O restaurante Quinta dos Sabores, também em Rabo de Peixe, abriu em Agosto de 2014, depois de os proprietários, Inês Sá da Bandeira e Paulo Decq, os dois na casa dos 40 anos, terem estado durante algum tempo a pensar na ideia. Viviam no continente: ela trabalhava numa Quinta Pedagógica, a Herdade das Parchanas, em Alcácer do Sal; ele era sociólogo e trabalhava no Conselho Nacional da Juventude. Decidiram ir para São Miguel em 2001 e deitar mãos ao projecto de recuperar a quinta doada pela família de Paulo. Primeiro começaram pela casa, depois foi desbravar a quinta, “que estava uma verdadeira selva”, conta Inês. Dedicaram-se à agricultura e hoje fazem cabazes com as variedades hortícolas. Há 15 anos que é “assim”.
Final da manhã de um dia de Inverno e encontramos Paulo Decq no meio do campo a criar adubo. Camisa cheia de terra, ele vem entusiasmado receber-nos. Inês também está vestida com roupa do campo, toda de azul, botas de borracha altas. Mostra-nos as estufas onde estão a germinar o que virão a ser alfaces, rúculas, mostardas, acelgas, todas em fila com um desenho simétrico.
“Sempre tivemos o sonho de ter um espaço como este”, conta Inês. O projecto começou por ser, primeiro, de agricultura. Chegaram a vender na praça bouquets de alfaces para se oferecer como se oferecem ramos de flores, mas a ideia não pegou. Vendiam, claro, os seus produtos da terra.
A ideia do restaurante veio depois até se concretizar neste conceito “da quinta para a mesa” – o que aqui é literal. “À medida que fomos sendo agricultores começámos a perceber que havia imensa coisa que não conseguíamos escoar, também não tínhamos quantidades suficientes para ir para os supermercados. Sempre quisemos ter uma cozinha licenciada para puder fazer chutneys, pickles, compotas e transformar os produtos. Ao fim destes anos todos, depois de passar um ano burocrático terrível, conseguimos finalmente pôr este sonho de pé.”
Queriam um restaurante pequeno, mas com qualidade: em grupos separados, não cabem mais de 25 pessoas. O lugar foi pensado para ser acolhedor. Por isso recebem os clientes com lareira acesa, no Inverno, música a conjugar com o ambiente calmo. A sala de jantar também podia ser sala de estar de uma casa de família. Aliás, os objectos que ali têm foram trazidos de casas dos familiares.
Depois à mesa chegam vários pratos, mas não se espere um menu degustativo tradicional: espere-se mais “uma espécie de refeição formal como se estivéssemos numa casa de família antiga”, um “jantar de cerimónia” mas “onde as pessoas podem estar num ambiente informal e descontraído”.
Na cozinha estão Tiago, um jovem de 22 anos, que saiu da escola de hotelaria, e uma cozinheira açoriana nos seus 40 anos, Graça. A servir à mesa está o filho de Inês, Pedro, de 21 anos.
“Gostamos de proporcionar o momento inesquecível às pessoas, esforçamo-nos imenso para isso. Este menu é uma maneira de as pessoas saírem satisfeitas, provam um bocadinho de tudo, o peixe e carne dos Açores cozinhados de formas diferentes.”
O criador dos pratos é Paulo Decq, com recurso a receitas familiares de ambos os lados. O total são cinco pratos, exactamente como Inês se lembra de ver em casa da avô quando ela recebia alguém importante: uma entrada, sopa, prato de peixe, prato de carne, sobremesa. Hoje o menu que nos servem é “muito contemporâneo”, com aquilo que “os Açores têm de bom”: chicharro, peixe típico do arquipélago, com marinada e vinagretes especiais e as variedades de saladas que crescem na quinta; sopa de ervilhas, filete de peixe-porco, com um molho que Paulo Decq foi buscar à cozinha francesa, e umas cenourinhas mais do que bebés; depois veio lombo e um gelado de beterraba em abacate.
Todas as verduras vêm da quinta, o resto, especialmente a carne e o peixe, são produtos locais. “Temos grande variedade, não temos é grande quantidade; podemos ter uma data de cenouras durante duas semanas e depois acabam e temos outro produto. Trabalhamos muito com a natureza, tentamos fazer um aproveitamento de tudo, transformar toda a matéria orgânica da quinta em coisas boas para a terra”, diz Inês.
Às receitas de família juntam-se as receitas da necessidade. Por exemplo, no ano passado tiveram imensas favas. Resultado, criaram pratos novos com favas para escoar a produção.
Uma coisa é certa: Inês e Paulo não querem competir com os restaurantes locais. Quem chega à Quinta dos Sabores entra um pouco na história das famílias Decq e Sá da Bandeira, e na história das famílias e dos produtos portugueses.
- Nome
- Quinta dos Sabores
- Local
- Ribeira Grande, Rabo de Peixe, Caminho da Selada, 10,
- Telefone
- 917003020
- Preço
- 30€
- Observações
- Reservas/encomendas: mínimo de 4h de antecedência