O que podem ter em comum azulejos, champanhe e gin? Se os dois últimos são bebidas — da moda —, os azulejos podem parecer incongruentes na equação Tiles Champagne & Gin Club. Mas só enquanto não se conhece o local escolhido para instalar um bar onde as duas bebidas são rainhas, rodeadas de uma grande corte: na Rua de José Falcão, o número 199 não passa despercebido.
Mesmo para quem não se detém na observação dos números das portas: é o edifício neo-árabe revestido a azulejos policromados, lisos ou em relevo, onde se desenham portas e janelas que culminam em arcos em ferradura ou de volta perfeita, encaixes de rosáceas, e eles próprios cercados de arabescos de azulejo.
Foi depósito e montra da Fábrica de Cerâmica das Devesas (Gaia) e agora é uma espécie de complexo de lazer. O rés-do-chão já estava duplamente ocupado por diferentes projectos, o primeiro andar (e seguinte) transformou-se num enorme salão, onde os elementos neo-árabes convivem com uma decoração mais clássica — poderíamos aqui falar do club no sentido inglês dos clubes de cavalheiros; porém, poderíamos falar de club também em termos de discoteca: os espaços vazios parecem apelar a vários pés de dança.
Não só os espaços vazios, o próprio horário de funcionamento: só abre às sextas e sábados, às 23h. Esta é uma situação que, contudo, deverá mudar durante este mês de Novembro, no que, a acontecer, será um regresso às origens, como conta a gerente, Daniela Barreira. “A ideia inicial era abrir todos os dias menos às segundas-feiras, durante o dia e à noite.” No entanto, depararam-se com a situação de terem uma entrada dividida com dois espaços cuja música os “eclipsa” e de terem calculado mal o timing da abertura, no sentido de terem aberto “numa altura de bom tempo, quando as pessoas procuram mais esplanadas” — a 13 de Junho. Não durou muito, esse primeiro fôlego do Tiles Champagne & Gin Club, que fechou para reabrir a 19 de Setembro, ainda “a meio gás”.
A meio gás mas com a determinação de impor uma nova febre de sábado à noite na Baixa portuense, a noite forte do Tiles Champagne & Gin Club, de acordo com a análise de Daniela Barreira, e, portanto, a noite escolhida para festas temáticas. Uma é constante, no terceiro sábado do mês, e é uma espécie de momento “a menina dança?”, versão salsa — na Gin Salsa/Latin Party, a animação é da responsabilidade da Dancetime, a música do DJ Guerreiro e o resultado é uma festa estilo danças de salão que traz um público ecléctico ao bar. E, mensalmente, espere-se também um sábado de nostalgia — dos anos 1980 e 90, sobretudo (já passou por aqui a festa itinerante Remember Bacalhau — bar que marcou o Porto nos anos 80 e 90) e outro de house, old & new, como anunciam os cartazes. E há também espaço para os jokers, as festas ocasionais como a do sábado a seguir à nossa visita, a “Tiles Fashion Party” que lançava o repto “Sabes ser chic?” e guardava no menu musical house com acompanhamento de saxofone.
Nós viemos numa sexta-feira, a rasar o horário da abertura, a música a arrancar com o DJ Mário R, o residente, que nos brindou com uma mescla onde couberam U2, Simple Minds, Cindy Lauper, por exemplo. À sexta-feira não há festas especiais, mas é “gin o’clock”, o que significa promoção especial: bebe três, paga dois. Também não há consumo mínimo, embora haja cartão à entrada, e o movimento é mais pendular. O que, na verdade, proporciona os melhores momentos para admirar o espaço, que se abre amplo e com um pé direito desmesurado — e foi este espaço que entusiasmou José Manuel Barreira, tio de Daniela e pugilista do Boavista, e o levou a abrir o Tiles Champagne & Gin Club.
Subimos escadas de vidro fosco para ir logo de encontro à mesa do DJ, que, na realidade, está no ponto de charneira do salão — de onde sai nova escadaria do mesmo material leve e que em breve irá conduzir a um restaurante, na mansarda do edifício. Do que vemos, há apenas três constantes — além das arquitectónicas, donde sobressaem os tectos estucados e a fachada com janelas altas e uma porta-janela com as “molduras” brancas ao estilo neo-árabe e painéis de azulejos: os dois balcões (que podem ser vistos como três se contarmos com o facto de a escadaria cortar um deles a meio), cada qual nas extremidades do espaço e um recanto que dá para uma varanda nas traseiras (com vista para um pátio árabe, parte de outro bar) onde se alinham sofás rasos. Tudo o resto na decoração não tem lugar fixo. “Nunca tinha visto esta disposição”, admite Daniela. Esta noite, isto significa que a “sala” que se organiza num recanto, sob um candeeiro no mais puro estilo árabe (foi feito especialmente para aqui, em Marrocos, mas fazê-lo entrar foi o aspecto mais caricato da montagem do bar) e em torno de uma lareira embutida na parede cinza escura, é um acaso. Hoje está feita de ilhas de sofás, canapés e cadeirões a rodear mesas baixas espelhadas, amanhã tudo poderá estar mudado. Poderia estar mais despojada. Pelo contrário, o espaço principal, poderia ter menos espaço livre — o único ocupado é rente à fachada — entre os balcões. E, nestes, há que referir o do “champanhe” (domina, mas não é a única bebida aí servida), cujo interior é integralmente ocupado por um armário, herança de outras encarnações, em madeira e vidro que funciona como um mostruário de garrafas contra o fundo branco iluminado. No outro extremo, há o balcão do gin e o das cervejas (Heineken de pressão, mas vemos, por exemplo, Desperados) et al. E se o champanhe e o gin dão o nome à casa, as sangrias de espumante são estrelas nada secundárias – Daniela destaca-as.tiles champagne & gin club.
- Nome
- Tiles Champagne & Gin Club
- Local
- Porto, Vitória, Rua José Falcão, 199 - 1º
- Telefone
- 0
- Horarios
- Sexta-feira e Sábado das 23:00 às 04:00
