Fugas - restaurantes e bares

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Vintage para beber, comer, ver e vestir

Por Andreia Marques Pereira ,

Entre connosco neste Armazém muito especial do Porto. Um cenário preparado para bons dias e ricas noites.

O que fazer a um armazém com 1500 metros quadrados de área? A resposta não foi um quebra-cabeças para Raquel e Batata Cerqueira Gomes: um Armazém, pois claro. Um armazém que a passos poderia ser um sótão, daqueles onde entramos como quem entra num navio afundado em busca de tesouros — aqui, objectos tocados pela patine do tempo, a obsolescência trocada pela estética; a outros passos é uma galeria de arte; e a outros ainda (1500 são muitos metros quadrados), loja(s) de autor. E no centro de tudo uma grande lareira que serve o bar e quem quiser embrenhar-se neste espaço em bruto onde a estrutura está em carne viva — e não poderia ser de outra maneira.

Podemos chamar-lhe espaço multifuncional, porque o é, mas o Armazém é sobretudo um aglutinador de pessoas — e de animais, como veremos. É um espaço que se deixa descobrir naturalmente — isto depois de nos puxar para dentro com um exterior que é tudo menos discreto, tudo menos ortodoxo. Então, estamos em Miragaia, com a Alfândega do Porto do outro lado da rua, que está, digamos, num andar superior.

Por estas arcadas e praças caminhamos até ao Armazém: numa esquina (de uma praça e antes de mais uma fileira de arcadas, claro), muro alto e rede a subir mais, portão escancarado para um pátio-jardim que parece chegado de outras latitudes.

No cimo, outro grande portão e a entrada no armazém, propriamente dito, que já foi da Real Companhia Velha, de uma drogaria, mais recentemente, parte do atelier de Paulo Lobo (continua a trabalhar ali ao lado) que foi quem sugeriu ao casal ficar com o espaço. 

Já entraremos, então, nesse espaço que imediatamente apaixonou o casal de antiquários (“pensámos logo em fazer um espaço multicultural”, recorda Raquel), primeiro deixemo-nos levar por esta esplanada — e o único ponto negativo é a chuva que em finais de Janeiro não a deixa ser desfrutada (por pessoas e por animais: há um lounge para estes, com direito a cama, colchão e bebedouro de pedra — “percebi que ao fim-de-semana há muitas famílias a passear com os animais”, explica Raquel, contando que um dia apareceu até um lobo, pela trela do dono).

Está disposta em socalcos (aproveitemos o passado vínico), cada um debruado de vasos que delimitam uma espécie de pátios com mobiliário a condizer: mesas e cadeiras de madeira, algumas baixas, outras altas (e até compridas ao estilo germânico), e encostado à parede do armazém um pequeno bar exterior cujo balcão assenta em ferro forjado que já pertenceu a uma varanda.

E falamos de tudo o que a esplanada tem ignorando o incontornável: a parede branca do armazém salpicada de cadeiras coloridas é mais uma intervenção artística do que outra coisa.

Nestes dias de Inverno, o grande portão principal pode estar fechado, para evitar correntes de ar, mas um néon a várias cores desenha a palavra open para chamar a atenção de quem passa. 

Há quem hesite (um grupo de jovens olha sem perceber bem), há quem lá passe a tarde a trabalhar: na mesa corrida bem diante da lareira, computador aberto, música de fundo, televisão sem som. É a lareira o ponto nevrálgico deste armazém, pelo menos nestes dias de Inverno. Está na zona do bar e é como uma ilha de metal rodeada de espaço por todo o lado, ou não tivesse sido construída aproveitando um dos muitos pilares de pedra que sustêm o pé direito desmesurado (excepto na parte em que há um mezanino, não aproveitado) que termina em traves de madeira com as telhas logo por cima.

Todo o Armazém é assim, cru, descarnado, cheio de arcadas de pedra, rusticamente vintage na decoração (tudo está à venda — são peças da loja R&B, de Raquel e Batata, que também se transferiu para aqui), onde não faltam objectos de antanho a que se pretendem dar novos usos.

Ficamos por enquanto no bar: o balcão é novo mas feito com madeira antiga, para condizer com os móveis no interior, originais, vindos de uma antiga mercearia e agora cheios de vinhos (Sogrape, apenas), que se combinam com petiscos que vão de sopas a wraps, enchidos, queijos, conservas, bruschettas, empadas e se completam com o bolo do dia (hoje parte de chocolate).

As mesas compridas de madeira, ao estilo piquenique, a puxar ao convívio mesmo entre desconhecidos, estão logo diante, e do outro lado da lareira é uma sala de estar que se estende, com sofás castanhos, retro, que se alinham em torno de uma enorme mesa baixa, redonda, carregada de revistas, tudo sobre grandes tapetões gastos, que cobrem o solo de cimento.

Um pouco afastado está uma “conversadeira” vermelha, sobre tapete da mesma cor — e mais uma vez parece uma instalação. Mas não o é — como tão-pouco é uma peça de exposição a mesa feita sobre carris antigos de minas instalada na área contígua, já na órbita da galeria Arte Provisória (durante este mês recebe a exposição colectiva Espaços): quando há grandes eventos aqui (e essa é uma das vocações do Armazém) pode servir, por exemplo, para mesa de buffet


Se o bar-restaurante é uma âncora, o Armazém não se resume a este. Há lojas já instaladas, outras que ainda virão. O único requisito é serem lojas de autor, como a Mexxca, de roupa, a SF - Sofia Ferreira, jóias, e a R&B, o antiquário dos mentores do projecto, que, já vimos, salta do espaço que tem reservado e espalha-se por todo o armazém com os seus móveis e outros objectos vintage (veja-se o índio esculpido que é sentinela à beira da lareira ou a scooter que não está longe), roupas e livros (novos e usados), vinis e até um gira-discos com auscultadores onde os clientes podem ouvir o disco antes de o comprar.

O objectivo de tudo é, diz Raquel, que as pessoas consigam passar um bom bocado aqui, onde ao fim-de-semana não falta animação, de workshops a concertos, passando, por exemplo, por feira de velharias e vintage, como a que aconteceu no fim-de-semana passado. É, aliás, o local ideal para tal, uma vez que, mesmo em dias “normais”, sem muito esforço de imaginação, às vezes parece que estamos num daqueles sótãos cheios de memórias e “tesouros” para vários gostos. Apenas não é um sótão, é um Armazém. Que é também uma espécie de ovni.

Nome
Armazém
Local
Porto, Miragaia, Rua de Miragaia, 93
Telefone
222011702
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