Fugas - restaurantes e bares

  • Ricardo Campos
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Na nova casa de Hernâni há sátira, vinho e muito soul

Por Mara Gonçalves ,

Dois anos depois de abrir o Funky na Lx Factory, Hernâni Miguel, figura incontornável da noite lisboeta, lançou-se num novo projecto no Cais do Sodré: um tabernáculo moderno com muito passado e soul dentro.

É o mais recente projecto de Hernâni Miguel — figura incontornável da noite lisboeta (o Targus, no Bairro Alto dos anos 1990, continua a ser o carimbo maior do cardápio de bares que fundou e geriu desde a década de 1980) — e foi sendo construído “à sua imagem”: “um tabernáculo moderno, com muito soul, sátira, música com qualidade acima da média e um ambiente quente”. No fundo, “um espaço com alma”, define. 

O nome saiu-lhe logo, mal viu toda a casa, então devoluta. Já conhecia o espaço dos tempos de miúdo, quando ali existia uma “loja de solas e de cabedais” onde ia comprar piões, cintos ou arranjar os sapatos, mas não conhecia a parte de dentro. Lá ao fundo, à esquerda, escondia-se uma sala escura e húmida, de paredes e arcos de pedra, datada de 1500. “Achei que fazia todo o sentido fazer aqui uma taberna, uma vinharia ou algo semelhante”, conta. A ideia nascia ali. Agora, “a gruta”, como lhe chama, é uma sala dedicada aos vinhos da Bacalhôa, com prateleiras de garrafas e mesas feitas de barris, onde no final do mês vão começar a realizar-se “cursos rápidos para quem queira saber um pouco mais sobre vinho” e, a partir de Março, sessões de prova às quintas-feiras.

Já para a ala principal do Tabernáculo, Hernâni quis que fosse como se estivéssemos “no prolongamento da nossa casa, na sala de estar”. Trouxe móveis antigos de madeira, de estilos diferentes, mesas largas para estimular o convívio, e a decoração foi surgindo peça a peça, “muito lentamente porque não sabia como é que havia de fazer o bar”, recorda. 

Primeiro, grandes posters da Gaiola Aberta, do cartoonista José Vilhena (que viria a falecer semanas depois), de seguida os quadros de José Malhoa, na reinterpretação em banda desenhada de Jorge Miguel. Entretanto, as paredes foram-se cobrindo de frases icónicas de Clarice Lispector, Charlie Chaplin, Gandhi ou Martin Luther King e a entrada encheu-se de música, com capas de vinil a envolver o balcão (elemento que já tínhamos visto no seu último projecto, o Funky, na Lx Factory) e a ampliação de uma das fotografias mais icónicas da história do jazz: A Great Day in Harlem, de Art Kane, 57 dos maiores músicos de sempre ali alinhados a preto e branco, no ido Verão de 1958. 

É, por isso, muito soul, jazz, blues ou funk que se ouve rodar continuamente em banda sonora, às vezes “algum hip hop ou R&B muito bem escolhido, fado, guitarra portuguesa, música de Cabo Verde, da Guiné, de Angola”. “Tem é que ter alguma alma, senão não toca”, resume. E, a partir de Março, o final das tardes de quinta-feira será ainda de fado vadio.

Já o conceito ia construído quando chegou à conclusão de que o Tabernáculo “tinha de ser mais do que um bar” e juntou-lhe uns petiscos: tábuas de queijo e mistas, salada de polvo, conservas e dois pratos de bacalhau da casa (com amêndoas e passas e com gambas e espinafres), entre outras iguarias. De tempos a tempos, são organizados jantares temáticos para grupos, com “viagens” a países africanos (o próximo, com sabores de Cabo Verde, acontece dia 22; as restantes datas vão sendo anunciadas na página de Facebook).

Nome
Tabernáculo
Local
Lisboa, São Paulo, Rua de São Paulo, 218
Telefone
213 470 216
Horarios
Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 14:00 às 02:00
Website
https://www.facebook.com/tabernaculobyhernani
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