Gallo d’Oro. Há, primeiro, que fazer obras e puxá-lo mais para o lado da rua, com acesso próprio que permita dissociá-lo da exclusividade dos hóspedes do hotel.
A par de um conjunto de petiscos, quentes e frios, no novo restaurante lisboeta há também alargada oferta de vinhos a copo e outro tipo de bebidas, uma lista com propostas de temporada e um menu com pratos de confecção mais elaborada.
Com a distância de três semanas, a Fugas sentou-se por duas vezes, numa ao almoço e na outra ao jantar, para saborear as propostas do Bristô4.
Primorosos os “peixinhos da horta e do mar” (9,50€), uma versão onde aos tradicionais vegetais envoltos em polme crocante se associam também porções de espécies piscícolas como o camarão e peixe-espada, que se identificaram. À parte, numa lata de conserva, um molho tartar.
Um ar da gastronomia insular com as “lapas na frigideira” (14,50€), uma cuidada e generosa mostra do petisco, madeirense no caso, que, claro, chega à mesa na elegante frigideira de ferro em que vai ao fogo. Com manteiga, alho e limão. E bolo do caco, pois então!
Ainda no capítulo de “entradas — o apetite nasce à mesa”, muito elegante e saboroso o puré de grão sobre o qual vinha também uma mostra de salada (grão, cebola, pimento, salsa e vinagreta) que acompanhava as três bolinhas de croquete de alheira banal (10€).
Entre os “petiscos quentes”, a escolha recaiu sobre uns muito interessantes peitos de codorniz panados com o que parecia ser amendoim e coco. Crocantes e fofos, com sabores potenciados por um molho de amendoim, ao estilo da cozinha Cajun.
Dos “pratos principais — barriga vazia não conhece alegria”, a opção foi para “peixe e conchas” (18,50€), uma espécie de aprimorada caldeirada com amêijoa, berbigão e uma posta de peixe (pareceu garoupa) e um caldo delicado e apurado a dar sabor à batata, cenoura e feijão verde. Tudo muito delicado e de cuidada cozedura, servido num elegante tachinho preto (Le Creuset). Belo efeito!
Também servido na frigideira negra o “entrecôte na grelha” (20,50€). Tratamento culinário sem mácula, carne macia, suculenta e aromática, que acompanha com cebola caramelizada, cogumelos e batata assada. O mesmo rigor e critério com a “bochecha de vitela confitada” (19€).
Nas sobremesas, aplauso unânime para o “choc ‘snick’ ben” (6,50€) e o “couscous de coco” (6,50€), um jogo de sabores, contrastes e equilíbrio de grande mestria, e muito boa surpresa com a “vacherin de mango e framboesas” (5,50€). A fruta tropical coroada com suspiros e a acolher no meio o fruto vermelho, tendo-se prescindido do chantilly. Sabor, frescura e belo efeito visual.
Cozinha requintada
Para além das propostas e petiscos e do menu fixo há uma carta de época, que por estes dias oferece coisas como “terrina de beringela com tapenade, camarão na brasa, tomate e basílico”, “lulas recheadas com chouriço, arroz malandro, tinta de choco e coentros”, “peixes da costa em crosta de germolata, alcachofra e legumes” ou “barriga de leitão crocante, quinoa com frutos secos e molho mostarda em grão”.
Bem interessante a proposta de almoço executivo (22€) que funciona durante os dias de semana. Inclui duas opções para entrada, prato principal, sobremesa e ainda o café.
A par da cozinha requintada, a experiência gastronómica no Bistrô4 inclui também uma criteriosa e abrangente carta de vinhos, sobretudo baseada na boa produção nacional. Destaque para a abrangência da oferta a copo e para os Madeira, com qualidade e variedade que não é comum fora da região autónoma.
Apesar do evidente propósito de descontracção e informalidade, o ambiente é cuidado e requintado. Sala ampla com bancos corridos nas zonas laterais e espelhos a meia altura nas paredes e coluna central que alargam a sensação de luminosidade e amplitude. À entrada, no corredor de acesso, toda a parede foi transformada em elegante garrafeira onde os vinhos repousam em condições e à temperatura ideal.
Há também um convidativo terraço, que em tempo adequado parece merecer a preferência da clientela. Ali se diz que foram já “cozinhadas” muitas das intrigas políticas e negócios de finança do último Verão, atentas as personalidades que nesse período foram frequentando o espaço nas horas de refeição.
Mas isso é matéria de má-língua, já que no que ao Bistrô4 se refere há apenas que dizer que é espaço de gosto, critério e bons apetites. Em ambiente requintado e descontraído, serviço profissional, gentil e eficiente.
- Nome
- Bistrô4
- Local
- Lisboa, Coração de Jesus, Rua Rosa Araújo, 8
- Telefone
- 210015700
- Horarios
- Todos os dias das 12:00 às 15:00 e das 19:00 às 23:00
- Website
- http://www.bistro4restaurant.com/
- Preço
- 40€
- Cozinha
- Autor